#naestradaparafatima. A Renascença caminhou com peregrinos para Fátima

02 mai, 2017 - 21:26 • Olímpia Mairos

A repórter Olímpia Mairos acompanhou um grupo de peregrinos que partiu de Chaves rumo ao Santuário de Fátima. Foram 370 quilómetros, percorridos durante 10 dias. Veja ou reveja o diário da peregrinação.

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Dia 11 – Chegada

Unidos partiram, mais unidos chegaram ao santuário de Fátima.

A Associação de Peregrinos Flavienses chegou finalmente ao regaço de Nossa Senhora.

Sorrisos com lágrimas e abraços à mistura ritmaram a emoção impossível de conter.

Sob o olhar da Senhora de Fátima, na escadaria da basílica de Nossa Senhora do Rosário, os peregrinos perpetuaram para futura memória o momento alto desta grande e intensa peregrinação.

Prontos para a fotografia? E click! Feito!

O mais importante fica guardado no coração...

Foram dez dias e 370 quilómetros, percorridos a pé, sempre em grande cumplicidade e solidariedade.

De Chaves saíram 63 peregrinos é só um foi para casa mais cedo, devido a um pequeno entorse.

Neste momento os peregrinos que partiram de Chaves preparam-se para viver as celebrações do Centenário.

Dia 10. “Sai caro, mas tem dignidade”

Os peregrinos que saíram de Chaves, na madrugada do dia 2 de Maio, só em estadia vão gastar quatrocentos e sessenta euros. As refeições são à parte e apenas o pequeno-almoço veio de casa e é partilhado.

“Não é barato. Tudo tem os seus custos”, refere à Renascença o presidente da Associação dos Peregrinos Flavienses, Fernando Moura.

“Nós optamos por uma situação mais digna e de mais conforto, pois já é penoso tantos dias e tantos quilómetros de caminhada, ao sol e à chuva”, explica o presidente.

Já basta o “sacrifício” das dores e os “pés massacrados”, desabafa Fernando Moura, considerando que “os peregrinos merecem descansar bem, para poderem retomar a caminhada com outro vigor e chegar ao destino”.

O grupo é especial. É um grupo bem organizado, coeso, ordeiro, solidário e amigo. Os que vieram pela primeira vez “integram-se bem”, realça o responsável.

Esta Associação de Peregrinos conta com vários apoios de gente anónima, da autarquia de Chaves e de alguns empresários.

É o caso de Alcídeo Mesquita, também peregrino com a esposa, que empresta a carrinha que serve para o transporte da bagagem dos peregrinos.

“É por uma boa causa”, diz Mesquita, como é chamado no grupo, frisando que gosta de ajudar e “esta associação está muito bem organizada e merece”.

O grupo de peregrinos proveniente de Chaves já percorreu cerca de 330 quilómetros e integra pessoas de Boticas, Chaves, Montalegre, Valpaços, Murça, Vila Real, Mondim de Basto e Póvoa de Lanhoso.

Dia 9. "É o meu alimento para o ano todo"

Manuel Marinheiro, 59 anos, polícia por profissão, peregrino por devoção. Há 14 anos que faz a pé o caminho de Chaves a Fátima.

A primeira aventura aconteceu fruto de uma promessa, em 1986. A mulher de Marinheiro estava com problemas na gravidez. Foi-lhe dito que o filho nasceria morto ou morreria ao nascer. Uma angustiante situação que Marinheiro teve de guardar apenas para si e que entregou a Nossa Senhora.

Só passados treze anos, em 1999, quando Marinheiro pôde escolher o seu tempo de férias, é que cumpriu a promessa.

O filho, que "estava predestinado a nascer morto ou morrer à nascença, tem agora 30 anos", diz Marinheiro, com a voz embargada e os olhos cheios de água.

E prossegue "a primeira coisa que disse, quando cheguei a Fátima foi: "hei-de cá voltar". E esta é a 14 vez.

"Não pode haver um ano que passe, sem ir a Fátima a pé. É o meu alimento para o ano todo", confidencia à Renascença, enquanto caminha sob um sob abrasador.

Mesmo estando em Ponta Delgada, onde reside e trabalha, ou em missão no exterior, Marinheiro vai sempre a Fátima no mês de Maio.

Está a caminho com o grupo de peregrinos que saiu de Chaves e tem como destino a Cova da Iria. E no grupo, Marinheiro é o responsável pela segurança.

O Subintendente da PSP vai sempre atento à estrada, dá indicações para que os peregrinos possam caminhar em segurança e não permite ultrapassagens. É que no itinerário também há multas.

Quem ultrapassa o chefe de fila tem uma multa de cinco euros. E os membros da organização, se levarem a braçadeira desligada, pagam também cinco euros. O fruto reverte para a Associação de Peregrinos Flavienses.

Dia 8. Vince cinco anos de peregrino ao serviço dos peregrinos

António Branco é um peregrino de Fátima algo especial. Natural de Chaves, tem 54 anos e quase metade da sua vida votada ao serviço dos peregrinos. Não está bem certo se serão mais, mas 25 anos são, com toda a certeza.

Branco é aquele que arranca bem cedo com a carrinha de apoio com o necessário para o alimento dos peregrinos.

Em cada paragem, e são várias ao longo do itinerário, Branco tira para fora os bancos, as mesas e tudo o que é necessário para "matar" a fome e a sede aos peregrinos.

Pão fresco que ele mesmo vai comprar, fruta, queijo, presunto, compotas, bebidas, sem esquecer o indispensável fogão, onde sempre coloca uma chaleira de água bem cheia para oferecer um café bem quente a quem precisar.

E mimo dos mimos são os ovos estrelados ou mexidos que consola os mais gulosos.

E depois de cada paragem, e todos retemperados, Branco é o último a arrancar, pois há que desmontar a "tenda" e arrumar tudo na carrinha.

Além deste serviço, todos sabem que podem recorrer ao Branco para alguma necessidade. São as palmilhas, as meias, os chinelos, os jornais, o gelo.

Atento, disponível, serviçal e brincalhão são qualidades que os peregrinos muito apreciam no António Branco.

Este empresário em nome individual abdica da sua actividade durante 13 dias, para se fazer peregrino ao serviço dos peregrinos.


Dia 7. Ordem de Malta atenua dores dos peregrinos

A etapa deste domingo, de 39 quilómetros, entre Viseu e Tondela, foi feita em ciclovia. Debaixo de um sol intenso, os peregrinos caminharam em maior segurança, mas, pelo caminho, acusaram algum cansaço e fadiga.

As bolhas e dores musculares obrigaram a uma paragem em Sabugosa. Ali encontraram os voluntários da Ordem de Malta e, durante cerca de uma hora, os mais doridos viram as suas feridas suavizadas. As bolhas foram tratadas, os pés foram massajados e o ânimo restabelecido.

Prosseguiram caminho e ainda tiveram tempo para tratar da beleza... Foi ver alguns a tratar das unhas, a colocar creme no rosto... Toques e retoques bem esmerados, a combinar com a excelência do dia de sol presenteado.

A chegada a Tondela para o descanso já foi pela hora do almoço. Agora, restabelecem forças para uma nova etapa que começa à 1 hora da madrugada, rumo ao Luso.

Dia 6. A fé também dança

O dia começou cedo. Prontos para caminhar! Cada passo uma conquista.

Depois de 16 quilómetros de caminhada, e após o tradicional "mata-bicho", levanta-se a música para animar a malta. E a vontade de dançar imediatamente se apresentou. Os peregrinos de muito boa vontade aderiram ao convite e toca de dar uns pezinhos de dança.

A boa disposição alastrou de imediato e ninguém resistiu! Era vê-los animados e enérgicos, como se estivessem impecavelmente fresquinhos.

Ao bailarico juntou-se um grupo de peregrinos de Lamego, que não resistiu a participar da alegria e da boa disposição.

Já pelo caminho surgiram pela estrada vários grupos de peregrinos a fazer o mesmo itinerário. Já não estavam sozinhos.

Hoje, os peregrinos fizeram 29 quilómetros a pé e mais alguns, bem significativos, se formos a contar os muitos passos de dança partilhados.

Chegados a Viseu, e com uma baixa no grupo, os peregrinos almoçaram, descansaram e preparam-se agora para iniciar a próxima etapa, às 2 horas da madrugada.


Dia 5. “Não é a chuva que me demoverá de chegar a Fátima”

- Está tudo?

Alguém na frente da fila indiana responde: “Estão todos”. “Então, podemos avançar”, diz Paulo Marques.

É assim a cada nova etapa. O coordenador do grupo só dá ordem para avançar quando tem a certeza que não falta ninguém.

“Fazemos a chamada de madrugada, à saída. E, a partir daí, há sempre um chefe de fila e um de fim de fila, para prosseguirmos todos, após cada paragem, porque queremos chegar todos sãos e salvos a Fátima”, explica à Renascença.

Esta sexta-feira, os peregrinos encontraram a chuva pelo caminho. O percurso de 39 quilómetros, entre Lamego e o Carvalhal, tornou-se mais penoso.

Houve necessidade de recorrer aos chapéus e capas de chuva. Alguns, que não trouxeram de casa, compraram pelo caminho – um vendedor ambulante aguardava os peregrinos à entrada de Vila Nova, Castro Daire. E se mais capas tivesse, mais teria vendido.

Apesar de ensopados e gelados, os peregrinos não abrandaram a marcha. Pelo caminho cantaram, rezaram, contaram histórias e brincaram.

Pelas 11h00 o sol apareceu e foi ver os peregrinos a arrumar os guarda-chuvas e a despirem as capas. Mal imaginavam que teriam de correr de novo para junto dos carros de apoio. É que o sol foi de “pouca dura”. Depois da abertura, que não durou mais que 20 minutos, veio de novo a chuva com grande intensidade e não mais largou os peregrinos, até à chegada ao hotel.

Chegaram cansados, molhados e com frio, mas felizes por mais uma etapa concluída.

Elisa é natural de Montalegre e faz o caminho para Fátima, há sete anos. Entrou no hotel com um rasgado sorriso, o mesmo que manteve durante a caminhada.

“Não é a chuva que me demoverá de chegar a Fátima. Já estou habituada, pois não é o primeiro ano que isto acontece. O ano passado foi bem pior: fizemos sete etapas debaixo de chuva”.

“Mas a chuva não atrapalha o caminhar?”, perguntamos. A resposta vem com um sorriso: “Claro que atrapalha um bocadinho, mas não é nada que nos faça desistir.”

Elisa não tem promessa, vai em gratidão, para agradecer tudo o que Nossa Senhora lhe “tem concedido”.


Dia 4. GNR no caminho dos peregrinos

O grupo de peregrinos arrancou para mais uma etapa à meia-noite e rasgou caminhos por entre curvas e contracurvas, subidas e descidas acentuadas, ao longo de 36 quilómetros. Foram mais frequentes pequenas pausas, para distribuição de água e algumas informações úteis.

Os socalcos e vinhedos do Douro pintaram a paisagem que serviu de alento ao cansaço.

Chegados a Cambres, para mais um momento de pausa, a GNR visitou o grupo e ofereceu coletes reflectores a todos os elementos.

Os guardas saudaram o grupo, deram os parabéns pela forma ordeira e segura com que caminhavam e desejaram continuação de "boa caminhada". E, claro, apelaram à prudência e ao cumprimento de todas as regras de segurança para que possam chegar "sãos e salvos ao destino".

Pelo caminho, foram surgindo pequenos outros grupos de peregrinos rumo à Cova da Iria.

Por volta do meio-dia os peregrinos chegaram a Lamego, extremamente extenuados devido ao percurso extremamente agressivo.

Chegados ao hotel, e depois de distribuição dos quartos, os peregrinos foram descansar para se preparem para a próxima saída, que será às 00h00 do dia 5.


3 de Maio. As primeira bolhas nos pés

Os 63 peregrinos de Chaves continuam fortes e firmes no caminho para Fátima.

Começam a surgir algumas bolhas nos pés, mas ninguém ficou pelo caminho.

A etapa entre Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, 29 quilómetros, foi feita em grande parte em ciclovia.

Pelo caminho os peregrinos rezaram, cantaram, contaram anedotas, partilharam experiências e foram fortalecidos com um verdadeiro pequeno-almoço transmontano onde teve lugar presunto, salpicão, folar, queijos, compotas, pão centeio, chá e café.

Foi um momento demorado, também aproveitado para distender o corpo, descalçar as sapatilhas, ouvir música e saborear tranquilamente o sol que hoje se apresentou mais cedo e bem mais quentinho.

Ao final da tarde, depois do merecido descanso, todos se reuniram no terraço do hotel para cantar os parabéns à Susana, pelos seus 42 anos. Bolo, champanhe e flores mimosearam este momento de confraternização.

O grupo de peregrinos retoma a caminhada às 00h00, do dia 4 de Maio.


2 de Maio. O arranque

Antes da hora marcada, já os vários peregrinos se encontravam no parque de estacionamento do Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, Chaves, prontos para uma maratona física e espiritual exigente e comprometida. Munidos de sapatilhas, bordões, lanternas e coletes reflectores, os peregrinos acondicionaram as suas pequenas bagagens nos dois carros de apoio.

À medida que tudo foi ficando mais organizado, todos se aproximaram do Coral Vicentino de Chaves, ali presente, que presenteou os peregrinos com três cânticos marianos.

Foi também neste momento que o padre Carlos César implorou a bênção de Deus para todos os peregrinos.

Depois da interpretação de um solene magnificat, e confiados também a Maria, os peregrinos foram chamados um a um pelo seu nome e escutaram algumas orientações práticas para o caminho. Reforçado foi o sentido de solidariedade que a todos une e que a todos obriga a respeitar e a acompanhar o ritmo de cada um.

O frio foi companheiro de viagem durante a noite. Também o sono e o cansaço visitaram os peregrinos. E não faltaram as bolhas. Mas, com muita força de vontade, chegaram a Vila Pouca de Aguiar, para descansar e retemperar as formas, mas não sem antes terem tido o privilégio de cumprimentar e tirar uma fotografia com o plantel do Desportivo de Chaves, a treinar no estádio de Vila Pouca de Aguiar.

O grupo de peregrinos de Chaves retoma a estrada às 3h00, do dia 3 de Maio.

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  • Natália Gonçalves
    15 mai, 2017 Queluz Lisboa 23:35
    Sou uma peregrina, e conheci um peregrino do vosso grupo. Mas acabei sem querer, de perder o contacto dele, por favor agradeço, que me ajudam a encontrado, pois é muito importante para mim.... O nome dele é, Paulo Pires . agradeço uma resposta, muitíssimo obrigada. Boa

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