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Há vezes em que não acerta no "à"? Saiba quais os sete erros de português mais comuns

02 abr, 2017 - 09:48 • Marta Grosso

“Encarregue” ou “encarregado” e “menu” ou "menú” são algumas das dúvidas que assaltam as mentes de muitos portugueses. Como escrever português correcto? Sara de Almeida Leite responde em livro.

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“Escrever bem dá uma boa imagem de nós” e, ao mesmo tempo, revela “consideração pelos outros”. Quem o diz é Sara de Almeida Leite, autora do livro “Como escrever tudo em português correcto” (ed. Manuscrito).

Mas quais os erros que os portugueses mais cometem? A Renascença perguntou, Sara de Almeida Leite respondeu.

1) Confundir as palavras “há” e “à”

A forma do verbo “haver” usa-se com o sentido de “existir” ou de “fazer”. Por exemplo, "há horas difíceis" = existem horas difíceis; "há duas horas que estou aqui" = faz duas horas que estou aqui.

A forma contraída de preposição com determinante, “à”, deve ser escrita sempre que possa ser substituída, sem grande diferença de sentido, pela combinação de outra preposição com o determinante “a”.

Por exemplo: "Fui à praia" = Fui para a praia; "Fui à frente" = Fui na frente.

2) Escrever ou dizer "melhor preparado" em vez de “mais bem preparado”

Embora “melhor” e “pior” sejam formas correctas de modificar os adjectivos “bem” e “mal” em grau comparativo, as expressões "mais bem" e "mais mal" devem ser usadas quando se segue um adjectivo participial, como “preparado”, “classificado”, “desenhado”, “dito”, “feito”, “escrito”, etc..

3) Colocar acentos agudos nas palavras terminadas em ‘u’, como "perú", "nú", "cajú" e menú"

As palavras “peru”, “nu”, “caju”, “menu”, etc. não precisam de acento gráfico, pois é natural pronunciá-las como agudas, isto é, com acento tónico na última sílaba.

4) Dizer "ter entregue" ou "estar encarregue" em vez de “ter entregado” e “estar encarregado”

Com o verbo auxiliar "ter", nos tempos compostos, é correcto usar as formas mais compridas, as regulares, do particípio passado, no caso dos verbos que têm duas formas participiais. Só na voz passiva, com os auxiliares ser, estar, ficar, etc. é que se deve usar o particípio mais curto, o irregular.

Por exemplo: O homem foi morto / Alguém o tinha matado.

Há quem diga também "já devia ter limpo o chão". Chama-se a hipercorrecção: “as pessoas têm muito medo de utilizar uma forma errada e então fazem a hipercorrecção, que é a correcção ao contrário”, explica Sara de Almeida Leite.

Há, por outro lado, verbos em que ninguém tem dúvidas, como “prender”. Exemplo: “Eu tinha acendido a luz, a luz estava acesa”. Ninguém diz "eu tinha aceso a luz, a luz estava acendida".

Ou: "Não te devias ter descalçado, agora estás descalço". Ninguém diz "não te devia ter descalço".

5) Usar o plural no “haver” quando o verbo aparece como principal

O verbo “haver” só se usa no plural quando é verbo auxiliar: eu hei-de fazer, tu hás-de fazer, eles hão-de fazer.

Quando é verbo principal, é um verbo impessoal, não admite sujeito. Nem mesmo quando tem um auxiliar. Ou seja, “vai haver conferências” e não “vão haver conferências”; “houve coisas que não percebi” e não “houveram coisas que não percebi”.

É sempre impessoal quando é o verbo principal. Quando é auxiliar – o que acontece sobretudo quando estamos a usar o futuro – pode ser conjugado em todas as pessoas.

6) Dizer “hades” em vez de “hás-de”

É uma tendência muito forte, porque segue o paradigma de conjugação dos verbos naquelas pessoas e naqueles tempos.

Por exemplo, a segunda pessoa do singular, em quase todos os verbos, acaba em 's': tu andas, tu andarias, tu andarás, tu andavas. É, portanto, natural que as pessoas digam “tu andastes” – uma forma que existe para a segunda pessoa do plural (vós).

“Hades” é uma forma mais fácil de pronunciar do que “hás-de”. Tal como “hadem” em vez de “hão-de”: vocês fazem, vocês vivem, vocês andam, vocês cantam, vocês hadem. É usar a mesma terminação. É esse, aliás, o erro que também muitas crianças ainda no processo de aquisição da língua materna fazem. É aplicar a regra em casos excepcionais. É uma questão de facilitismo.

7) Confundir palavras parecidas, como descriminado e discriminado

Se a factura apresenta informação diferenciada, é discriminada, e não descriminada. Muitas palavras que são apenas ligeiramente diferentes na escrita e na pronúncia têm significados bem diversos e não devem ser confundidas. “Descriminar” é retirar a culpa ou o crime a alguém, portanto nunca se aplica quando diferenciamos, ou discriminamos, pessoas ou coisas.

Comentários
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  • Lino
    08 nov, 2023 Angola-Luanda 12:49
    Boa tarde, necessito de receber um conteúdo completo para escrever bem a língua portuguesa.
  • pita
    04 abr, 2017 amadora 12:38
    As pessoas com menos de 45 anos não sabem nada de nade, do que será básico. Não tiveram instrução primária. Tiveram experiências pedagógicas comunistas. Compreende-se...
  • Roberto Ceolin
    03 abr, 2017 Macau 18:20
    “Escrever bem dá uma boa imagem de nós” e, ao mesmo tempo, revela “consideração pelos outros”, sem dúvida!, mas então o que dizer deste artigo que tenta em duas ensaboadelas, pim, pam pum, resolver os sete pecado mortais contra a língua com umas explicações de gramática de algibeira furada. “É natural pronunciá-las como agudas” – o que é isso de ser natural pronunciar algo como agudo?, e o que é que isso tem a ver com o acento gráfico? Não há palavras paroxítonas, ou graves, acabadas em -u?, e.g. ‘Vénus’, ‘húmus’, ‘ânus’, etc. (vs. ‘perus’, ‘cajus’, ‘menus’, etc.); são acaso estas palavras inaturais, anaturais ou mesmo desnaturais?, ou será antes que as palavras oxítonas acabadas em -i e em -u, visto representarem um número reduzido de vocábulos em português, não são acentuadas dado o carácter económico das regras tradicionais da acentuação portuguesa? Uma coisa é o acento tónico das palavras, outra é o acento gráfico que é convencional. Se amanhã se mudassem as regras da acentuação portuguesa, e se se passassem a acentuar graficamente as palavras oxítonas acabadas em -i e em -u, como aliás é a regra em Castelhano, por exemplo, perdiam a sua naturalidade estas palavras? Não faz sentido! As pessoas que aprenderem esta pseudo-regra, o que fazem quando se virem confrontadas com palavras paroxítonas ou proparoxítonas acabadas em -u? Vão comprar outro livro… Eu não quero ser pedante, mas uma coisa é simplificar para que se entenda, e isso é a obrigação de todo o professor, outra é dizer coisas sem sentido e até mesmo incorrectas. E os particípios ‘mais cumpridos’ e ‘mais curtos’, o que é isso?! Não seria mais fácil e ao mesmo tempo mais exacto dizer ‘particípios regulares terminados em -ado e em -ido’? As pessoas não são totalmente idiotas. A seguir se dá como exemplo o verbo ‘prender’ mas ilustra-se o exemplo com os particípios do verbo ‘acender’! Já para não falar da pontuação do texto e de frases a começar com ‘ou seja’ e ‘exemplo, depois de ponto final… Não me parece que Sara de Almeida Leite, quem quer que seja a senhora, saiba Como escrever tudo em português correcto, a não ser, é claro, que a pessoa que escreveu este excelente artigo ainda não tenha lido o livro da senhora e a má publicidade que lhe está a fazer, ao livro e à desgraçada da Língua Portuguesa, maltratada que é todos os dias, seja toda da sua responsabilidade (eu acho que não é toda). Eu, se me permitem, recomendaria a velhinha Gramática da Língua Portuguesa, nem que sejam aquelas do liceu do tempo do Professor Salazar, que estão lá no sótão esquecidas a ganhar bolor, mais o prontuário da Língua Portuguesa (edição anterior ao desacordo, atenção!), e porque não, a gramática do Latim (puxando aqui a brasa à minha sardinha!), que só faz bem (h)à saúde. Dixi.
  • Carlos Baptista
    02 abr, 2017 Vila Franca de Xira 18:11
    Artigo interessante, mas algo confuso e com gafes. Por exemplo: refere a "terceira pessoa do plural (vós)". Ora "vós" é a segunda pessoa do plural e não a terceira; depois refere como exemplo “vai haver conferências”. Ora, no caso em apreço trata-se de algo que vai acontecer, logo é tempo futuro. Então, julgo eu, o termo correcto seria “irá haver conferências”. Depois, quando refere os exemplos “Hades” e “hadem”, se em relação ao primeiro apresenta a forma correcta, “hás-de”, já em relação ao segundo não o faz, o que poderá gerar confusão aos mais 'distraídos' nestas coisas, podendo pensar que o termo "hadem" está correcto, ou então ficando na dúvida sobre qual será o termo correcto, que no caso é "hão-de".

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