08 abr, 2017 - 14:13 • Olímpia Mairos
“100 anos de La Lys - 100 anos do soldado Milhões” é o mote da iniciativa lançada pela autarquia de Murça, para assinalar os 100 anos da participação portuguesa na I Guerra Mundial.
A iniciativa vai prolongar-se até 9 de Abril de 2018 e contempla exposições, colóquios, para além da recuperação da casa do herói português da I Guerra Mundial.
O imóvel é propriedade da Câmara de Murça que quer ali criar um “espaço de memória”. O “ideal” seria ter o projecto concluído até 09 de abril de 2018, e integrado no roteiro turístico do concelho”, afirma o presidente da autarquia, José Maria Costa.
Para a recuperação da habitação são precisos “cerca de 200 mil euros” e a autarquia está a “estudar linhas de financiamento onde possa enquadrar o projecto”.
Este sábado é inaugurada a exposição “Uma guerra e muitos homens, um concelho e o Milhões”, que reúne material ligado à guerra, como armas, fardas e também as medalhas do soldado que foram doadas ao Museu Militar do Porto.
Tem ainda lugar um concerto evocativo da Grande Guerra e será apresentado o livro “O Concelho de Murça na Grande Guerra” da autoria do tenente-coronel Dinis Costa.
As actividades, algumas em colaboração com o Exército, o Regimento de Infantaria 13 (RI13) e a Casa Militar da Presidência da República, prolongam-se até 9 de abril de 2018, data em que se assinala os 100 anos da Batalha de La Lys, em França. Este ano assinala-se o centenário da chegada à Flandres dos primeiros soldados portugueses que participaram na I Guerra Mundial.
A iniciativa vai também envolver as escolas do concelho. O objectivo é integrar o tema no plano de actividades dos estabelecimentos de ensino, onde serão realizados colóquios por parte de investigadores da I Guerra Mundial.
“Queremos ensinar quem foi o soldado Milhões, mas não queremos que as coisas fiquem só centradas nele, porque a guerra foi um evento colectivo e nela participaram outros soldados do concelho. Queremos outros testemunhos e que os nossos jovens percebam a envolvência do país e do seu concelho na I Guerra Mundial”, explica o presidente da Câmara de Murça.
De Milhais a Milhões
Entre os soldados portugueses que participaram na I Grande Guerra destaca-se Aníbal Augusto Milhais, natural Valongo, concelho de Murça.
O soldado raso ficou famoso por se ter batido sozinho contra os alemães, para ajudar à retirada das forças aliadas, depois de ter desobedecido a uma ordem de retirada.
Rezam as crónicas que, a 9 de Abril, uma força portuguesa se viu atacada pelos alemães. A força chegou a ser destroçada, a situação era “a pior possível”. Muitos portugueses foram mortos e os sobreviventes obrigados a retirar.
O soldado Milhais terá permanecido sozinho. Correu entre os vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, de que a posição estava a ser guardada por vários militares.
À quarta ofensiva, os soldados alemães decidiram contornar aquele ponto e deixaram o português para trás das linhas inimigas, onde sobreviveu durante uns dias, com umas amêndoas doces no bolso, até encontrar um oficial escocês que o ajudou a encontrar o batalhão português. Foi esse mesmo oficial que relatou depois o acto heroico do soldado.
E foi assim, em plena I Guerra Mundial que o soldado português alcançou a fama, na Batalha de La Lys, em Abril de 1918.
A bravura do franzino e pequeno Aníbal, com pouco mais de um metro e meio de altura, valeu-lhe a Torre e Espada – a mais alta condecoração militar portuguesa – entre outras distinções.
O epíteto “Milhões” nasceu com um elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: “Tu és Milhais, mas vales milhões”.
O militar morreu aos 75 anos, em Valongo, a aldeia que adoptou o nome de Milhais em sua homenagem.