07 abr, 2017 - 15:34
O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, não faz juízos de valor sobre a intervenção militar dos Estados Unidos, mas recorda o passado para justificar a acção de Donald Trump. Em declarações à Renascença, Azeredo Lopes recorda a “linha vermelha” estabelecida por Barack Obama quanto ao uso de armas químicas, para tentar perceber as razões do ataque da administração norte-americana
“Os Estados Unidos estabelecem uma relação causal entre um ataque, aliás, bárbaro, com armas químicas e a resposta militar que adoptaram contra o regime de Bashar al-Assad”, sustenta o ministro da Defesa que, apesar de revelar não saber se os Estados Unidos dialogaram com o governo de Damasco para os avisar do ataque, acha que “seria peculiar se tivesse acontecido”.
“Normalmente uma acção destas não se comunica previamente”, esclarece o ministro da Defesa, lembrando que os norte-americanos só estariam “obrigados a comunicar ao conselho de segurança” a acção militar “se quisessem invocar que agiam em legítima defesa”.
Posição semelhante tem o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que à margem de um seminário sobre Assistência Humanitária e Protecção de Civis, que decorre no Palácio das Necessidades, em Lisboa, disse que Portugal compreende" os aliados que actuam em retaliação a "crimes de guerra", referindo-se ao ataque com armas químicas que matou 74 pessoas esta terça-feira.
"Aguardamos ainda informação por parte das autoridades norte-americanas e aguardamos ainda as discussões no seio do Conselho de Segurança (ONU) e estamos ainda em consulta no quadro dos nossos aliados europeus para que possa haver uma posição unida e uma reacção da Europa. Estamos ainda nesse processo de consulta", acrescentou Augusto Santos Silva.
O ministro dos Negócios Estrangeiros esclareceu também que as autoridades norte-americanas estão a "passar informações aos seus aliados" e que Portugal está a receber informações das autoridades norte-americanas no sentido de demonstrar que Washington tem razões para acreditar que foi a Força Aérea síria, a partir da base militar atacada durante esta madrugada, que o ataque com armas químicas foi desencadeado.
"Gostaríamos que o Conselho de Segurança das Nações Unidas pudesse verificar ele próprio quem usou essas armas e pudesse tomar em nome da comunidade internacional uma decisão sobre a reacção legítima e forte que esse ataque merece", disse ainda o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que reforçou a ideia de que, para Portugal, o "mais importante" em relação à Síria é o conjunto de esforços no sentido de se alcançar uma solução política para o conflito e que permita que a Síria preserve a integridade territorial e se restabeleça como um Estado secular, multirreligioso e multiétnico.
Parlamento condena ataque de Bashar al-Assad
No dia em que se soube da acção militar dos Estados Unidos, o parlamento português condenou hoje o "ataque com armas químicas na Síria", apesar dos votos contra do PCP e de "Os Verdes" ao texto conjunto apresentado pelo PS e PSD.
Os comunistas também apresentaram um voto contra a "agressão ao povo da Síria" e "as operações de desestabilização visando sabotar as negociações de paz", mas o texto foi rejeitado por sociais-democratas, socialistas e democratas-cristãos, além das abstenções de BE e PAN.
Os Estados Unidos lançaram esta madrugada um ataque com 59 mísseis de cruzeiro contra a base aérea de Shayrat, de onde terão partido os aviões envolvidos no ataque com armas químicas que na terça-feira matou pelo menos 86 pessoas em Khan Sheikhun, no noroeste do país.
O bombardeamento de terça-feira foi assumido pelas autoridades sírias que, no entanto, negaram categoricamente ter usado armas químicas.