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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Os outros lesados do BES

31 mar, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os grandes investidores estrangeiros lesados pelo colapso do BES propõem um acordo.

Os problemas da banca em Portugal não cessam de nos inquietar. Agora não se trata de uma novidade, mas de uma questão que a maioria dos portugueses – não os que trabalham no sector financeiro, claro – poderá ter já esquecido.

Quando o BES colapsou, no verão de 2014, foram passados para o chamado “banco mau” (o BES, formalmente) os activos tóxicos ou de cobrança muito duvidosa, que assim ficaram fora do nascente Novo Banco. Nas no final de 2015 o Banco de Portugal transferiu para esse “banco mau” obrigações chamadas seniores que estavam no Novo Banco. A dívida sénior, também designada não subordinada, é a mais protegida, tendo prioridade no pagamento em caso de incumprimento. Eram obrigações na grande maioria pertencentes a grandes investidores institucionais estrangeiros.

O conjunto dos títulos em causa teria um valor nominal de mais de dois mil milhões de euros, valor que com aquela operação caiu mais de 80%. Os investidores indignaram-se e avançaram para tribunal.

Agora, um grupo que representa dois terços desses investidores institucionais, liderado pela Pimco e pela Black Rock, propôs ao Governo português negociar um acordo. Dizem eles que a medida tomada em Dezembro de 2015 levou a uma subida dos juros da dívida pública portuguesa e dos custos de financiamento dos bancos nacionais. Têm alguma razão. Aliás, segundo a Bloomberg e o Financial Times, citados pelo Jornal de Negócios, este grupo de “lesados do BES” boicotou a recente colocação de 500 milhões de euros de dívida da Caixa Geral de Depósitos (apesar do aliciante juro de 10,7%).

Segundo as mesmas fontes, o ministro das Finanças M. Centeno terá dito em Londres, num encontro com potenciais investidores, que o Governo e o Fundo de Resolução estão a negociar com esses lesados da alta finança um eventual acordo. Depois foi negado existirem negociações – mas talvez pela necessidade de tudo ser feito em segredo. Oxalá se chegue a um acordo equilibrado, tendo em atenção que Portugal precisa de investidores dispostos a comprar dívida pública e privada nacional.

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    31 mar, 2017 TERRADOMEIO 19:31
    Então o acordo a que chegaram não foi esta espantosa venda do NB, com espantosas condições, a que acabamos de assistir? Podemos andar de bengalinha, mas ainda há olfacto que chegue para distinguir a podridão da "coincidência". Pobre Portugal! Pobres portugueses!
  • Justus
    31 mar, 2017 Espinho 16:53
    Sarsfield Cabral acordou muito tarde e fora de tempo. Agora, quando este governo praticamente resolveu os graves problemas da banca, originados e em grande parte causados pelo governo anterior, é que Sarsfield Cabral se lembra de os vir aflorar! Porque não fez isso quando esses problemas surgiram há dois ou três anos atrás? O que é que escreveu sobre o BPN (Banco do PSD), sobre o colapso do BES, sobre o desgoverno do BANIF, sobre o desmantelamento e endividamento da CGD? Nada, porque não convinha. Depois, vem sempre com as suas constantes insinuações: "diz-se", "consta", "terá dito", "parece", etc., etc. Nunca aponta factos, apenas hipóteses. E está muito condoído com os investidores estrangeiros lesados do BES e nós também estamos. Mas de quem foi a culpa, Sr. Sarsfield? Porque não aponta o dedo aos seus amigos que tomaram decisões completamente erradas, descabidas, insensatas e seguidistas das orientações e interesses externos? E que ridículo escrever que alguns desses investidores se preocupam com a subida dos juros da dívida pública portuguesa e dos custos de financiamento dos bancos nacionais! O que eles se preocupam, e com toda a razão, é em receber os montantes investidos. Tal qual todos os outros investidores, accionistas e demais lesados.
  • Jorge
    31 mar, 2017 Seixal 16:28
    "lesados do BES boicotou a recente colocação de 500 milhões de euros de dívida da Caixa Geral de Depósitos (apesar do aliciante juro de 10,7%)." São pontos de vista diferentes, para mim esta taxa de juro não é aliciante, mas sim, escandalosa, principalmente quando são os clientes da CGD e os contribuintes no geral a pagá-la.