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Urgências. “Há dias em que 56% dos doentes não deviam estar ali"

31 jan, 2017 - 11:30

Presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que inclui o Santa Maria e o Pulido Valente, defende uma reorganização do sistema.

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Carlos Martins, presidente do conselho de administração do centro hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente), entrevistado no Carla Rocha- Manhã RR por Miguel Coelho (31/01/2017)
Foto: RR

No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, grande parte dos casos que dão entrada nas urgências não são urgentes. “Há dias em que temos 56% de triagem verde e azul, ou seja, há 56% dos doentes que não deviam estar ali, mas num hospital menos diferenciado ou, sobretudo, no seu centro de saúde”, diz o presidente do conselho de administração do Centro hospitalar Lisboa Norte.

Carlos Martins defende uma reorganização do sistema, incluindo o sistema de triagem, de modo a reencaminhar os doentes para os cuidados primários.

“O hospital deverá fazer isso no futuro ou então encontrar soluções integradas com os centros de saúde”, afirma na Renascença, adiantando: “Não é o médico de família dentro da urgência hospitalar; provavelmente vamos ter de encontrar espaços diferentes de resposta a esses doentes."

Apostar em mais cuidados paliativos e continuados, “sobretudo de proximidade” é a fórmula apontada para aliviar os grandes hospitais, que todos os invernos são confrontados com milhares de utentes nas urgências.

“Temos de encontrar uma nova organização dos cuidados de medicina familiar. Antigamente, tínhamos sempre esta dicotomia: os cuidados primários e os hospitalares. Eram dois pilares. Neste momento, não são dois, mas três ou quatro e há um que tem de crescer forçosamente: os cuidados continuados e paliativos. Os hospitais têm de ser a última resposta do sistema”, defende Carlos Martins.

Mais casos na saúde mental obriga a obras

Em entrevista no programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte admite que o serviço de psiquiatria do Hospital de Santa Maria tem estado sujeito a grande pressão, com doentes obrigados a ficarem em macas por falta de camas.

O problema vai ser resolvido, garante. As obras já anunciadas vão arrancar em breve. “É inevitável porque, infelizmente, fruto até da situação económico-financeira do país, tivemos um crescimento também na área da psiquiatria e saúde mental”, refere.

Orçada em dois milhões de euros, a intervenção vai obrigar à transferência temporária do serviço para o Hospital Pulido Valente.

Além disso, Carlos Martins aponta o sucesso alcançado nas Caldas da Rainha. “Conseguimos fazer algo de que nos orgulhamos muito, que foi refundar o serviço de psiquiatria e saúde mental nas Caldas da Rainha, com profissionais nossos. Durante um ano, enviámos profissionais todos os dias e conseguimos consolidar jovens médicos nas Caldas, que têm o seu serviço”.

“Isso aliviou-nos um pouco, mas não foi essa a resposta que consideramos como ideal e é por isso que vamos investir dois milhões e meio”, conclui.

O dinheiro não deverá ser problema. Em 2016, “tivemos finalmente equilíbrio financeiro” e “o melhor resultado desde que foi criado o centro hospitalar”, reconhece.

Para este ano, “os objectivos são ter um ano melhor do que o ano passado” e fazer “mais e melhor do que fizemos em 2016, ao serviço do país e sobretudo nesta missão pública que muito nos orgulha”, resume.


Carlos Martins, 55 anos

O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte é algarvio, de Portimão, e licenciou-se no Minho, em Relações Internacionais.

Foi secretário de Estado da Saúde no governo de Durão Barroso (2012) e colocou o lugar à disposição depois da morte de um doente com aneurisma, enquanto esperava por uma cirurgia no Hospital de São José, em Lisboa.

Garante que conseguiu reequilibrar as contas do Hospital de Santa Maria, que chegou a estar em falência técnica.

O cinema é o seu maior passatempo e tem fobia à displicência – é um perfeccionista. É casado e tem dois filhos.

Comentários
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  • Interno Complementar
    25 fev, 2017 Lisboa 18:26
    Esta notícia demonstra o ridículo a que chegou a escravatura dos profissionais do CHLN. Nos últimos 4 anos têm sido submetidos a cortes contínuos, menor formação profissional da parte daqueles que em formação ainda se encontram, e pura escravatura em termos de horários. Passo a citar o meu exemplo pessoal: sou interno de especialidade hospitalar do CHLN, e após mais de 90 horas extraordinárias em regime de urgência no passado mês de Janeiro, para além das 40 semanais (que não se limitaram a 40, mas como é sabido excesso de horas em regime de enfermaria não é pago)... recebi simplesmente o ordenado base. Sim, somente o ordenado base. E não foi por erro algum da partição da remuneração. Como o hospitalar não cumpre sequer LEIS aprovadas, eis que recebi o ordenado base como penalização por ter realizado descanso compensatório de 4 horas - que a lei assim obriga após 12h seguidas de trabalho, que no meu caso haveriam sido após 24h seguidas de trabalho!!). Ora, muitos meus colegas são penalizados de forma igual, e quando se questiona o porquê de assim se suceder, somos alvos de intimidação interna. A situação tem-se vindo a repetir, e a ordem tarda a dar uma resposta nesse sentido. Assim vão os anos passando, e as contas internas sendo corrigidas, até ao dia em que isto se tornar público, e que outros rostos estejam à frente do CHLN. Atenciosamente, um interno do CHLN.
  • Ana Paula Gonçalves
    31 jan, 2017 Olhão 23:33
    Ouvi toda a entrevista do sr. Presidente do Conselho de Administração do CHLN e li a síntese da mesma feita pela redacção da RR. O quadro que traçou e a análise que fez das questões que lhe colocaram são consensuais. Espantei-me quando o ouvi afirmar que o ano de 2016 tinha sido um ano de excepção, porque para além do aumento da actividade assistencial, o Centro tinha obtido o melhor resultado financeiro desde que foi constituído. Não acreditando em milagres, mas confiando na capacidade e energia dos seres humanos, procurei documentar-me. E lá consultei o site da ACSS (entidade do Ministério da Saúde que define os modelos de financiamento dos hospitais). E percebi então que o Centro que dirige, cuja despesa ronda os 300 milhões de euros/ano, recebeu de 2014 a 2016 mais 88 500 milhões de euros do que o montante que havia sido inicialmente contratado, dos quais 20,3 milhões em 2016. Como administradora hospitalar com 32 anos de carreira e que, ao longo desse período lidou com o desespero de dispor de meios financeiros insuficientes, desejo sinceramente que todos os que desempenham cargos idênticos ao do entrevistado sintam ao analisarem o exercício de 2016 o mesmo conforto. Ana Paula Gonçalves
  • CAMINHANTE
    31 jan, 2017 LISBOA 17:42
    Iº - ter médico de família para todos os cidadãos ( uma vergonha que se arrasta desde que existe SNS, com agravamento nos últimos anos) 2º - ter horários bem clarificados para o médico de família atender os doentes agendados e para quando está ao serviço das ditas "urgências" ( isto significa que não se pode exigir que o médico de família atenda todos os que apareçam no dia a solicitar consulta, porque tal não é exequível e uma sobrecarga perigosa para a capacidade técnica e responsabilidade profissional do médico um médico dos cuidados primários não está de serviço por turnos, saindo para entrar outro colega ) 3º - Perceber que ao encerrarem os antigos SAPS, com 24 horas de prestação de serviço, empurraram os doentes para as Urgências Hospitalares - foi um erro economicista que saiu caro. 4º - Estabelecer regras claras ( é possível) para a utilização das consultas de "agudos" ( ditas Urgências)... não podem ser para atender vigilância de doenças crónicas. 5º - Perceber que são necessários mais médicos para manter unidades de saúde ( que podem ser "polos" " SAPS" e não todos os C.S.)- abertas 24 horas . Voltar a exigir exclusividade aos médicos dos cuidados primários. Actualmente , mesmo os de 40 horas continuam preocupados em ir para as "privadas" que conseguem arranjar. 6º Se o Estado não consegue implementar um sistema Universal, por questões de custos, admitir que os privados possam ter doentes com generalista, permitindo que estes peçam meios auxiliares diagnóstic
  • Paulo
    31 jan, 2017 Porto 16:12
    O Sr José Martin devia estar calado. Os portugueses adoooooooram falar do que não sabem. Eu sou médico e garanto-lhe que nenhum Director me proíbe de pedir exame algum, independentemente do preço do mesmo. Também afirma que "há limite de receitas que podem prescrever aos doentes". Mas desde quando pá ?!? É cada parvoíce ! O que acontece dezenas de vezes (e isso garanto-lhe que é verdade) é doentes levarem medicação para 6 meses, deitarem a receita fora e no mês seguinte já pedem receitas para mais 6 meses. Indivíduo muito ignorante....
  • Noémia
    31 jan, 2017 Ramada 15:35
    Para isso, era preciso que o centro de saúde desse resposta. O meu pai foi ao HSM no domingo dia 29.jan.2017 com os pés em ferida e a drenar (pé diabético), fizeram um penso executado por uma estagiária com muito pouca prática, e mandaram embora. Nem análises para verificar se tinha infecção no sangue, ou qual o valor da diabetes. Recorri ao centro de saúde, o médico não estava, ninguém quis fazer o penso sem ser observado por um médico. após insistência um médico foi ver, medicou com antibiótico e fizeram o penso. Nada de análises, ninguém quer saber. A Resposta do centro de saúde foi: "Se o pé ficar roxo, dirija-se ao HBA pois poderá ter de ser amputado" .... sério.... e depois não é urgência... vão c@g@r !!!
  • Sandra
    31 jan, 2017 Amora 14:49
    Tal como o "Zeca" refere, é de facto verdade. É imprescindível que os centros de saude funcionem 24h, permitindo assistência continua a pequenas mas não menos importante, urgências menores, mas que também necessitam acompanhamento, deixando livre assim os hospitais para as situações graves. Para que esta situação fucnione é necessário centros de saude a funcionar 24h.
  • joa
    31 jan, 2017 Lisboa 14:46
    É só falatório inconsequente! Um facto é que o sistema nacional de saúde é uma vergonha inaceitável, milhões de pessoas a quem chamam cidadãos sem médico de família! A muitas dessas pessoas foi retirado médico de família abusivamente sem aviso, caso de Corroios-Seixal! Horas e mesmos dias de espera nas urgências! Pessoas a morrer por falta de assistência médica e atrasos! Meses e quase anos para um exame ou consultas, até lá muitos doentes morrem! Para se conseguir consulta em muitos dos chamados " centros de saúde" são dias e quem não tem o tal médico de família fica praticamente abandonado e a hipótese de ter consulta é se sobrarem uns restos! Quem pode ou faz grande sacrifício recorre aos hospitais e clínicas privados, outro engano, onde só querem fazer dinheiro, diárias no mínimo de 340 euros, fora exames, tratamentos, exigem logo caução de 2400 euros para internamento! E mesmo assim e-se mal atendido, há negligência, desorganização, basta ir ao Portal da Queixa e colocar o nome desses privados! Entretanto os desgovernantes gerem biliões essenciais de forma ruinosa ou memso danosa, 900 milhões para submarinos que davam para fazer 40 hospitais principais, biliões para a banca criminosa que resolviam todos os problemas na área da saúde! Tudo na maior impunidade e corrupção, condenando a esmagadora maioria da população a passar mal, a fazer tudo para não adoecer e ter que ir para os hospitais! Uma vergonha 3º mundista!
  • al berto
    31 jan, 2017 sul 14:28
    No entanto, pelo menos o HSM, tem funcionários muito esforçados e competentes que conseguem ultrapassar estes problemas. Sei por obServação direta
  • José Martin
    31 jan, 2017 Lisboa 14:19
    Tem toda a razão Sr.Dr.Carlos Martins. Na minha opinião, como utente, tem que haver outra mentalidade e os Postos de Saúde do Pais devem ter outras condições para receberem os doentes e haver nesses Postos de Saúde melhor gestão, porque há Postos de Saúde (exemplo em Lisboa) que recebem poucos doentes diariamente e não têm condições nem uma boa gestão. Também há Postos de Saúde que tem uma politica para mim errada, mas com a conivência do actual e anterior governo (?), em que os Médicos são forçados a não passar determinados exames aos doentes - o doente aí tem que recorrer ao hospital. Têm um limite de receitas para passar a cada doente. O doente sente que não está a ser bem observado e recorre aos hospitais. Isto, para não falar que os Postos Médicos, a maioria deles, não tem uma sala de RX - por exemplo. Há muito por fazer mas também tem que haver muita alteração. Só assim começam os hospitais a receber menos utentes... Temos que pensar que o doente não vai "por desporto" ao Posto Médico ou a um Hospital
  • AM
    31 jan, 2017 Lisboa 13:57
    Não há fotografias de CHLN, do Hospital de Sta. Maria? Esta fotografia é do CHLC, pois, do H. S. Jose,! Arre!

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