Tempo
|
A+ / A-

Realizador iraniano não vai aos Óscares

29 jan, 2017 - 21:41

Asghar Farhadi protesta contra as novas medidas anti-imigração da administração Trump.

A+ / A-

O realizador iraniano Asghar Farhadi, que dirigiu "O vendedor", nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro, disse que não vai à cerimónia de entrega dos Óscares, em Los Angeles, num protesto às medidas anti-imigração de Donald Trump.

Asghar Farhadi divulgou um comunicado no qual afirma ter decidido não se deslocar a Los Angeles para a cerimónia de 26 de Fevereiro, ao contrário do que tinha planeado, "mesmo que se verificassem excepções que permitissem" a viagem, pois as medidas decretadas pelo Presidente norte-americano "são inaceitáveis".

O depoimento do cineasta, vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, com o filme "Uma Separação", foi prestado ao jornal The New York Times, que o publicou esta tarde na abertura da sua edição 'online', e critica a "promoção do medo", tanto pelos Estados Unidos como pelo Irão.

"Lamento anunciar, através deste depoimento, que decidi não comparecer na cerimónia da Academia", escreveu Farhadi.

"Ao longo dos últimos dias, e apesar das circunstâncias injustas que se levantaram a imigrantes e viajantes de vários países, que [procuravam entrar] nos Estados Unidos, a minha decisão manteve-se a mesma: comparecer na cerimónia e expressar as minhas opiniões, à imprensa, durante o evento", escreveu o realizador iraniano.

"Nunca tive intenção de boicotar a cerimónia", para mais quando a "indústria do cinema e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se opõem a fanatismos e extremismos". "Agora, porém, parece-me que a possibilidade de estar presente é acompanhada muitos 'ses' e 'mas', o que é inaceitável para mim", escreveu Farhadi.

O cineasta critica ainda a divisão do mundo em "nós e eles", que afirma não ser exclusiva dos Estados Unidos: "No meu país, verifica-se o mesmo".

"Durante anos, dos dois lados do oceano, os partidários de linha dura tentaram apresentar ao seu povo uma imagem irreal, assustadora, de outras nações e culturas, com o objectivo de transformar as diferenças em desacordo, o desacordo em inimizade e, esta, em medo", escreveu o realizador.

"Promover o medo junto das pessoas é um factor importante para justificar actos extremistas e fanáticos (...). Humilhar uma nação com o pretexto da segurança não é um fenómeno novo na história" e contribuiu sempre para aumentar divergências e conflitos.

"Condeno as condições injustas a que são forçados [agora] os meus compatriotas e os cidadãos dos outros seis países [sobre os quais estão impostas as restrições] que tentam entrar legalmente nos Estados Unidos da América, e espero que a situação actual não conduza ao aumento de mais divisões entre os povos", conclui Asghar Farhadi.

Na noite de sábado, o National Iranian American Council confirmou, em Washington, que as restrições de Trump impediriam Asghar Farhadi de entrar nos Estados Unidos.

O filme de Asghar Farhadi, "O vendedor", que se estreou em Portugal em Dezembro, inspira-se em "A Morte do Caixeiro Viajante", do dramaturgo norte-americano Arthur Miller.

Na quinta-feira, a atriz iraniana Taraneh Alidoosti, de "O Vendedor", disse que se recusaria a ir aos Estados Unidos, em protesto, para assistir à cerimónia dos Óscares.

Numa ordem executiva assinada na sexta-feira, Donald Trump suspendeu a entrada de refugiados nos Estados Unidos, por pelo menos 120 dias, e impôs um controlo mais severo a viajantes oriundos do Irão, Iraque, Líbia, Somália, Síria, Sudão e Iémen, durante os próximos três meses.

Viajantes oriundos daqueles países têm sido impedidos de entrar em aviões com destino aos Estados Unidos, desencadeando protestos em vários aeroportos.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • 30 jan, 2017 lisboa 08:14
    Não vai fazer falta nenhuma!!!

Destaques V+