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Vaticano

Homossexualidade continua a ser impedimento à ordenação de padres

09 dez, 2016 - 11:08 • Filipe d'Avillez com Ecclesia

Maturidade sexual e afectiva é condição para ordenação na Igreja Católica. Novos padres devem ter formação sobre questões ecológicas e seminários de Lisboa vão ter de ser reorganizados.

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A importância da “formação integral” e da maturidade psíquica, sexual e afectiva é um dos aspectos mais sublinhados no documento divulgado esta sexta-feira, mas com data de quinta, pela Congregação para o Clero, da Santa Sé, sobre a formação dos seminaristas, candidatos ao sacerdócio na Igreja Católica.

A “Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis”é actualizada 46 anos depois, procurando unir de “modo equilibrado as dimensões humana, espiritual, intelectual e pastoral, através de um caminho pedagógico gradual e personalizado”.

O documento passa agora a incluir uma instrução de 2005 sobre a admissão aos seminários e ao sacerdócio de “pessoas com tendências homossexuais”.

A Igreja, pode ler-se, respeitando as pessoas envolvidas, “não pode admitir ao seminário nem às ordens sagradas os que praticam a homossexualidade, apresentem tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiem o que se conhece como cultura gay”.

Os orientadores dos seminários são chamados a ter em atenção a necessidade de avaliar se um seminarista atingiu a “afectividade madura, serena e livre, casta e fiel ao celibato", exigida pela Igreja Católica.

O reitor do seminário dos Olivais, do Patriarcado de Lisboa, explica que "a Igreja acredita que a questão da homossexualidade traz muitas vezes uma percepção de si e de alguma dissociação entre aquilo que é a dimensão física e corporal como significativo de um dom de Deus, e depois uma percepção espiritual e relacional como distinta dessa realidade. Esta percepção de distinção dificulta a unidade e portanto, se à partida é assumido como 'a minha identidade' a Igreja aconselha a que nem sequer sejam orientados para o ministério sacerdotal".

O padre José Miguel Pereira acrescenta, contudo, que este impedimento à ordenação não impede de forma alguma que as pessoa em questão não sejam integradas de outras formas na vida da Igreja.

O novo decreto, promulgado na solenidade da Imaculada Conceição, defende ainda que deve ser prestada “máxima atenção ao tema da tutela dos menores e dos adultos vulneráveis”, evitando admitir ao seminário pessoas ligadas a “delitos ou situações problemáticas” relacionadas com abusos sexuais.

Ecologia

Uma das novidades desta nova versão do documento é a recomendação de que os seminaristas recebam formação em questões de ecologia e defesa do ambiente. Fica assim expressa uma das prioridades do pontificado do Papa Francisco, que publicou em 2015 a primeira encíclica papal sobre questões ecológicas, Laudato Si'.

"Há algum tempo que a atenção de especialistas e estudiosos dedicados a diversas áreas de pesquisa se vem concentrando sobre uma emergente crise planetária, que encontra grande eco no actual magistério e diz respeito ao 'problema ecológico'. A salvaguarda da criação e o cuidado com a nossa casa comum - a Terra - inserem-se na visão cristã do homem e da realidade a pleno título, representando, de certo modo, o pano de fundo para uma sadia ecologia nas relações humanas", lê-se.

Mesmo a nível organizacional, o novo documento obrigará a mudanças nos seminários portugueses. Em Lisboa por exemplo, onde se formam seminaristas de várias dioceses portuguesas e também de Cabo Verde, existem dois seminários. No primeiro, em Caparide, no Estoril, os alunos fazem o ano de discernimento, o propedêutico, seguido da formação vocacional. A segunda fase, a pastoral, tem lugar no Seminário dos Olivais, em Moscavide. Ora as novas instruções pedem a autonomização do ano propedêutico e a integração num só seminário das etapas pastorais e vocacionais, mantendo todavia, uma formação distinta. Assim, nos próximos tempos, os seminaristas da etapa vocacional deverão passar para o Seminário dos Olivais, ficando Caparide apenas para os alunos do ano propedêutico, explica o padre José Miguel Pereira.

Outra alteração tem a ver com a introdução de uma fase de experiência pastoral que deve ocorrer antes da ordenação. Assim, terminados os estudos, os alunos devem ser integrados numa paróquia onde trabalharão ao lado dos párocos locais durante um determinado tempo, antes de poderem solicitar a ordenação.

Humanidade, espiritualidade e discernimento

Em declarações ao jornal "L'Osservatore Romano", o cardeal Beniamino Stella, prefeito da Congregação para o Clero, explica que a nova "ratio" procura “superar alguns automatismos que foram criados no passado”, e propor um “caminho de formação integral que ajude a pessoa a amadurecer em todos os aspetos”, com atenção à dimensão “humana, espiritual e pastoral”.

Para este responsável, as três palavras-chave para a compreensão do documento são “humanidade, espiritualidade e discernimento”.

O texto realça a importância de não limitar a avaliação dos candidatos ao sacerdócio ao percurso académico. "Um discernimento global, realizado pelos formadores sobre todos os âmbitos da formação, consentirá a passagem para a etapa sucessiva somente daqueles seminaristas que, mesmo tendo superado os exames previstos, tenham alcançado o grau de maturidade humana e vocacional requerido em cada fase", pode ler-se.

O novo decreto, intitulado 'O dom da vocação presbiteral', de mais de 80 páginas, está disponível na internet.

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