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No Sudão do Sul "as pessoas são mortas como animais"

02 dez, 2016 - 10:48

Cerca de um milhão de pessoas já fugiu do país. A comissária das Nações Unidas, Yasmin Sooka, alerta para um genocídio em curso e fala de uma reprodução da guerra civil de Ruanda.

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No país mais novo do mundo, o Sudão do Sul, já se fala em “genocídio”. As acusações partem do Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos do Sudão do Sul.

“O palco já está montado para uma repetição do que aconteceu em Ruanda [, em 1994]”, disse a comissária Yasmin Sooka, na passada quarta-feira. “E a comunidade internacional tem como obrigação preveni-lo”, continuou.

O país conseguiu a independência em 2011, mas Salva Kiir e Reik Machar, presidente e antigo vice-presidente do país respectivamente, começaram uma luta pelo poder, há quase três anos. Os conflitos separam a etnia Dinka, que está do lado de Kiir, e os Nuer, que lutam por Machar.

Sooka assegura que já está em curso “um processo de limpeza étnica” em várias zonas do país que recorre a violações, escoamento de recursos alimentares e incêndios. “Por todo o lado, ouvimos pessoas que dizem estar preparadas para derramar sangue a fim de reaver as suas terras”, disse a comissária. Sooka acredita que se instalou uma situação “sem retorno”.

O número de mortes estimado varia entre 50 mil e 300 mil. Esta escala indefinida deve-se, segundo Casie Copeland, investigadora no International Crisis Group, a uma “chocante falta de humanidade”.

As etnias em conflito, Dinka e Nuer, são as dominantes num país formado por 64 grupos étnicos distintos com crenças e idiomas próprios.

Um milhão de deslocados. “As pessoas são mortas como se se tratassem de animais”

Charity Mandulu está num campo de refugiados da República Democrática do Congo. Foi obrigada a fugir de Tore Payam assim que cerca 100 soldados do presidente Salva Kiir chegaram à aldeia.

“Eles começaram a pedir-nos coisas. Se não as dessemos, morríamos”, disse Charity à Reuters. Deixou para trás um filho de 10 anos, que morava com uma tia. O marido estava na altura na capital, Juba. Desde então, não tem notícias da família.

Também no campo de refugiados de Karukwat, no Congo, está Ferana Lavirck, de 23 anos. Ferana fala de um conflito entre as tropas do Governo e os rebeldes opositores. “As raparigas foram violadas. Já não há segurança. Foi tudo destruído. As pessoas são mortas como se se tratassem de animais”.

Estima-se que estejam no Congo cerca de 64 mil refugiados vindos do Sudão do Sul. No Uganda, entram por dia quatro mil pessoas para o campo de Bidibidi, aberto desde Agosto. Neste momento, acolhe um total de 188 mil refugiados do Sudão do Sul.

A guerra civil já provocou o deslocamento de um milhão de pessoas desde Dezembro de 2013, data do início dos conflitos, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Este é o maior êxodo em massa na África Central desde o genocídio étnico de Ruanda, em 1994.

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  • manuel
    02 dez, 2016 lisboa 15:44
    Eles tambem sao muitos

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