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Fidel. Ditador maior que o país, com romantismo e crueldade

02 dez, 2016 - 15:12

Pedro Santana Lopes e António Vitorino analisam na Renascença o percurso histórico de Fidel Castro, que liderou os destinos de Cuba durante meio século.

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Ditaduras são ditaduras, qualquer que seja a inspiração ideológica. Com esta frase, António Vitorino coloca um ponto prévio na análise que faz à figura de Fidel Castro, que morreu aos 90 anos em Havana.

“Toda esta controvérsia revela um personagem maior que o país, que se projectou para além das fronteiras do seu país. Aquilo que fez em Cuba ao longo de 50 anos tem também aspectos positivos, do ponto de vista da educação, da saúde. A questão é que os benefícios sociais não apagam a natureza do regime”, diz o antigo ministro socialista no programa Fora da Caixa.

Para Vitorino, o regime imposto por Fidel é, por esta ordem, nacionalista, autoritário e comunista. “Historicamente, a revolução de 1959 é uma revolução nacionalista, pela soberania e independência de Cuba, contra a dominação colonial americana. O regime, ao tomar o poder, torna-se autoritário. Com o embargo americano, vai entregar-se nas mãos da União Soviética. Para consolidar o seu próprio regime, adopta a ideologia comunista”, analisa o antigo comissário europeu.

Pedro Santana Lopes começa também por clarificar que Fidel sobreviveu politicamente ao longo dos anos porque não tinha eleições. “Não digo se ganhava ou perdia, mas não podemos perder esse ponto”, anota o ex-primeiro-ministro, que reconhece que o embargo norte-americano constituiu também um “cimento aglutinador da resistência cubana”.

Santana reconhece que a luta pela independência nacional “é uma causa sempre simpática”, mas conclui que Fidel impôs uma ditadura em Cuba “com alguns laivos de romantismo, mas com alguns requintes de crueldade”.

Trump e os negócios em Havana

Com Raúl Castro ao leme, os últimos anos viram nascer um novo capítulo nas relações entre Cuba e os Estados Unidos, mais distendidas que nunca desde os anos 60 do século passado. A eleição de Donald Trump pode motivar alterações na estratégia norte-americana, segundo diversos analistas.

“Acho que vai haver um retrocesso, sem dúvida alguma. Será o retomar da situação antes de Obama? Parece-me difícil, porque com o fim de Fidel Castro há também uma certa forma de fim de regime”, observa António Vitorino, que pouco confia no que Trump vai escrevendo nas redes sociais sobre as suas opções de política externa.

“O problema agora coloca-se agora em tentar encontrar em Cuba uma via de saída para um regime que se esgotou. O regime está esgotado. A comunidade internacional e os Estados Unidos em particular, por muito canhestro que seja o senhor Trump, não podem deixar de dar abertura a isso”, complementa o antigo comissário europeu.

Já Santana acrescenta que Trump é também um homem sensível às possibilidades de negócio. “Como todos sabemos, em Cuba haverá algumas. Dentro dos impulsos económicos que quer dar, julgo que Trump não deixará de ser sensível ao que Cuba pode representar para muitos empresários e empresas americanas”, admite o antigo primeiro-ministro.

Comentários
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  • Mafurra
    12 dez, 2016 Lisboa 18:15
    Só mesmo os comunistas para AINDA alguém gostar dele !
  • Nuno
    02 dez, 2016 V.N.Gaia 18:20
    Sr. Fernando .No tempo de Salazar também não havia crianças a dormir na rua. Quanto aos poderosos, podia ser odiado, mas era respeitado, e agora????????
  • manuel moreira de ca
    02 dez, 2016 faro 16:24
    Não passa de um Ditator e como tal um tirano que nao faz falta nenhuma........quantas vidas esse senhor matou ou mandou matar
  • fernando
    02 dez, 2016 braga 16:15
    "esta noite milhões de crianças dormirão na rua, nenhuma delas é cubana" Fidel Castro em 98. Não gostam de Fidel porque ele fez sempre voz grossa aos poderosos.
  • tuga
    02 dez, 2016 lisboa 15:55
    Na faixa de GAZA não há crueldade?? em portugal? 2milhões de pobres com fome. milhares de crianças com fome, meio milhão de desempregados e o estado com o dinheiro dos nossos impostos a pagar vencimentos milionários a gestores públicos, com mais relevância para os da CGD!! não há aqui crueldade??? Mas podemos ladrar à vontade!!!!
  • FIDEL DITADOR
    02 dez, 2016 Lx 15:46
    Este kamarada é um facínora, um ditador, um verdugo, um impostor, um bandalho que agriolhou o povo durante mais de 55 anos.Ainda falam no Salazar...Este ao pé deste bandalho era um menino do coro... E temos de levar com o espectáculo do funeral do ditador durante 9 dias....uma tristeza. Melhor seria trazerem oi ditador para a sede do PCP onde poderia ser adorado pelo geringonço do kamarada Jerónimo e seus fiéis seguidores...

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