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Podem os seres do mar ajudar a viver com dor crónica?

14 nov, 2016 - 08:33

Algas marinhas e moluscos podem ser substitutos da morfina, descobriram investigadores portugueses.

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A dor crónica afecta cerca de 30% da população mundial, para a qual não existe um tratamento eficaz. Das águas do Algarve surge um novo analgésico que está a ser desenvolvido pela empresa portuguesa de biotecnologia Sea4us, cujo princípio activo é fornecido por organismos marinhos.

Iniciada há seis anos, a pesquisa demonstrou resultados eficazes em laboratório no combate à dor crónica, encontrando-se numa fase avançada: “Procura-se um método de sintetizar artificialmente a fórmula para produzir em quantidade, para que o medicamento possa chegar a toda a gente”, disse à agência Lusa Pedro Lima, neurofisiologista, biólogo e um dos investigadores da empresa.

“O princípio activo está identificado, já o conseguimos purificar e, actualmente, existem três fórmulas que têm a actividade analgésica para a dor persistente”, explicou o investigador, adiantando que “o processo está a ser trabalhado em conjunto com os químicos da Universidade Nova de Lisboa”.

Segundo Pedro Lima, a produção sintética “é o caminho preferido, ao representar uma grande vantagem em termos de sustentabilidade ecológica, evitando a retirada de grandes quantidades de organismos marinhos, mesmo que não tenham valor comercial”.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a dor crónica afecta cerca de 30% da população mundial, para a qual não existe um tratamento eficaz, sem efeitos secundários significativos nos doentes.

O investigador frisou que o projecto desenvolvido em Portugal, “é pioneiro, porque é a primeira vez que se tenta encontrar a solução para a dor crónica no mar”, embora exista muita investigação acerca do flagelo que atinge uma grande percentagem da população mundial.

“É um fármaco de grande eficácia, com efeitos secundários vestigiais, não sendo previsível qualquer habituação ou dependência, actuando especificamente numa proteína localizada nos gânglios neuronais situados fora da coluna vertebral, ao contrário dos opióides e outros medicamentos utilizados no tratamento da dor”, assegurou o investigador.

O organismo invertebrado marinho que contém o princípio activo para a produção do analgésico, foi identificado no mar de Sagres, um dos dois pólos da empresa de biotecnologia, onde se desenvolvem as actividades de mergulho e a triagem e preservação das espécies.

Em Sagres, os organismos são recolhidos, catalogados e imortalizados, seguindo depois para o laboratório da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, para serem efectuados os testes de neuroactividade.

Uma "grande ajuda" 100% nacional

“É retirado um extracto impuro do seu composto, estudado o efeito analgésico, e tenta-se atingir a parte indivisível ou seja, a fórmula que constitui o valor bioactivo”, explicou Pedro Lima, acrescentando que, “nesta fase da investigação, existe a convicção de que daqui vai sair uma grande ajuda para quem sofre de dor crónica”.

Contudo, refere, existe ainda um longo caminho a percorrer até que o medicamento possa ser comercializado, "pois são necessários, em média, 12 anos desde a descoberta do princípio activo até à colocação do fármaco no mercado”.

“Não queremos fazer o caminho todo, mas sim chegar a um ponto em que o valor seja suficiente para mitigar o risco e vender para que possa ser produzido pela indústria farmacêutica”, frisou.

O investigador disse, ainda, que “a pesquisa tem sido possível com os apoios de várias entidades, nomeadamente da Universidade Nova de Lisboa e da Câmara de Vila do Bispo”.

Por seu turno, o presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, assegurou que o projecto “vai continuar a ser apoiado, pois é de todo o interesse, não só para quem sofre de dor crónica, mas também para se conhecerem as potencialidades do território”.

“A investigação serve para identificar e criar condições para que as gerações vindouras possam ter aqui uma matéria de conhecimento com elevado rigor científico”, destacou.

Além do desenvolvimento do analgésico para a dor crónica, a ‘Sea4us’ está envolvida na identificação e selecção de espécimes marinhos com potencial para a produção de outros medicamentos, em parceria com laboratórios europeus.

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  • Ivo Pestana
    14 nov, 2016 funchal 14:44
    Mas a minha dor é a Depressão. A morfina não dá. Bom trabalho.

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