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A vitória de Trump e o muro que separa média e sondagens do eleitor

09 nov, 2016 - 09:13

"Foi uma noite completamente surpreendente, chocante num certo sentido", diz Bernardo Pires de Lima.

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O elogio a Hillary no discurso de vitória de Trump
O elogio a Hillary no discurso de vitória de Trump


A vitória “surpreendente” e “chocante” do candidato republicano Donald Trump nas presidenciais nos Estados Unidos revela um enorme desfasamento entre sondagens, meios de comunicação social e o eleitor real, disse o investigador Bernardo Pires de Lima.

O candidato do Partido Republicano, Donald Trump, venceu as eleições presidenciais, ao conquistar mais de 270 grandes eleitores (o número mínimo necessário) do Colégio Eleitoral, órgão que elege o chefe de Estado norte-americano. Trump será o 45.º Presidente dos Estados Unidos.

“Foi uma noite completamente surpreendente, chocante num certo sentido, que revelou um enorme desfasamento entre as linhas editoriais dos principais órgãos de comunicação americanos e a grande indústria das empresas de sondagens, e a realidade do eleitor”, afirmou à agência Lusa o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL), a partir de Washington.

Numa primeira análise aos resultados da longa noite eleitoral americana, Bernardo Pires de Lima indicou que existiu um exagero sobre o apoio que determinados e anteriores eleitorados do Presidente democrata Barack Obama, como os afro-americanos, os "millenniums" (jovens) e as mulheres iriam dar à candidata democrata Hillary Clinton, a grande derrotada das presidenciais.

Existiu também, segundo o especialista, “uma falta de leitura ou uma leitura errada” que “desprezou, provavelmente, o eleitor branco de Trump que estava escondido, que não vinha nas sondagens, que não vinha nas amostras”.

“Isso acaba por ser uma segunda volta do referendo inglês [Brexit], no sentido em que as sondagens também falharam em Inglaterra e não mediram o pulso a um enorme segmento do eleitorado”, prosseguiu.

A força dos ímpetos proteccionistas

Para Bernardo Pires de Lima, a noite eleitoral nos Estados Unidos espelhou a “dissonância entre a medição do pulso eleitoral e a realidade, e marcou profundamente um fim de uma era, uma era em que os Presidentes norte-americanos eram os líderes do mundo livre – como são apelidados – e hoje temos um Presidente eleito apoiado pelo Ku Klux Klan [movimento de supremacia branca], que tem um discurso antiliberal aberto, proteccionista, nacionalista, de medo”.

E salientou que esta figura (Donald Trump) não é exclusiva dos Estados Unidos.

“À medida que vamos temporizando e desprezando o que vai acontecendo em vários países, desde a Hungria, à Polónia, à Rússia, à Turquia, a França, ao Brexit, achamos que as instituições vão contendo estes ímpetos proteccionistas, nacionalistas e xenófobos. Quando damos por ela, há um Trump que é eleito”, frisou.

“Temos aqui um exemplo paradigmático do falhanço da moderação política, da forma de fazer política tradicional e de passar a mensagem da moderação”, concluiu o investigador.

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  • Augusto Nobre
    10 nov, 2016 Olhão 12:26
    A vitória de Trump não me surpreendeu. Até ganhei um jantar numa aposta com um grupo de amigos. Infelizmente a comunicação social portuguesa e estrangeira andaram a dar opiniões baseadas no desejo pessoal dos jornalistas e não na realidade da sociedade americana. Com as empresas de sondagens passou-se o mesmo. Não perceberam que os motivos que levaram à eleição de Obama foram os mesmos que levaram à eleição de Trump. Acreditaram os "média" que haveria uma transferência automática dos votantes de Obama para Hillary Cinton, ela própria acreditou nisso. O voto em Obama não foi ideológico, se fosse transferia-se para H. Clinton, esse foi o grande erro de jornais e TVs. O voto em Obama e agora em Trump foi um voto de revolta. Razão pela qual as minorias a quem Trump, os brancos pobres, veteranos de guerra, etc, a quem Trump ofendeu nos seus discursos, acabaram por votar nele. Porquê ? Por se estarem nas tintas para o sistema. Jornais e TVs que tanto gostam de ver a América e outros países em números e percentagens, não vão ao fundo das questões e tratam tudo pela rama. Diz quem sabe que a América tem neste momento 5% de desempregados e está em bom crescimento económico. Mas os jornais e TVs não dizem o resto. Os trabalhadores americanos ganham actualmente quase metade do valor horário que ganhavam há dez anos. O nível de vida é muito mais baixo. Os americanos têm sentido na pele os custos dos acordos comerciais com países terceiros de mão de obra barata. Ninguém vê nada.
  • melough
    09 nov, 2016 faro 23:19
    Em Portugal fomos enganados por todos os meios de comunicação ( Especialmente Jornais e televisão) apresentaram Hillary como vencedora antecipada e o Trump como o mau da fita (sem a mínima hipótese) A comunicação prestou um mau serviço e o tiro saiu-os pela culatra.
  • Madala
    09 nov, 2016 Évora 13:00
    Uma estrondosa derrota para os jornais e tvs de todo o mundo que tudo fizeram paea levar a dona à casa branca. Gostei não só por isso mas também porque ela seria a continuação da politica da confrontação com a Rússia. Espero que volte a paz e que ambos se entendam .
  • Jose Rodrigues
    09 nov, 2016 Sintra 11:47
    Moveram o céu e a terra para impedir a vitória de Trump, demonizando-o de todas as formas possiveis e imaginárias. Os "repetidores"/opinion makers todos se uniram contra ele. As sondagens, todas, também se uniram contra ele. Uma vez mais o povo falou mais alto. O movimento que foi lançado na Grécia com o Syriza, continua e continuará a mudar a "ordem" instalada. A democracia está viva!
  • Filomena Araujo
    09 nov, 2016 Costa da Caparica 11:39
    O que demonstra que existe a tentativa da influencia da comunicação social, mas as pessoas tem a sua própria opinião. Quem comenta não comenta com isenção mas sim agarrado as suas referencias. O povo americano entre a exposição do segredo de estado e um "desbocado", preferiu um "desbocado"!
  • a
    09 nov, 2016 a 11:17
    Parece que andam para aí uns iluminados (nóbeis) que ainda pensam que tudo gira em volta deles. Se os estadudinenses votaram em Donald Trump foi porque quiseram. E agora vamos dizer "Como é possóvel!?" Afinal o voto vale alguma coisa ou não? Será que ele ganhou só com os votos dos tais misógenos? Os jornaleiros ainda têm muito que aprender...
  • atento
    09 nov, 2016 Aveiro 10:02
    Qual a % de abstenção? Não terão sido muitos mal influenciados pelas sondagens que davam clara vitória a clinton? Se já ganhou nem vale a pena ir votar.
  • Antonio Ferreira
    09 nov, 2016 Porto 10:02
    A vitória de Donald Trump pode ser lida como boa notícia para o mundo. Eu sei que não vão interpretar, correctamente, as minhas palavras e, como sempre irão dizer que sou apoiante de Donald Trump. Isso é normal, porque vivemos num mundo do ´´ politicamente correcto ´´, nem nos deixam explicar o nosso pensamento e já lhe estão a colocar rótulos. É a isto que chamam democracia, ou seja, ninguém tem direito e desviar-se do pensamento dominante dos sistemas partidários porque é logo rotulado, de isto e daquilo. Não terei espaço para explicar a minha afirmação inicial e, por isso, vou ter de resumi-la. Espero que alguns consigam chegar lá. A vitória de Donald Trump, representa a frontalidade contra o varrer para debaixo do tapete as ; incompetências, os interesses, a falta de capacidade de explicar as coisas reais às pessoas, em resumo a falta de capacidade de construir uma alternativa, a este mundo a cair de ´´ podre ´´. Sim ! Na verdade só temos duas vias para podermos respirar ou não. Ou escolhemos a frontalidade de Donald Trump e vamos ter o mesmo, para com práticas frontais e desejadas por uns e indesejadas por outros, mas deixamos de varrer para debaixo do tapete as hipocrisias que têm dominado os discursos dos políticos a nível mundial. A outra via é a de sermos sérios com nós mesmos e percebermos que basta de ; ganância desmedida, de sede de poder, de governação por vaidade sem competência e arrogância, de pensarmos mais em partilha e menos corrupção, etc. etc. ........

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