08 nov, 2016 - 14:14
O antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso considera que a polémica em torno da sua ida para o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs se deveu a uma "atitude negativa" da Europa face aos Estados Unidos.
"Na Europa, em alguns sectores, existe uma atitude negativa face aos Estados Unidos, face a tudo o que vem dos Estados Unidos. E acho que é um erro, porque há diferenças entre os Estados Unidos e a Europa, mas, basicamente, precisamos de ter um mercado conjunto. As oportunidades para o crescimento e o emprego são enormes", defendeu esta terça-feira durante uma conferência na Web Summit, que decorre em Lisboa.
A ida de José Manuel Durão Barroso para o banco de investimento Goldman Sachs suscitou muitas críticas, incluindo do Presidente francês, François Hollande, e uma petição impulsionada por funcionários das instituições europeias, que reuniu mais de 150 mil assinaturas.
O documento reclamava "medidas fortes" para pôr fim à chamada "porta giratória" em Bruxelas (a passagem de antigos comissários para cargos no sector privado que coloquem em causa a reputação das instituições da UE).
Durão Barroso, que foi presidente da Comissão entre 2004 e 2014, assinou pelo Goldman Sachs após um período de "nojo" superior a 18 meses, respeitando assim a regra em vigor na Comissão Europeia.
"Como sabe, a Comissão Europeia acaba de salientar que eu respeitei todas as regras éticas. Mas o próprio facto de a questão ter sido levantada mostra uma atitude negativa de muita gente face à finança internacional e, neste caso, uma instituição norte-americana”, afirmou esta terça-feira.
“E mostra que ainda há muitas atitudes negativas culturais na Europa contra o novo mundo, o mundo financeiro, o mundo integrado e global em que vivemos", criticou ainda, reforçando que, “neste mundo de transformação digital, precisamos de um contributo mais inovador da Finança”.
“Muitas das 'startups' que foram um sucesso nos Estados Unidos prosperaram porque tinham 'venture capital' (capital de risco)" e os Estados Unidos "investiram 20 vezes mais [neste sector] do que na Europa".
Na sequência da polémica protagonizada por Durão Barroso, o actual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, pretende alargar de um ano e meio para três anos o período de "nojo" durante o qual o presidente do órgão executivo da União Europeia tem de pedir permissão ao ex-empregador para trabalhar para grupo privado.
Outra decisão de Juncker foi retirar privilégios a Durão Barroso como antigo presidente do executivo comunitário. O português passa, assim, a ser recebido em Bruxelas “como um representante de um interesse sujeito às mesmas regras dos lobistas”.
Na sua qualidade de ex-presidente da Comissão Europeia e como ex-primeiro-ministro de um Estado-membro, Barroso teria o direito a um "tratamento VIP" por parte dos líderes e instituições europeias em Bruxelas.