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Aguiar da Beira. A Polícia é incompetente porque 200 homens não apanham um?

17 out, 2016 - 20:08 • João Carlos Malta

Um coordenador da PJ e um ex-ministro da Administração Interna ajudam a dar a resposta. Os portugueses seguem há uma semana pela televisão a caça ao homem, expressão que as forças policiais odeiam.

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Aguiar da Beira. O percurso do criminoso mais procurado de Portugal
Aguiar da Beira. O percurso do criminoso mais procurado de Portugal

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Um homem (talvez com algumas ajudas) contra 200, durante seis dias. O país está a assistir em directo à fuga do duplo homicida Pedro Dias, de 44 anos. O suspeito já fugiu a emboscadas, a perseguições e não tombou. O que é que isto diz da acção policial e da estratégia seguida pelas forças de segurança?

“Não podemos pensar que, por estarmos do lado de cumprimento da lei, somos os únicos seres pensantes. Os bandidos também pensam. Também têm inteligência, têm planos de preparação e planos de contingência e sobrevivência, como neste caso”, avalia um dos elementos da Polícia Judiciária (PJ) que está na investigação do caso, o coordenador da directoria da Guarda, José Monteiro.

Inteligente e meticuloso

Para o responsável da PJ, Pedro Dias é “um individuo muito inteligente e que preparou convenientemente a possibilidade de isto acontecer”.

Por outro lado, a orografia da zona de Arouca, de onde o fugitivo é originário, é de “alta densidade florestal” e onde “ele conhece todos os trilhos e até pode ter esconderijos”.

Há ainda que ter em atenção que o foragido está “fortemente armado” pelo menos com uma das armas que roubou à GNR. “Tem mais de 40 munições e já deu quatro tiros na cabeça a cidadãos”, sublinha.

Por isso, José Monteiro não crê que a caça ao homem, expressão que odeia por ser simplista, esteja a ser mais demorada do que seria suposto. Faz uma auto-avaliação positiva à actuação das autoridades.

“Este assunto está a correr muitíssimo bem, porque nós podíamos estar ao quinto ou sexto dia [de fuga] com três ou quatro homicídios e não sabermos quem é o autor”, explica.

“Neste momento a história está esclarecida, a não ser que haja uma grande surpresa. Temos um grau de certeza e de evidência”, adianta José Monteiro.

O caso, defende, não é “uma guerra desenfreada” e a progressão das polícias tem de ser feita “com cálculo e previsibilidade”. “Tragédia, já temos que chegue”, argumenta José Monteiro.

Um contra 200

Mas será que é normal um só homem conseguir fugir a 200? Rui Pereira, ex-ministro da Administração Interna de um dos governos de José Sócrates, diz que não se pode falar de incompetência das autoridades policiais.

“A ideia [de incompetência] é generalizada, mas é descabida. É de quem não percebe o que é uma perseguição ou uma busca. Isso não tem sentido nenhum. Se uma pessoa se esconder num sítio inacessível ou num sítio não conhecido as coisas não se podem pôr dessa forma”, argumenta o ex-governante.

O coordenador da PJ da Guarda também desdramatiza e enfatiza a perícia de Pedro Dias. “Ele foge porque teve habilidade suficiente. Não é que não tivessem sido adoptadas todas as medidas que a situação impunha. Não foram é eficazes. Mas já o foram para recuperar armas e outros objectos importantíssimos para a investigação”.

José Monteiro enquadra o caso argumentando que Pedro Dias, “infelizmente, não é o primeiro foragido da história de Portugal e não há-de ser o último.”

A estratégia passa por ser sereno e tranquilo, não haver precipitações. “Nós prendemos assaltantes a bancos, homicidas, associações criminosas, todos os dias”, avança Monteiro.

“Às vezes, vemo-los a fazer os assaltos e não estão criadas as condições de segurança, nossa, deles e das próprias populações. Eles seguem a vidinha deles e quando menos esperam, ou quando achamos que do ponto de vista táctico é oportuno, avançamos para eles”, ilustra.

Rui Pereira também relativiza este “jogo do gato e do rato.” “Não só em Portugal mas também nos EUA, onde a imagem da polícia é sólida, há pessoas que fogem à justiça durante anos e anos. Nem sempre a perseguição é coroada de sucesso sobretudo quando o perseguido conhece bem o terreno e pode ter as suas cumplicidades”.

Houve perda de tempo por falta de informação?

José Monteiro conta à Renascença que só cerca de 12 horas depois dos primeiros crimes de Pedro Dias é que a PJ conseguiu recriar os passos do suspeito de duplo homicídio com maior grau de fiabilidade. O coordenador da Judiciária garante que isso não atrasou a polícia.

“Não punha as coisas dessa forma. Tínhamos a informação, mas não toda a informação. A que estava disponível no início é susceptível de várias leituras e de várias interpretações. Começaram até a surgir notícias que tinha sido uma emboscada”, lembra.

Neste tempo, a PJ quis juntar provas que relacionassem o suspeito com o crime. “Vivemos num Estado de direito e temos de ter provas para que quando o levarmos a um juiz haja consistência no caso”, explica José Monteiro.

Mas era mais importante deter o homem ou juntar prova? “As duas coisas são importantes, porque se eu detiver o homem e não tiver prova suficiente de que foi ele, nesta fase de forma indiciária, o que é que acontece? O juiz não consegue aplicar-lhe uma medida de coacção adequada.”

Perseguir sem estratégia pode aumentar a tragédia

José Monteiro sublinha que, apesar da cautela que se deve ter neste caso, a localização do homem mais procurado de Portugal “é uma urgência.”

Mas o coordenador da PJ não concorda que a captura do homem seja mais rápida e com menos danos colaterais se ele se sentir acossado.

“Se ele estiver quieto, ele representa um nível de perigo. Mas se a Polícia e a GNR estiverem a fazer perseguições de forma inopinada, sem estratégia concertada, o perigo aumenta porque ele está por tudo. A qualquer momento pode fazer uma coisa pior”, avisa.

A PJ acredita que Pedro Dias está ferido e debilitado, mas nem por isso canta vitória. “O que vai acontecer? Se ele vai conseguir escapar outra vez, ou não? Não faço ideia”, sublinha José Monteiro.

Aguiar da Beira. O percurso do criminoso mais procurado de Portugal
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Comentários
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  • Trabalho com risco
    01 nov, 2016 Lisboa 09:26
    Fez isto, fez aquilo, esteve ali, esteve acolá , sim e não , dúvidas, prognósticos . A PJ é a polícia indicada para este caso , a qual poderá conseguir fazer a detenção , mas também pode contar com noventa por cento de fracasso, porque não se trata de um individuo qualquer.Como tal há muito trabalho a fazer. Já demonstrou que tem raciocínio , capacidades físicas ,não se amedronta com facilidade , domina o meio e sabe gerir com argúcia a sua proteção. É evidente que perante a criminalidade existente há os que são apanhados e os que não são . A criminalidade aumenta assustadoramente ,mais nas idades jovens que se predispõem a estes atos , pensando que obtêm ganhos fáceis , para os quais é preciso ter uma polícia especializada , atenta e preparada.
  • Deixem o caso à PJ
    21 out, 2016 Fornos 11:27
    Normalmente quando há um individuo assim ou até mesmo desaparecido há sempre quem os tenha visto mesmo noutros países só que depois nada corresponde. Tanto carro e tanta polícia para quê? Impressionar ? A PJ é que é vocacionada para casos destes. Os resultados até agora não resolveram o que polícia queria. A PJ é mais preparada e do que suficiente para um caso destes.
  • rosinda
    19 out, 2016 palmela 23:27
    um matador chique e mais dificil de apanhar!Provavelmente ninguem o avistou cada um diz o que se lembra ainda nao consegui perceber qual era a profissao deste senhor sera matador, criador de cavalos , ou proprietario da tesouro do campo lda?
  • Afonso Dias
    19 out, 2016 V Real 22:36
    Polis é. ...cada macaco no seu galho. Isto não é uma guerra. E aí temos melhor que os Rangeres. Isto é um ato criminoso e temo uma polícia competente para a investigação. O show de bola das televisões está a prejudicar a investigação no que toca à localização do suspeito. Todos tem direito à informação, à verdade é tem havido desvio à verdade material! A investigação dos crimes não é da competência da GNR. Para que continua no local/ais? O suspeito sabe bem porque não pode, de momento, entregar-se, muito menos armado. Será que não procurou as instalações da OH em Vila Real? Só podem aparecer resultados com tempo e serenidade!
  • tania anfiloquio
    19 out, 2016 Cela- Alcobaça 17:07
    Se nao houvesse tanta informação na tv, ja o tinham apanhado, a comunicação social ao informar de todos os passos que a gnr e a psp dão, estao a ajudá -lo, ou pensam que ele nao ouve as notícias? .
  • José
    19 out, 2016 Braga 16:14
    Os policias so sao peritos na caça as multas. No que diz respeito a caça aos bandidos, valem zero.
  • Antonia
    19 out, 2016 Queluz 10:10
    Desculpa.Seria bom contratar o homem para trabalhar na Polícia.
  • Antonio manuel costa
    19 out, 2016 Torre de moncorvo 10:00
    E uma vergonha este pais a gnr n tem preparaçoes para bater monte um so homem para 200 que vergonha com lamego ai ao lado metam os rangers isso sim adiantava os nossos governantes onde tem a cabeça caralho metam os rangers os portugueses para iso pagam nao pagam para perder a vida o estado que se envergonhe usem os drones
  • Joaquim Santos
    19 out, 2016 Mirandela 09:40
    Quem pensa que pode fazer melhor que vá para lá e que o apanhe, pois vir para aqui criticar e dizer mal é muito mais FÁCIL.
  • jose lago bom
    19 out, 2016 bern 08:10
    Em vez de utilizar os Drones para brincar.. Pode ser mais facil encontralo com esses brinquedos... : )

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