02 out, 2016 - 12:23 • José Pedro Frazão
Santana diz que “nem percebe” como a nova candidata búlgara é aceite na corrida ao cargo de Secretário Geral das Nações Unidas. Kristalina Georgieva aparece em cena quando o processo leva já meia dúzia de votações e audições em Nova Iorque, onde António Guterres consolida a sua vantagem semana após semana.
“Se a senhora já tinha isto tudo previsto e já se falava nisto há muito tempo, não percebo como é que um jogo de negociação impedia que se dissesse que não vale a pena ir por aí. Vira-se contra os próprios. Se António Guterres não for eleito, tudo isto redunda num circo. Não tem outro nome. Andaram a usar e a explorar as pessoas. Acho uma coisa burlesca e revoltante. Não vou mais além do que digo porque espero que António Guterres vença e não quero estar dar mais crédito a isto. Se ela for a votos e Guterres ficar outra vez à frente, quero ver como é que eles fazem. Com veto ou não veto a Guterres, se ele ficar à frente da outra senhora…”, desabafa Santana Lopes no programa “Fora da Caixa” da Renascença.
A candidatura da búlgara Kristalina Georgieva conta com um apoio português. O antigo eurodeputado Mário David, militante do PSD e homem muito próximo de Durão Barroso, confessou já que não se sente menos patriota por trabalhar numa candidatura que concorre contra António Guterres.
Santana Lopes prefere não aprofundar o tema, mas deixa um recado. “A ONU não é o Parlamento Europeu. Não são as divisões das famílias políticas europeias. O que está em causa na ONU é um processo transparente que até agora decorreu de uma forma que todos saudámos e de facto não é curial que apareça alguém que quer ir à Assembleia-Geral ser ouvida no fim do percurso”, insiste o antigo líder do PSD.
O vestido de Hillary e os pontos de Trump
A semana fica ainda marcada pelo debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos. Hillary Clinton e Donald Trump defrontaram-se na televisão a pouco mais de um mês das eleições norte-americanas. A generalidade dos analistas internacionais concedeu a vitória à antiga secretária de estado norte-americana.
“Acho que ganhou mais algum avanço com o debate”, considera Santana Lopes que começa por assinalar a estratégia televisiva de Clinton como arma de combate político no debate com Trump.
“Ela estava muito simpática. Achei engraçado ela escolher encarnado tão vivo [na roupa]. Ela escolheu porque era preciso dar uma imagem muito viçosa, de boa saúde, de força. Isto tudo vale. Seria mais natural ela escolher um vestido todo azul, neutro. Ela foi de encarnado, uma cor agressiva em televisão, a jogar com o louro do cabelo”, comenta Santana.
O antigo primeiro-ministro diz que este é um factor importante num debate na televisão. “ Fala quem já estudou e participou em algumas destas coisas. É importante que aquilo que leva não desvie dos olhos do seu olhar e que transmita tanto quanto possível uma imagem de tranquilidade”, explica o antigo chefe de governo na Renascença.
Santana considera que Trump marcou alguns pontos ao centro pela mera presença no debate. “Ele entrou na sala”, ilustra o comentador social-democrata, ainda que Hillary tenha ganho o debate, sobretudo por contraste com as posições mais radicais do seu oponente.
“Ela aproveitou extraordinariamente quando Trump disse aquelas coisas todas na política internacional. Ela fez só uma declaração para os lideres mundiais mas com grande efeito interno dizendo que os Estados Unidos têm palavra. Apesar do que ouvem, não se preocupem, vamos continuar a honrar os nossos compromissos, disse ela”, anota Santana Lopes.
“Os debates são importantes pelo menos para não perder. Hillary está à frente e não pode perder”, remata Pedro Santana Lopes.