Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Madre Teresa de Calcutá

​“O milagre gera milagres nas pessoas”

03 set, 2016 - 09:22 • Ângela Roque

Teólogo brasileiro conta em livro os “bastidores” do milagre que permitiu a canonização de Madre Teresa de Calcutá, a "mãe dos pobres”.

A+ / A-

Veja também:


Professor universitário de Teologia, Filosofia da Educação e Sociologia, João Carlos Almeida é um sacerdote brasileiro dehoniano, que quis saber mais sobre a cura inexplicável de um doente brasileiro, e que foi reconhecida como um milagre atribuído à intercessão de madre Teresa de Calcutá. No livro "O Milagre de Teresa", que acaba de ser lançado em Portugal pela editora Planeta, o sacerdote conta como este acontecimento extraordinário já tocou tanta gente.

Em entrevista à Renascença o padre João Almeida diz que a pesquisa que fez permitiu-lhe descobrir uma Santa a quem nunca tinha dado muita atenção, mas que hoje considera ter “a grandeza de um S. Francisco de Assis”, pela opção que fez pelos pobres, e que em termos de mística compara a Teresa de Ávila. E revela que há mais casos de cura inexplicáveis a passar pelas mãos do mesmo médico que, apesar do cepticismo, viajou para a Roma, para a cerimónia de canonização.

O que é que o levou a querer escrever este livro?

Só ouvi falar que tinha acontecido um facto extraordinário aqui no Brasil a 15 de Março deste ano, quando o Papa marcou a data da canonização para 4 de Setembro. O milagre que tinha sido aprovado dia 17 de Dezembro de 2015, dia do aniversário do Papa Francisco, ainda não era tão conhecido assim dos brasileiros. Ninguém imaginava que uma Santa nascida na Macedónia, que viveu na Índia, pudesse operar um milagre aqui, no lugar onde o Brasil praticamente surgiu, que é o lugar de Santos, S. Vicente, uma ilha onde os portugueses chegaram por volta de 1532 para começar a colonização. O milagre já tinha ocorrido em 2008. Sou teólogo e quis saber mais. Fui até lá.

Mas não foi só por curiosidade que avançou…

Dou aulas de teologia espiritual numa faculdade do interior do Vale do Paraíba, em S. Paulo, a faculdade Dehoniana, e essa é a área que eu estudo, a mística. O facto de ter acontecido no Brasil exigia uma palavra de um teólogo e fui convidado a fazer esse estudo. Depois o bispo de Santos, D. Tarcísio Scaramussa, também ficou muito feliz com a minha pesquisa, para ter uma palavra de um teólogo sobre o facto. Porque havia muita palavra jornalística, havia a palavra dos médicos, havia a palavra do próprio casal, que dá um testemunho afectivo e efectivo do que aconteceu com eles, mas faltava uma palavra que desse o significado do que é que é milagre, porque é que é esta oração, que elementos ela tem, e os bastidores do milagre ainda não estavam desvendados. Então, no livro eu procuro desvendar os “bastidores” do milagre de Teresa.

Então, foi a Santos e falou com imensa gente, como revela no livro.

Comecei por falar com a pessoa que a Igreja nomeou para comprovar se o milagre tinha sido milagre. Ele pouco sabia para além do que a Congregação para a Causa dos Santos tinha averiguado: que, de facto, era um facto extraordinário, sem explicação pela medicina e que, portanto, deveria ser considerado um milagre. Mas, e daí? Quem viu o milagre mesmo? Fui falar com o médico que acompanhou o doente e que já não chegou a fazer-lhe a cirurgia, porque o jovem ficou curado dos oito abcessos agravados por hidrocefalia. Foi a partir da conversa com o médico que foi surgindo todo o enredo do livro, que é como o relato de um viajante curioso, em busca da verdade sobre o milagre.

O que é que o médico lhe disse?

O médico não sabia explicar o que tinha acontecido, mas dizia que tinha estado lá um padre a rezar junto com a esposa deste doente. Fui falar com ele. Explicou-me o que aconteceu por detrás do facto extraordinário, que são as orações, a forma como a esposa o procurou, aflita por causa da doença, porque era praticamente um caso terminal, e como ele indicou a prece a madre Teresa de Calcutá, deu-lhe a relíquia, enfim, e ela levou isso para o hospital. Esse padre, muito simples, rezou comigo essa oração e comecei a analisar o significado da oração. Sou teólogo, trabalho com teologia espiritual e comecei a verificar os elementos do milagre, os elementos místicos e espirituais. Conversei também com as Missionárias da Caridade, que têm uma casa em Santos, para entender como esse milagre ocorrido em 2008 só ficou conhecido e famoso em 2015. E entrevistei também os médicos que comprovaram a inexplicabilidade do facto e que foram convidados pela Congregação para a Causa dos Santos, para verificar se, de facto, isso não poderia ter acontecido por uma medicação natural ou por algum procedimento que pudesse ser explicado por causas naturais. De facto nada explica, não há nenhum procedimento medicamentoso nem cirúrgico proporcional na cura, então a Igreja reconheceu que é um milagre.

Já voltou, depois disso, a conversar com o médico João Cabral, e até dedica um dos capítulos do livro a esse diálogo, do padre com o médico descrente. Ele continua céptico?

Ele continua médico, prefere acreditar na medicina. Mas vou-lhe dar uma novidade: na última semana (terça-feira) ele viajou para Roma para assistir à canonização. Sei que ele já teve um segundo caso nas mãos dele, que também é inexplicável e as pessoas também rezaram para a madre Teresa. Na última conversa que tivemos antes de ele embarcar, ele disse: ‘Vou acabar me convencendo’. Se é conversão ou não, fica nas mãos de Deus.

Madre Teresa, como figura da Igreja, já tinha suscitado a sua curiosidade enquanto teólogo?

Você acredita que não?! Por incrível que pareça. Dedico-me à pesquisa de santos mais clássicos, como Santa Teresa de Ávila, Santa Teresinha do Menino Jesus, tantas Teresas, não é? E Teresa de Calcutá para mim era uma Santa muito moderna. Hoje percebo que ela está entre os primeiros santos, de uma grandeza de S. Francisco de Assis. Ela seria a versão actual dessa opção pelos pobres. E na mística, pela forma como ela viveu a sua ‘noite escura’, ela tem a grandeza de uma Teresa de Ávila.

Nesta pesquisa, tive de usar todos os conhecimentos teológicos e pedagógicos que tenho, também sou doutorado em educação, e Madre Teresa de Calcutá foi uma professora, uma directora de escola durante 17 anos antes de se tornar missionária da caridade. Tive que estudar coisas que não dominava, como neurologia, porque o milagre foi a nível neurológico. Precisava de me convencer que de facto era inexplicável. Então consultei vários neurologistas, uns estão no livro e outros não, e só a partir do momento em que me convenci é que escrevi o livro.

Madre Teresa dedicou a vida aos pobres. Faz todo o sentido esta canonização acontecer no Ano da Misericórdia?

É. De facto é quase o coroar do Ano da Misericórdia. Claro que o rosto da misericórdia é Jesus, mas Madre Teresa de Calcutá é reflexo de Jesus misericordioso para o mundo moderno.

Porque é que diz que este livro pode ter uma leitura especial para os portugueses?

O capítulo 2 narra a minha viagem a Santos e resgata a história da chegada dos portugueses no Brasil. Um português ao ler o livro vai voltar 500 anos na História, relembrar a figura de Pedro Alvares Cabral, do Porto de Santos - que se chama Santos porque tem um porto de Santos em Portugal - e dessas duas nações irmãs. Vai lembrar uma viagem à Índia que não deu certo, porque Cabral ia para lá e acabou chegando no Brasil. E agora madre Teresa de Calcutá, da Índia, veio operar um milagre no Brasil, sob o olhar de um médico chamado João Cabral Júnior, filho de um padre português que veio para o Brasil e que acabou casando-se aqui. Chamava-se João Cabral. Isso tudo está no livro, nada disso é segredo, mas as pessoas não sabem destas histórias que estão nos bastidores do milagre, porque ‘milagre gera milagres’

São esses “bastidores” e essas ligações que pretende mostrar?

Quero mostrar que o milagre significa ‘maravilha’. Então, uma pessoa que se coloca diante um milagre, até por curiosidade, acaba por ser tocada pelo milagre, e no final diz ‘o Senhor fez em mim maravilhas’. O milagre gera milagres nessas pessoas.


Este domingo, veja em directo a canonização de Madre Teresa de Calcutá no site da Renascença, a partir das 9h30. Numa emissão especial, Óscar Daniel e a vaticanista Aura Miguel conduzem um directo simultâneo rádio e vídeo.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • rosinda
    04 set, 2016 palmela 01:23
    Em algumas ando atrasada em outras ando adiantada! Nao e que eu tinha a mania que madre teresa de calcuta ja havia sido canonizada! Ja o deviam ter feito a mais tempo.
  • C C
    03 set, 2016 Belfast 12:04
    Que monte de mentiras. A superstiçao volta de novo á tona. Se alguma coisa devia acontecer a esta gaija, seria trazer a verdade e demonstrar o monstro que ela era.
  • A.Cunha
    03 set, 2016 Aveiro 11:36
    Acredito piamente na Madre Teresa!! aquela talvez aparente fragilidade física sempre me tocou, acho que sempre senti um carinho especial, não sei explicar, dizia-me algo... Não é fácil no mundo onde vivemos ser o que Madre Teresa foi!!!...simplicidade...
  • Fernando Godinho
    03 set, 2016 Quarteira 10:10
    Se isso é milagre, não ponho em dúvida, qual a explicação para o meu caso, passados 5 dias de ter sido vítima de AVC muito grade, fiquei com a carotida esquerda totalmente bloqueada, isto a 23/11/2015, no dia 31/12/2015 à meia noite assistia aos fogos de artifício festejando a passagem de ano. Posso prova lo com declaração do médico, hoje faço uma vida praticamente normal, o médico confirma não haver explicação na medicina, chama se a isto o quê?

Destaques V+