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O FMI foi ao “divã” e não gostou do resultado

28 jul, 2016 - 16:00 • Paulo Ribeiro Pinto

O FMI conclui que o programa de ajuda financeira a Portugal incorporou projecções de crescimento económico excessivamente optimistas e que as lições de crises passadas nem sempre foram aplicadas. Na avaliação feita ao trabalho executado durante os Programas de Ajustamento de Portugal, Grécia e Irlanda nem tudo satisfaz.

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É uma auto-análise sobre o trabalho desenvolvido pelo Fundo Monetário Internacional nos anos da intervenção em Portugal, Grécia e Irlanda. O Gabinete de Avaliação do FMI entende que as projecções de crescimento para a economia portuguesa foram “excessivamente optimistas” e que isso conduziu a sucessivas revisões das metas com consequências negativas para a estratégia seguida pelo Governo.

As necessidades de financiamento para Portugal estavam subestimadas, muito por causa do passivo das empresas públicas e das responsabilidades financeiras com as parcerias público-privadas que não foram contabilizadas no valor da dívida pública.

O FMI reconhece que nos casos de Portugal e da Grécia se seguiu uma “estratégia impraticável durante demasiado tempo”. O FMI justifica com o facto de que uma renegociação dos programas seria extremamente difícil, uma vez que as negociações teriam de ser feitas a nível nacional, mas também com os parceiros europeus.

Houve também excesso de optimismo “sobre a capacidade de Portugal implementar um grande número de reformas politicamente difíceis.” Os pressupostos, afirma, foram pouco realistas.

No tratamento dos países intervencionados, o FMI admite que nem sempre foi igual para todos, não especificando os casos concretos.

O FMI afirma que detectou cedo (em 2005) os problemas da economia portuguesa, em concreto a falta de competitividade, mas, admite que a magnitude se revelou muito maior do que pensado.

Quanto à banca, o FMI admite que “várias medidas foram mal implementadas por causa de objectivos contraditórios e financiamento inadequado.”

As críticas aos parceiros da troika

No documento, também há críticas e queixas sobre os parceiros da troika - Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

O FMI critica a União Europeia pela ausência deliberada de um mecanismo de resposta a crises (o problema do “risco moral”) e queixa-se de ter sido posto de lado em determinados momentos da discussão sobre os programas de ajustamento, com maior ênfase no caso da Grécia.

O Gabinete de Avaliação da instituição liderada por Christine Lagarde faz também recomendações, reconhecendo, por exemplo, que se devem “desenvolver mecanismos que minimizem as interferências políticas na análise técnica” protegendo o FMI como “instituição tecnocrata” que deve ser.

A questão dos multiplicadores orçamentais

O FMI reconhece, mais uma vez, que os multiplicadores orçamentais utilizados não se adequavam aos países do euro. O multiplicador diz-nos qual o impacto que uma variação na despesa pública tem no PIB. Por exemplo se o multiplicador for de 0,8 (como o estimado pelo Governo em 2012), por cada euro de austeridade é de esperar uma queda no PIB de oitenta cêntimos.

Ora, os técnicos do Fundo utilizaram um multiplicador de 0,5. Ou seja, um desvio considerável que fez derrapar todas as previsões. No documento agora divulgado, refere-se que o valor mais razoável para o multiplicador seria de 1,1 o que representa uma austeridade recessiva.

O valor utilizado tinha em conta os estudos do passado que não levaram em linha de conta o facto de não existir a possibilidade de uma desvalorização da moeda.

O Gabinete de Avaliação Independente termina afirmando que é difícil determinar, de forma conclusiva, a responsabilidade do FMI nos resultados dos programas de ajustamento.

Comentários
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  • Tudo vale a pena...
    28 jul, 2016 Almada 20:31
    Uma austeridade com efeito 1,1 no PIB? E, nesse caso, vale a pena haver austeridade? Valeu a pena?
  • Passos Coelho
    28 jul, 2016 lx 20:14
    e Maria Luis para o banco dos réus!...
  • SALAZAR
    28 jul, 2016 LX 20:05
    O FMI É UMA CAMBADA DE CORRUPTOS E INCOMPETENTES.
  • Porconta
    28 jul, 2016 Porto 19:28
    Reconhecer erros é de gente séria, mas ao mesmo tempo querer dar conselhos e acusar os outros é de gente duvidosa hipocrita e nada recomendável.
  • Miguel
    28 jul, 2016 Bordeaux 19:02
    Então ainda há uns dias queriam sanções. Então era tudo obrigatório. . E agora sra Lagarde? ? Quem vai pagar a um país que mandou milhões para a emigração e que aumentou a sua dívida pública, só porque foi obrigado a cumprir o vosso cálculo errado?? Consequências disso sra FMI ?? Então e como eu digo se a economia fosse uma ciência os economistas tinham todos a mesma ideia. Mas é ve los discutir cada um a sua maneira... Economias de treta!!
  • desatina carreira
    28 jul, 2016 Queluz 18:51
    será que o passos coelho já se deitou nesse diva
  • Luis
    28 jul, 2016 Lisboa 18:46
    Esta semana tem sido uma semana negra para o Traste de Massamá. O programa dele era o programada troyka e ainda ia mais para além desse programa. Logo agora numa semana tão aziaga vêm estes gajos do FMI a dizer que aquilo tudo foi uma cagada. Coitado do Traste.
  • deusdado
    28 jul, 2016 sagres 18:36
    Se foi ao divã na pessoa da sua presidente, não se devem ter safado!
  • Costa
    28 jul, 2016 Faro 18:22
    E agora? Sim, e agora ???????
  • antonio oliveira
    28 jul, 2016 lisboa 17:37
    Curiosas estas conclusões de um organismo, FMI, cuja representante é Christine Lagard que está a ser investigada por escandalos de corrupção financeira. Que legitimidade tem esta senhora para atacar Portugal ???!!!

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