28 jun, 2016 - 06:49
Somando o trabalho pago e não pago, em Portugal as mulheres trabalham, em média e em cada dia útil, mais 1h30 que os homens. A conclusão é do Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e Mulheres.
Segundo o estudo, as mulheres com filhos menores de 15 anos são as que mais se queixam, revelando o inquérito que a existência de crianças pode potenciar o sentimento de injustiça face à partilha das tarefas domésticas.
Em todos os grupos etários, são as mulheres que dedicam mais tempo às tarefas domésticas e à prestação de cuidados a menores e pessoas dependentes. Em média, 4,23 horas diárias – contra 2,38 horas dedicadas pelos homens a este tipo de trabalho não remunerado.
O estudo, realizado entre Abril e Novembro de 2015 e divulgado esta terça-feira em Lisboa, revela também que "a partilha do cuidado e a articulação entre responsabilidades parentais e trabalho pago são domínios que, apesar de uma crescente 'reivindicação' por parte dos homens do seu direito à paternidade, ainda evidenciam a persistência de desigualdades de género".
Cerca de 17% das mulheres, face a 7,6% dos homens, disseram que dedicam uma hora ou mais, todos os dias, aos cuidados físicos com os filhos, como alimentar e dar banho.
Ainda assim, perto de sete em cada dez mulheres portuguesas consideram justa a parte do trabalho doméstico que realizam. São cerca de 70% das mulheres contra 75,6% dos homens.
Quase 22% pensam fazer mais do que é adequado.
Trabalho e família
As conclusões do Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e Mulheres revelam que são as mulheres quem mais sente as implicações das responsabilidades parentais no emprego.
Mais de uma em cada três assume que teve dificuldades em concentrar-se algumas vezes no trabalho, durante o último ano.
Já a maioria dos homens (74,2%, face a 64,9% das mulheres) disse que nunca ou raramente sentiu tal dificuldade.
Mãe, mulher, desigualdade
Os autores do estudo consideram que os resultados "ilustram claramente" que o nascimento dos filhos "constitui muitas vezes um ponto decisivo no qual se definem ou reforçam assimetrias de género".
"Na prática, é à mãe que cabe tipicamente a incumbência de assegurar o bem-estar da criança nos primeiros meses de vida, enquanto o pai, se presente, cumpre o papel de provedor económico a par de uma função auxiliar no que toca a cuidados físicos ou emocionais", salientam.
Os investigadores do Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e Mulheres (INUT), iniciado em Outubro 2014, esperam que o diagnóstico permita "sensibilizar para a necessidade de uma distribuição mais equilibrada do trabalho não pago de cuidado" e formular recomendações para as políticas públicas no domínio da articulação da vida profissional, familiar e pessoal, enquanto instrumento para a igualdade de género.
O INUT envolve uma amostra superior a dez mil pessoas e foi realizado entre Abril e Novembro do ano passado pelo Centro de Estudos para a Intervenção Social em parceria com a Comissão para a Igualdade no Trabalho.