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Ensaio Geral (06/05/15) - A escrita de Lídia Jorge e o cinema de Margarida Cardoso

A escrita de Lídia Jorge e o cinema de Margarida Cardoso em diálogo na rádio

07 mai, 2016


A escritora Lídia Jorge e a realizadora Margarida Cardoso foram as convidadas do “Ensaio Geral”, gravado ao vivo na Livraria Ferin, no Chiado, numa parceria com a Booktailors. África, os livros, o cinema e as inquietações de duas criadoras foram os temas da conversa.

“Os livros surgem porque há uma questão que não está resolvida”, explica Lídia Jorge. Já a realizadora Margarida Cardoso faz cinema inspirada pelo que a “inquieta”. As duas criadoras, que se reencontraram no “Ensaio Geral” gravado ao vivo na Livraria Ferin, já trabalharam juntas no passado quando Margarida Cardoso adaptou ao cinema o livro de Lídia Jorge “A Costa dos Murmúrios”.

Com mais de 30 anos de carreira literária, Lídia Jorge confessa que “continua a ser difícil publicar”, não por uma questão de pudor, mas porque diz sentir mais responsabilidade. A autora de “Os Memoráveis” considera que hoje se publica “muito” em Portugal e que o escritor tem o dever de se interrogar “se vale a pena publicar”. Na opinião de Lídia Jorge há uma “uma responsabilidade para com o leitor”, perante o qual o escritor se deve apresentar com “verdade”.

Questionada sobre o que a inspira a fazer cinema, a realizadora Margarida Cardoso fala da interligação que existe entre a sua arte e a vida. Assume: “não faço distinção”. Para a realizadora de “A Costa dos Murmúrios”, o seu cinema tenta sempre passar algo que está dentro de si e que a “inquieta”. Margarida Cardoso explicou no “Ensaio Geral” que sente à medida que envelhece “que as dúvidas aumentam” e deixa “de ter uma certa leveza para passar a ter um peso e a questionar” muito do que faz e para quem faz.

Sobre os seus livros e a arte da escrita Lídia Jorge afirmou que “os livros surgem porque há uma questão que não está resolvida”. Escrever, para a autora, é “tentar dar uma resposta a alguma coisa que o mundo não responde.” E acrescenta “Há uma imperfeição nas coisas e a escrita cria um processo de reposição, de harmonia” Questionada se há dor ou alegria na escrita, Lídia Jorge prefere ressaltar os momentos de alegria e diz: “se de facto eu escrevesse com dor, não escreveria”. A autora acrescenta mesmo que pode estar “meses e meses a escrever”, isso dá-lhe uma “grande felicidade”.

Para Lídia Jorge a escrita é “um processo que não está conquistado e que se tem de conquistar”. A escritora não tem dúvida em concluir que gosta “dessa luta”. A autora que acaba de publicar pela D. Quixote o livro de contos “O Amor em Lobito Bay” descreve: “Há dias em que as páginas parecem que cair do céu e há outros dias em que isso não é assim e parece que há uma porta que está fechada e leva muito tempo a abrir”.

Interrogada sobre o sentido da voz feminina no seu trabalho, a realizadora Margarida Cardoso explica que o que lhe atraia são “criaturas que estão sujeitas a uma determinada violência e estão presas num determinado mundo” e que “têm de lutar contra muita coise e que estão fragilizadas”. A cineasta que está a trabalhar simultaneamente num documentário sobre Sita Valles e num filme sobre a relação entre o homem e as plantas, em São Tomé e Príncipe falou sobre a situação em Africa. Para Margarida Cardoso, a situação “tem vindo pouco a pouco a tornar-se violenta”. Para a realizadora há alguns sinais: “Há anos dizia-se que não havia interesse geopolítico numa nova guerra, mas hoje há outros interesses que se estão a impor e essa guerra pode voltar”.

Também Lídia Jorge mostra preocupação com a actual situação em África. A escritora fala mesmo de inquietação e destaca a situação em Angola. Lídia Jorge fala de “países que têm oligarquias, afrontosamente poderosas” e dá como exemplo Angola “que têm assomos de tirania”. Esta é uma conversa que pode ouvir de novo em podcast no site da Renascença.

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