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Vaticano prende padre e leiga suspeitos de divulgarem documentos confidenciais

02 nov, 2015 - 13:09

Faziam parte da comissão criada pelo Papa em 2013 para supervisionar a reorganização da cúria romana.

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O padre espanhol Lucio Angel Vallejo Balda e a leiga italiana Francesca Chaouqui foram detidos este fim-de-semana pela polícia do Vaticano, sob suspeita de terem divulgado informação confidencial da Santa Sé a jornalistas.

Os dois eram respectivamente membro e secretário da comissão criada pelo Papa em 2013 para supervisionar a reorganização da cúria romana, nomeadamente das divisões económicas e administrativas. Depois da extinção dessa comissão, a maioria dos membros, incluindo o padre Balda, passou para uma nova comissão económica, mas Chaouqui não foi reconduzida.

Num comunicado emitido pela Santa Sé esta segunda-feira, explica-se que Chaouqui foi libertada depois de ter manifestado vontade de colaborar com a investigação. Balda, que era actualmente secretário da prefeitura para os assuntos económicos da Santa Sé, permanece detido. Não há memória de um funcionário tão alto da Santa Sé ser detido no Vaticano.

A notícia da detenção surge três anos depois do escândalo Vatileaks e a poucos dias do lançamento de dois livros, escritos por jornalistas italianos, que prometem revelar escândalos do Vaticano. Sem dizer directamente que os dois factos estão ligados, o comunicado do Vaticano fala também dos dos livros, acusando os seus autores de beneficiarem de uma "séria violação da confiança do Papa" e de actos ilícitos.

Nomeação polémica

A nomeação de Francesca Chaouqui nunca foi pacífica. Nomeada com apenas 30 anos, a especialista em Relações Públicas viu-se imediatamente envolvida numa série de escândalos, incluindo mensagens do Twitter acusando o cardeal Bertone de ser corrupto e alegando que o Papa Bento XVI sofria de leucemia.

Francesca Chaouqui negou a autoria das mensagens, dizendo que eram montagens, e culpou os inimigos da reforma levada a cabo pelo Papa Francisco de a tentarem descredibilizar.

Quando foi canonizado o Papa João Paulo II, Francesca Chaouqui participou numa festa luxuosa no terraço de um edifício do Vaticano. Na altura, soube-se que o Papa Francisco tinha ficado furioso com as despesas da festa e foi dito que a especialista em relações públicas tinha organizado o evento, algo que também negou.

Quem é o padre Vallejo Balda?

O padre Lucio Angel Vallejo Balda tem cerca de 55 anos e é oriundo de Espanha, onde foi ordenado padre na Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz, do Opus Dei. Em 2011 foi um dos principais organizadores das Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid.

As suas capacidades administrativas ao serviço da diocese de Astorga chamaram a atenção do Vaticano, que o nomeou para a prefeitura dos assuntos económicos.

Apesar de ter sido nomeado como secretário, o documento oficial da nomeação dava-lhe também "poderes de delegação e para agir em nome de e em representação da comissão na recolha de documentos, dados e informação necessária para o desempenho das funções institucionais".

O Opus Dei já reagiu à notícia da sua detenção. Num comunicado, o gabinete de informação revela "surpresa e dor" com a acusação de que o padre é alvo, sobretudo, lê-se, porque "a ser certa, seria particularmente doloroso pelos danos feitos à Igreja".

A organização esclarece que a Fraternidade de Santa Cruz apenas presta apoio espiritual aos seus membros, não tendo o direito de interferir no ministério pastoral ou no trabalho que desenvolvem ao serviço da Igreja.

"Monsenhor Vallejo foi chamado a trabalhar em Roma pela Santa Sé, de acordo com o seu bispo. A prelatura do Opus Dei não interveio nem soube da decisão até ser tornada pública. Os superiores de Monsenhor Vallejo são os da Santa Sé e o bispo da diocese onde está incardinado", explica a nota, que acrescenta que o Opus Dei não sabe nada sobre o processo que envolve este sacerdote.

[Notícia actualizada às 19h04]

Comentários
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  • Malaquias
    03 nov, 2015 Belém de Judá 22:13
    Diz a notícia: o padre foi ordenado na SOCIEDADE de Santa Cruz do OPUS - DEI.... a OPUS - DEI . já reagiu à notícia e manifesta dor. Pergunto: alguém ainda terá dúvidas de que a OPUS - DEI , fundada pelo josémaria escrivã, é uma obra do demónio com o nome de obra de Deus???? Os dias dessa obra estão contados. Rogamos a Deus para que continue a enviar o seu Divino Espírito Santo sobre o seu grande servo, o PAPA FRANCISCO.
  • 03 nov, 2015 03:12
    Que saudades dos tempos em que padres e Bispos, por onde passavam, eram o “Doce Cristo”! Agora, que desilusão… enleados nas malhas de “leigos-oportunistas” seus conselheiros…! Se houver algum bispo santo, na próxima nomeação, não te esqueças Papa Francisco de o enviar para a minha diocese! (não é egoísmo…é saudade)!
  • Iván Gallardo
    02 nov, 2015 Espanha 19:23
    Uma nota: na notícia aparece a designação «Padre [Lucio] Balda». Ora, como aparece na citação do último parágrafo, quando se põe um só apelido, deve dizer-se «Padre Vallejo», porque este é o apelido do pai, que em Espanha se coloca antes do da mãe.
  • Domingos Simões
    02 nov, 2015 Caxarias 17:57
    A verdade acima de tudo. A verdade credibiliza
  • Luis Caetano
    02 nov, 2015 Sintra 16:27
    E os padres pedófilos? o que é que este fez que era para ser escondido?!
  • Luís
    02 nov, 2015 Évora 15:51
    Não fico surpreendido com estas informações no Vaticano. Até porque a maioria das pessoas que se dizem cristãs, vagueiam na vida à procura de fama, dinheiro e poder. Aspirações contrárias e contraditórias da fé e da vida exemplçar de Cristo. Não é preciso ir ao Vaticano. Nas nossas paróquias e Centros paroquiais existem muitas fumas de informação. Espero que o Papa Francisco ponha mão nisto. A maioria dos padres vivem faustosamente e não sabem dar valor aos sacrifícios da vida. Belo exemplo a seguir não haja duvida.

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