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O que os padres sinodais dizem sobre os divorciados recasados

21 out, 2015 - 16:24 • Aura Miguel , em Roma, e Filipe d’Avillez

A questão do cuidado pastoral dos divorciados recasados e o eventual acessos aos sacramentos foi uma das que mais atenção gerou neste sínodo e, por conseguinte, que mais sugestões recolheu nos relatórios dos bispos.

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Terminada a discussão da terceira parte do documento de trabalho do sínodo sobre a família, a Santa Sé publicou esta quarta-feira os relatórios dos pequenos grupos que estiveram a aprofundar o tema.

Aqui pode ler algumas das principais citações destes relatórios, neste caso sobre o acompanhamento pastoral dos divorciados recasados e o acesso por estes aos sacramentos.

Um tal caminho de reflexão e discernimento no foro interno pode ajudar a esclarecer se é possível ou não o acesso aos sacramentos, mas isso deve ser esclarecido em diálogo com o confessor, para formar a consciência do indivíduo, tendo em conta a situação objectiva. Todos devem ter atenção às palavras de São Paulo, que se aplicam aos que se aproximam da mesa do Senhor: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” Grupo de língua alemã

A maioria, sem unanimidade, afirmou o actual ensinamento e prática da Igreja em relação à participação na Eucaristia para aqueles que são divorciados e recasados civilmente. Reconhecemos que este caminho pode ser difícil, e os pastores devem acompanhá-los com compreensão, sempre dispostos a estender-lhes, de forma renovada, a misericórdia de Deus, quando dela precisarem. Grupo A de língua inglesa

A maioria, sem unanimidade, afirmou ainda que a prática pastoral relativa à recepção do Sacramento da Eucaristia pelos divorciados e civilmente recasados não deve ser deixada às conferências episcopais individuais. Fazê-lo seria arriscar danificar a unidade da Igreja Católica, a compreensão da sua ordem sacramental e o testemunho visível da vida dos fiéis. Grupo A de língua inglesa

No que diz respeito à admissão dos divorciados recasados aos sacramentos, o grupo pede que o Santo Padre, tendo em conta a riqueza do material que emergiu durante este processo sinodal, considere o estabelecimento durante o Jubileu da Misericórdia de uma Comissão Especial para estudar de forma aprofundada as formas em que as disciplinas da Igreja que derivam da indissolubilidade do casamento se aplicam a pessoas em uniões irregulares, incluindo situações que derivam da prática da poligamia. Grupo B de língua inglesa

Houve pouco entusiasmo pelo que o Instrumentum Laboris chama um “caminho penitencial”. (…) No final votámos pela substituição dos parágrafos 122-125 por uma afirmação da actual disciplina da Igreja e pelas formas de participação referidas na Familiaris Consortio, 84. Grupo C de língua inglesa

O grupo conversou longamente sobre as abordagens pastorais para pessoas divorciadas que não voltaram a casar, e também para pessoas divorciadas que se casaram novamente sem nulidade. Os membros mostraram bastante preocupação que seja o que for feito nesta matéria não crie confusão entre os nossos fiéis. Um bispo disse que a questão de admitir pessoas divorciadas recasadas à comunhão é um assunto de substância doutrinal de tal forma importante que só pode ser tratado num concílio ecuménico, e não num sínodo. Grupo D de língua inglesa

Um dos padres sinodais realçou a importância de usar linguagem apropriada. Em vez de se referir a pessoas em situações difíceis como estando “excluídas” da Eucaristia, deve-se dizer que se “abstêm” da Eucaristia. Essa palavra é mais correcta e menos negativa. Um dos padres sinodais mencionou que os bispos não podem ser mais misericordiosos que as palavras de Jesus. O Senhor não está preso às regras da Igreja, mas a Igreja está muito presa às palavras de Jesus. Grupo D de língua inglesa

Alguns pensam que ao actual texto falta uma compreensão da fundação eucarística do casamento cristão, que diz que não podemos reduzir o casamento à relação sexual. De igual modo, não podemos reduzir a vida na Igreja à recepção da Comunhão. Na história da Igreja houve largos segmentos dos fiéis que não recebiam a Sagrada Comunhão e apesar disso eram considerados membros da Igreja, a começar pelos catecúmenos. Aqueles que estão num caminho penitencial não estão excluídos da Igreja, apesar de se absterem da Comunhão. Outros padres sinodais acham que a quantidade de pessoas que são divorciadas recasadas sem declaração de nulidade aumentou de tal forma que precisamos de lidar com a questão de uma forma nova e diferente. Grupo D de língua inglesa

Pediu-se a formação de uma comissão para estudar o assunto da comunhão para divorciados recasados de forma mais alongada e com maior precisão teológica. Grupo D de língua inglesa

Juntamos a isto as situações consideradas como irregulares, desejando que sejam anunciados caminhos para que aos que as vivem possam ter a certeza de que lhes são abertos caminhos de acolhimento e de acompanhamento. Enfim, que os bispos, cada um na sua diocese e em comunhão com toda a Igreja, sejam chamados a um discernimento responsável. Grupo A de língua francesa

A situação das pessoas divorciadas recasadas levaram-nos a sublinhar as possibilidades de participação na vida da comunidade cristã referidas na Familiaris Consortio (84). Muitos sublinharam também que são pouco conhecidas e que são profundas estas formas de participação na vida da comunidade cristã e interrogamo-nos sobre a necessidade de manter certos limites actuais (como ser leitor, participar no conselho pastoral…). No que diz respeito ao acesso aos sacramentos, o grupo pronunciou-se pela manutenção da disciplina actual. Grupo B de língua francesa

Foi afirmada a importância que estes caminhos incluem um discernimento pastoral atento e prudente sob a autoridade final do bispo; as conferências episcopais são chamadas a amadurecer critérios comuns adaptadas às situações das respectivas Igrejas particulares. Grupo A de língua italiana

Em relação à disciplina sobre divorciados recasados, até à data, não é possível estabelecer requisitos que abranjam todos os casos, às vezes muito diferentes uns dos outros. Há divorciados recasados que se aplicam a viver de acordo com o Evangelho, oferecendo exemplos significativos de caridade. Ao mesmo tempo, não há como negar que, em determinadas circunstâncias, apresentam-se factores que limitam a capacidade de fazer o contrário. Assim, o juízo de uma situação objectiva não poderá ser tomada como juízo da “elegibilidade” subjectiva. Os limites e restrições tornam-se então uma chamada para o discernimento, principalmente do bispo, preciso e respeitoso da complexidade destas situações. Grupo B de língua italiana

Os padres sinodais expressaram cordial afecto e admiração profunda por aqueles que se mantêm fiéis ao sacramento. É necessário um grande trabalho de apoio humano e espiritual, bem como a proximidade, cuidado e carinho das comunidades cristãs nestas situações que permanecem fiéis ao vínculo matrimonial, oferecendo ajuda concreta. Grupo C de língua italiana

Os padres sinodais chegaram a acordo sobre quatro pontos: Remover algumas formas de exclusão litúrgica, educativa e pastoral ainda existentes; promover caminhos de integração humana, familiar e espiritual da parte dos sacerdotes, casais peritos e consultores; em ordem à participação na Eucaristia, não obstante a doutrina actual, discernir no foro interno sob a orientação do bispo e dos padres designados as situações específicas com critérios comuns segundo a virtude da prudência, educando a comunidade cristã no acolhimento; confiar ao Santo Padre o aprofundamento da relação entre os aspectos comunitário e curativo da comunhão eucarística, em referência a Cristo e à Igreja. Grupo C de língua italiana

Jesus manifesta proximidade e os cristãos, ao estilo de Jesus, devem que fazer o mesmo (…) Deve-se, por isso, integrar os divorciados recasados mediante um caminho “via caritatis” que permita abrir portas e estar próximo dos que estão feridos. Grupo A de língua espanhola

É certo que podemos perguntar quem exclui quem? E que o sacramento da Eucaristia é o sacramento de vivos, mas é preciso fazer os possíveis por atrair os que estão longe. Grupo A de língua espanhola

A “via da caridade” é uma pastoral que acolhe e aproxima, enquanto que a “via judicial” desperta, em muitos, suspeitas e receios e não há dúvida de que muitos dos nossos matrimónios não são verdadeiros sacramentos. Grupo A de língua espanhola

Não basta falar de caminhos de misericórdia e proximidade, deve-se chegar também a propostas concretas porque, caso contrário, vamos cair nas palavras bonitas mas vazias. Talvez a “descentralização” de que falou o Santo Padre na comemoração dos 50 anos do sínodo possa ajudar a agilizar e aproximar a solução, evitando, inclusivamente, muitas formas de discriminação que existem na Igreja em relação a estas pessoas. Grupo A de língua espanhola

O tema dos divorciados recasados foi examinado de uma perspectiva ampla, porque a possibilidade sacramental da reconciliação e/ou eucaristia, sendo importante, não é a única. Há um caminho a percorrer que deve ser aprofundado com paciência e criatividade. O resultado e o êxito deste sínodo não se jogam na comunhão dos divorciados. Grupo B de língua espanhola

O tema do acesso aos sacramentos, em concreto a Eucaristia, não pode, nem deve ser o centro nem o ponto fulcral da atenção a estas situações. Grupo B de língua espanhola

Comunhão espiritual

Em relação à comunhão espiritual, o grupo notou que é possível que pessoas cujo estado de vida objectivo – uma união irregular – os coloca em contradição com o verdadeiro sentido da Eucaristia, podem não ser subjectivamente culpáveis de um estado continuado de pecado. Poderão, por isso, ter um desejo amoroso pela união eucarística com Cristo. Enquanto o seu estado objectivo os possa impedir de receber o Corpo e o Sangue de Cristo, poderão correctamente desenvolver a prática da Comunhão Espiritual e por isso abrirem-se mais à graça salvífica de Jesus Cristo e a união com a Igreja. Grupo B de língua inglesa

Comentários
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  • Maria Emília Santos
    25 abr, 2016 Corroios-Portugal 15:32
    Precisamos todos da luz do Espírito Santo. Mas, na minha humilde reflexão sobre tudo o que foi dito, Concordo inteiramente com o cardeal Muller. "Não é possível negociar o ensinamento de Jesus Cristo"( Mt 19,10). A única coisa que necessita ser mudada, com urgência, é a nossa ( superior) forma de olhar e consequentemente, acolher, as pessoas casadas em segundas núpcias. Os nossos irmãos evangélicos também não tem a Eucaristia, e no entanto, o Senhor, faz maravilhas na vida e através deles! Abramos os braços aos nossos irmãos de segundo casamento, acolhamos-los e integremos-los na vida das paróquias, que isso só vai enrriquecer as comunidades!

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