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Sínodo é eurocêntrico? Nim

08 out, 2015 - 14:02 • Aura Miguel , em Roma, e Filipe d’Avillez

O arcebispo ganês Charles Palmer-Buckle diz que os africanos não estão no sínodo como força de bloqueio e lamenta que a comunicação social ocidental não divulgue as boas iniciativas que saem de África.

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Será o sínodo sobre a família demasiado eurocêntrico? O bispo ganês Charles Palmer-Buckle, que esteve esta quinta-feira na conferência de imprensa diária, diz que sim e que não.

Questionado inicialmente sobre esta questão, que já foi apontada como uma problema por alguns padres sinodais, incluindo o arcebispo Charles Chaput, na quarta-feira, o arcebispo ganês começou por dizer que não e culpou os média europeus pela ideia.

“Nada de bom que sai de África é suficientemente bom para os média europeus. Talvez seja isso que esteja a dar a ideia que o sínodo só está a lidar com questões europeias. Mas não, nós estamos aqui e estamos a contribuir com valor para a discussão”, afirmou.

“Acreditamos na Igreja una, Santa, Católica e Apostólica”, disse o arcebispo de Accra. "Se um assunto diz respeito à Igreja na Europa, então diz respeito à Igreja em África. E se diz respeito a África, diz respeito à Ásia. Posso-vos garantir que os bispos africanos não pensam que o sínodo lida só com questões europeias.”

Contudo, o mesmo bispo não deixou de lamentar que faltava alguma perspectiva africana ao documento de trabalho – "instrumentum laboris" – que serve de base para as discussões nos pequenos grupos que participam no sínodo.

Como exemplo, Palmer-Buckle falou do próprio conceito de família que em África, diz, tende a incluir a família alargada, ao contrário da visão ocidental de família nuclear. “Queremos manter as alegrias do sistema de família alargada. Queremos adoptar as melhores práticas do sistema de família nuclear, sem destruir as nossas tradições."

Também presente na conferência de imprensa estava o patriarca de Antioquia Inácio José Younan, da Igreja Católica Siríaca, que tem a sua sede no Líbano e que disse que os média ocidentais é que enfatizam os temas mais ocidentais, descurando os que abrangem mais a Igreja Universal. O patriarca, que é sírio, lamentou ainda a perseguição dos cristãos no Médio Oriente, dizendo que estes se sentem “esquecidos e traídos” pelo Ocidente.

Criminalização de homossexuais? "Estamos a fazer o que podemos"

Uma das perguntas feitas ao arcebispo ganês foi sobre as leis aprovadas nalguns países africanos que criminalizam, podendo chegar a punir com pena de morte, a prática de actos homossexuais. O jornalista quis saber se os bispos não sentem a obrigação de erguer a sua voz contra esta criminalização, com o mesmo vigor com que a Igreja critica a aprovação de leis sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Palmer-Buckle começou por recordar as já famosas palavras do Papa “quem sou eu para julgar”, dizendo que elas tinham tido um grande impacto entre os cristãos africanos e que desde essa altura tanto a Igreja do Gana como o Simpósio das Conferências Episcopais de África e do Madagascar tinham publicado documentos em que sublinham a dignidade das pessoas homossexuais enquanto filhos e filhas de Deus.

“Estamos a fazer o que podemos, leva tempo, sobretudo quando se trata de uma questão que é culturalmente difícil de compreender, que faz parte da cultura há milénios. Não podemos pensar que as pessoas vão mudar de opinião da noite para o dia. Dêem tempo aos países para lidar com este assunto a partir da sua própria perspectiva cultural. Os direitos de todos os filhos de Deus devem ser salvaguardados em todo o lado, ainda não chegámos lá, mas estamos a caminho.”

O arcebispo deu claramente a entender que a Igreja Católica em África se opõe a este tipo de criminalização, mas pediu paciência. “Não podemos esperar que em 55 países africanos a Igreja se possa levantar e mudar tudo de repente. Tenham paciência, estamos a tentar.”

Outra coisa, explicou o arcebispo, é a aceitação de novas realidades como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e aí Palmer-Buckle condenou a atitude de alguns países ocidentais que procuram pressionar os países africanos, ameaçando cortar financiamento e ajudas humanitárias caso estes não mudem as suas leis. “Isto entristece-nos, é uma violação grosseira da nossa soberania.”

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