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Crónica

O resgate de refugiados no Mediterrâneo contado por um militar português

16 set, 2015 - 17:24

Só este ano, mais de 430 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo em direcção à Europa. O tenente Élio Rosado, 27 anos, esteve ali, no centro do fenómeno, onde não há tempo para pensar no depois. O militar da GNR descreve a missão numa crónica para a Renascença.

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Olhares de gratidão fixam os militares exaustos que acabam de impedir o Mar Egeu de engolir mais 13 pessoas. Pouco tempo sobra para recuperar o fôlego. A rádio avisa que há mais gente em risco de afogamento e a "Mareta I" parte novamente a grande velocidade.

Durante dois meses, de Junho a Agosto, o dia-a-dia de nove homens da Unidade de Controlo Costeiro da GNR fez-se assim, entre "rostos cansados, com marcas de muito sofrimento", evidenciando um "desgaste físico extremo". Os militares integravam uma operação da União Europeia na Grécia, perto da fronteira com a Turquia e a comandá-los estava o tenente Élio Rosado.

Aos 27 anos, o comandante não esquece o dia em que um dos militares da GNR usou o seu próprio fato para envolver "dois imigrantes com sinais claros de hipotermia". Na hora do balanço, pensa na "gratidão do olhar das 3067 vidas humanas resgatadas".

Só este ano, mais de 430 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo em direcção à Europa.

O tenente Élio Rosado esteve ali, no centro do fenómeno, onde não há tempo para pensar no depois, e descreve a missão numa crónica para a Renascença.



CRÓNICA

Três mil olhos gratos. A GNR na Operação Poseidon Sea 2015

Foram muitos os patrulhamentos realizados pela guarnição da “ Mareta I”, uma embarcação rápida da Unidade Controlo Costeiro (UCC) da Guarda Nacional Republicana, que no âmbito da Operação Poseidon Sea 2015, realizada sob a égide da FRONTEX, a Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros da União Europeia, atuou no longínquo Mar Egeu em território grego.

Foram também muitas as experiências vividas pelo nosso contingente nesta missão. Histórias que demonstram a realidade vivida por milhares de pessoas que procuram chegar à Europa e que arriscam a vida permanentemente na aventura de atravessar o Mar Mediterrâneo.

Durante o patrulhamento noturno no Mar Egeu, detetamos uma embarcação de pequenas dimensões, com cerca de três por dois metros, ainda a uma distância de oito quilómetros da costa grega.

Constatando-se de imediato que a mesma se encontrava em perigo de naufrágio, necessitando urgentemente de apoio por parte da nossa embarcação para salvamento das pessoas que seguiam a bordo.

Já próximo da embarcação, verificamos as péssimas condições da mesma, sem qualquer meio de propulsão, tendo já no interior uma considerável quantidade de água. No interior encontravam-se 13 pessoas, incluindo uma mulher e uma criança.

As más condições do mar, agravadas sobretudo pela grande ondulação, dificultou em grande medida o resgate de todas as pessoas que seguiam a nesta pequena embarcação. Pessoas com rostos cansados, com marcas de muito sofrimento. Uma criança indefesa, com claros sinais de fome e de muita pobreza.

Durante a viagem, muitos dos imigrantes apresentavam indícios de hipotermia, assim como um desgaste físico extremo.

As condições climatéricas não eram as mais favoráveis, pelo que durante a viagem era praticamente impossível garantir que os tripulantes não ficassem molhados com o embater das ondas na embarcação portuguesa.

Um dos militares da GNR, vendo dois imigrantes com sinais claros de hipotermia, utilizou o seu próprio fato de abordagem para os envolver, garantindo assim a temperatura dos seus corpos até à chegada ao porto de Mitilini, onde se encontravam as autoridades gregas para os receber.


Quando chegados a terra são e salvos, sentimos a gratidão no olhar das 13 pessoas resgatadas, para alegria dos militares da GNR. Uma alegria que foi subitamente interrompida por uma comunicação via rádio, reportando que mais uma embarcação com imigrantes a bordo necessitava de ajuda.

Nestas missões, com este cariz humanitário, mais importante que a componente técnica e operacional, importa ter sobretudo a vontade de ajudar e auxiliar o próximo, sendo os militares da GNR recompensados com a gratidão do olhar das 3.067 vidas humanas resgatadas, elevando ao máximo os valores da instituição “Uma Força Humana, Próxima e de Confiança”.


Tenente Élio Rosado, comandante do Subdestacamento de Controlo Costeiro de Aveiro

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  • Antonio
    16 set, 2015 Oeiras 23:18
    Bravo!Parabens!
  • jolia
    16 set, 2015 porto 22:38
    Com tanta miseria em Portugal tanto desemprego tantas dificuldades tantas famílias a entregarem a sua casa ao banco como senão ha para os nossos pode haver para os de fora? Nao entendo este mundo coberto de hipicrisia falsidade inveja. Deveria se ajudar os de ca nao os de fora.
  • Zé-Povinho
    16 set, 2015 Lisboa 20:54
    Já alguém começou a contabilizar, quantos terroristas vêm infiltrados nos refugiados? Quantos terroristas vêm para Portugal?

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