Do centro de Moçambique chegam relatos de novos confrontos entre os guerrilheiros da RENAMO e o exército. À Renascença, o jornalista Jaime Kuambe, subchefe de redacção do Notícias de Maputo, diz que os bispos da Igreja Católica fizeram saber que vão reunir-se de urgência e devem interceder junto dos líderes políticos, como, de resto, já fizeram no passado.
“Este encontro da alta hierarquia da Igreja poderá, de algum modo, evitar a alteração da situação. Quero crer que eles vão pedir um encontro de urgência com o chefe de Estado. Os religiosos estão muito preocupados com esta situação. Alguns deles já estavam a mediar este conflito com encontros ora com o presidente da República, ora com o líder da RENAMO e penso que eles vão exercer uma grande pressão para que a situação de facto de altere”, explica à Renascença Jaime Kuambe.
Este jornalista diz ainda o “presidente da República [Armando Guebuza] não declarou estado de guerra, porque o país encontra-se em paz. Não fez nenhuma referência específica ao que aconteceu. O presidente ignorou a acusação” que a Renamo fez na segunda-feira de que o acordo de paz tinha sido quebrado.
Moçambique vive a sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) em 1992, após o exército moçambicano ter desalojado na segunda-feira o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, da base onde se encontrava aquartelado há mais de um ano, no centro do país.
Afonso Dhlakama e o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, fugiram para local incerto, enquanto as forças de defesa e segurança moçambicanas mantêm a ocupação da residência do líder do movimento, em Sandjunjira, na província de Sofala, e o partido denunciou o acordo de paz assinado em 1992 com a Frelimo.
Entretanto, homens armados da Renamo ocuparam hoje e assumiram o controlo da vila de Maríngué, na Gorongosa, constatou a Lusa no local.
Em Junho último, elementos da Renamo levaram a cabo ataques contra autocarros e camiões na região de Machanga, também no centro de Moçambique, que se saldaram em pelo menos três mortos e seis feridos e que levou o exército a fazer escoltas militares na principal estrada da região.
O partido de Dhlakama reivindicou ainda a morte de 36 militares e polícias das forças de defesa e segurança moçambicanas, a 10 e 11 de Agosto, numa "acção de autodefesa", no centro do país, e o líder da Renamo já tinha condicionado as negociações com o presidente Armando Guebuza à retirada do exército da serra da Gorongosa.