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Entrevista a Emmanuel Demarcy-Mota

​Portugal e França, "dois países muito diferentes" com uma "ligação muito rara"

06 jun, 2022 - 23:31 • Stefanie Palma, correspondente em França

Presidente da Temporada Cruzada Portugal-França, Emmanuel Demarcy-Mota, em entrevista à Renascença, destaca a importância do programa de intercâmbio cultural. Esta terça-feira, António Costa estará em Paris para inaugurar três exposições.

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Emmanuel Demarcy-Mota em declarações a Stefanie Palma
Emmanuel Demarcy-Mota em entrevista a Stefanie Palma

Portugal e França são "dois países muito diferentes", mas com uma "ligação muito rara", afirma o presidente da Temporada Cruzada Portugal-França 2022, o dramaturgo Emmanuel Demarcy-Mota, em entrevista à Renascença.

O primeiro-ministro, António Costa, visita Paris esta terça-feira, onde terá um almoço com o Presidente francês, e participa na inauguração de três eventos culturais, no âmbito da Temporada Cruzada.

Em declarações à Renascença, Emmanuel Demarcy-Mota destaca a importância do evento de intercâmbio cultural como ponte entre Portugal e França.

Qual é a importância desta Temporada Cruzada Portugal-França 2022?

Este momento é muito importante para nós todos, porque esta temporada lida com várias áreas da nossa sociedade, seja em França ou em Portugal.

Por exemplo, a temática da educação, da igualdade, a relação com o ambiente, o lugar das mulheres dentro da sociedade, mas também a imagem de cada um dos dois países dentro da nossa construção da Europa, num momento muito forte, de muitas questões relacionadas com as novas gerações.

Esta temporada tem como particularidade pôr também a juventude e a questão do novo século, deste século e desta década, no centro dos trabalhos, que são ligados às diversas áreas.

No fundo, mostra que a cultura é una e que os dois países são muito parecidos ao nível cultural. Podemos dizê-lo assim?

Esta temporada mostra também esta relação forte entre a cultura portuguesa e a cultura francesa. São dois países, é evidente, muito diferentes, duas línguas, duas histórias, mas há uma ligação que é muito rara e que tem de ser trabalhada e entendida dentro deste mundo global.

O que é que representa a vinda do primeiro-ministro aqui a Paris, ele que irá participar na inauguração de três exposições no âmbito desta Temporada Cruzada Portugal - França?

A vinda do primeiro-ministro, António Costa, a Paris, a França, tem muita importância por causa de dois pontos fundamentais.

O primeiro é que, desde 2015, Portugal atravessou e avançou dentro do espaço europeu, de uma maneira exemplar. Exemplar no seu modo de transformar também um projeto de sociedade, uma esperança para todos dentro do espaço europeu, onde há também uma grande crise dos valores e uma crise da esperança do futuro para as novas gerações.

Portugal, hoje, está numa posição que é complexa, mas que é muito positiva de transformação. É, por isso, que se veem grandes países da Europa, nomeadamente, França, Alemanha ou Inglaterra, que têm um olhar muito particular sobre Portugal neste momento. É por isso que Portugal representa não só um pequeno país do sul da Europa, mas um Estado que conseguiu depois da crise de 2008-2010 mostrar uma capacidade de avançar, de se reinventar e também uma capacidade de ter um papel forte dentro do diálogo da Europa.

Também na ligação sobre as questões do ambiente e da igualdade, Portugal teve um papel importante. É por isso que esta vinda conta também muito para os franceses hoje.

O segundo ponto é que é um dia de cultura em grandes monumentos franceses, como é o caso do museu do Louvre, mas também do centro Pompidou. Em vários sítios, há uma grande cultura para todos, nessa grande ambição da democracia cultural, numa democracia onde todos têm acesso aos mais bonitos e exemplares sítios da cultura, abertos para todos, de todas as idades. Esta ligação é também muito importante entre Portugal e França sobre esse grande debate e possibilidade de avançar sobre uma democracia da cultura.

Qual é o balanço que faz destes primeiros cinco meses de Temporada Cruzada entre França e Portugal?

A abertura da Temporada, no mês de fevereiro, foi um momento muito forte com a Maria João Pires na Filarmónica de Paris, que é um sítio belíssimo para a música. Foi um concerto onde estiveram mais de duas mil pessoas presentes e que teve um sucesso enorme. A presença da Maria João iluminou este momento, de maneira magnífica.

Houve também um momento no Teatro Chatelêt, que juntou cerca de duas mil pessoas sobre a cultura portuguesa musical e também a ligação e as influências com a lusofonia, seja no continente africano ou noutras partes do mundo. O evento mostrou também essas influências e demonstrou como Portugal é um país cosmopolita e que tem uma capacidade de ligação ao mundo. Esse foi um momento muito forte.

O Festival Iminente, em Marselha, foi também um grande momento, com uma exposição fantástica sobre as mulheres artistas portuguesas do séc XX e XXI no Festival de Tour, que contou com a presença de mais de oito mil pessoas.

O fórum dos Oceanos, o fórum sobre a questão da igualdade e outro fórum sobre a questão da biodiversidade também foram importantes. Portugal mostrou o seu conhecimento sobre o mar, o oceano e a pesquisa ao nível científico que tem vindo a ser desenvolvida e demonstrou que está à frente de muitos países europeus, fatores também muito importantes para modificar a imagem de um país como Portugal nos meios científicos, económicos e culturais.

O que é que se pode esperar nos próximos meses? Pode desvendar um pouco do véu?

Sim. Este mês de junho vai ter este trabalho contínuo sobre a contemporaneidade dentro do espaço europeu. Esta Temporada começou há cerca de 120 dias e ainda temos 140 dias pela frente. Como presidente desta temporada, eu vou contando cada dia. Vejo quais são os eventos, quais foram as reações do público, as pessoas que estiveram envolvidas e que conhecem a Temporada.

É muito importante, hoje, trabalhar nesta nova sessão da Temporada até ao fim de outubro para dar também um novo arranque ao projeto. Os meses de setembro e outubro vão ser dois meses muito fortes, com muitos eventos em França e em Portugal.

Este trabalho sobre a transformação dos imaginários e esta partilha de uma relação cultural, científica, artística, aberta sobre a democracia é um momento forte. Vão existir muitos eventos culturais, artísticos, em Lisboa, no Porto, mas também em Faro ou em Paris, por exemplo.

Vão existir exposições de dança, teatro, mas também pesquisas sobre questões relacionadas com a educação. O programa é muito rico e vai ainda ser aberto a momentos com a possibilidade de inventar novas relações dentro da própria Temporada até ao final de outubro.

Todo o esquema está feito, construído e muito bem construído com as equipas. São mais de 100 as pessoas que trabalham nesta Temporada, no Instituto Francês e em Portugal, no Instituto Camões. Os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Educação estão também muito envolvidos.

Ainda está muito para vir. E eu gosto de dizer: há um projeto para dois países. Não são duas equipas. É uma grande equipa franco-portuguesa que trabalha junta, com a esperança de construir o que se vai passar depois da Temporada. Que venha o ano 2023-2024. Vai haver um novo tempo depois desta Temporada. Espero que este projeto crie modificações fundamentais na nossa maneira de colaborar entre os dois países.

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