Descobri ontem os profetas do sorriso a propósito da lenta desmemória da Lúcia.
Tinha-te visto atravessar a rua e voltou-se para trás tentando em vão lembrar-se do teu nome.
Sabia quem eras porque te reconheceu o sorriso. Mas o nome não.
Depressa pensou, na sabedoria dos seus anos, que o mais importante era o sorriso.
Disse-te tudo isto quando te encontrou.
«Agora já me lembro do seu nome, Madalena. Mas quero dizer-lhe que foi por causa do sorriso.»
Beijaste-lhe as mãos, agradecida. A velha senhora descobrira o que em ti não passa. A imagem da esperança num traço de alegria. Essa que há-de ficar, após todas as mortes.
Esta noite, lembro-Te, Senhor, a Madalena e todos os profetas que, como ela, Te anunciam sorrindo.
E dou-Te graças. Porque dizem a Tua face acolhedora e companheira.