​As duas caras do Syriza
21-09-2015 - 13:50

O Syriza ganhou as eleições na Grécia. Aqui está uma boa notícia para os gregos e para os europeus.

Se o Syriza perdesse, com a facilidade com que tem rasgado sucessivos compromissos não deixaria de arregimentar e instrumentalizar as ruas contra a austeridade que o seu próprio Governo agravou e acordou com Bruxelas. E maior instabilidade política conduziria a um agravamento da situação e a mais sofrimentos para uma boa parte do povo grego.

De facto, a austeridade é hoje mais grave na Grécia do Syriza do que no tempo do governo anterior, da Nova Democracia. Vencida pelo Syriza, mas confirmando-se como a grande força da oposição, não se vê que a Nova Democracia incendeie os gregos contra a austeridade que também se viu obrigada a aplicar nos seus mandatos, perante um Estado que nas últimas décadas viveu sempre muito acima das suas possibilidades.

Recorde-se o que mudou em apenas nove meses. Em Janeiro, o Syriza ganhou as eleições gregas, prometendo mudar a Europa a partir de Atenas. Resultado? Aplauso quase unânime da esquerda europeia. Com a excepção, claro, de alguns partidos socialistas com responsabilidades governativas, caso de Hollande, em França.

Uma vez eleito e confrontado com a trágica realidade que de resto bem conhecia, Tsipras começou a falhar compromissos e convocou um referendo, para dizer à Europa que os gregos se opunham à continuação da austeridade. E os gregos disseram um rotundo ‘Não’. E Tsipras, embalado pela vitória, foi a Bruxelas levar o recado grego com uma mão e assinar com a outra novo pacote de medidas – mais gravosas e “austeras” do que as anteriores.

Debilitado no parlamento e em ruptura com o inefável Varoufakis, Tsipras recorreu de novo às urnas. E nas legislativas deste Domingo voltou a ganhar.

Os gregos renovaram o apoio ao único homem que tanto os leva a repudiar como a aceitar a austeridade. Por isso, é melhor que seja Tsipras, o adversário da austeridade, a aplicar a receita de que discorda, do que ter o mesmo Tsipras a protestar nas ruas, contra outro governo que aplicasse as medidas que ele próprio rubricou.

Mas para além da ambiguidade sobre a austeridade, sobra outra mais grave: no próximo governo grego, em coligação com Tsipras, continuará a sentar-se um partido conotado com a extrema-direita, cuja porta de acesso ao poder lhe foi escancarada pelo insólito esquerdismo do Syriza.

Ao menos, aqui não há novidade: os extremos tocam-se.