​A fronteira irlandesa
20-11-2017 - 06:26

As negociações do “brexit” só avançarão uma vez resolvida a questão da fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster, avisa Dublin.

O primeiro-ministro da República da Irlanda encontrou-se na cimeira de Gotemburgo com a primeira-ministra britânica. Leo Varadkar tornou claro a Theresa May que o seu país se irá opor a que as negociações do “brexit” avancem para a segunda fase (depois de estabelecidos os termos do “divórcio, discutir-se-á a futura relação entre a UE e o Reino Unido) sem que esteja escrito, preto no branco, que a fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster (Irlanda do Norte) não terá controlos.

Agora, aquela fronteira não tem quaisquer barreiras. Como o Ulster é parte do Reino Unido e este, como a República da Irlanda, por enquanto integram ambos a UE e o seu mercado único, a fronteira entre o Ulster e a República da Irlanda é semelhante à fronteira entre Portugal e Espanha – na prática e em tempos normais, é como se não existisse. Mas o “brexit” mudará tudo.

Com o Reino Unido fora da UE e também fora do mercado único e da união aduaneira comunitária, aquela passa a ser uma fronteira exterior da UE. Não se vê bem como poderá ficar aberta. E se de facto não ficar, daí decorrerão sérios prejuízos para ambos os lados – República da Irlanda e Ulster. Não apenas prejuízos comerciais e económicos: poderá vir a ser prejudicado o processo de paz concluído há vinte anos entre o Governo britânico e o IRA. A paz no Ulster ainda não está firmemente consolidada.

Esta espinhosa questão é mais uma prova de como os adeptos britânicos da saída da UE não se preocuparam em preparar essa saída, antecipando os problemas que iriam surgir. Talvez, diz-se, porque nem eles contavam ganhar o referendo de Junho do ano passado.

E com a primeira-ministra Theresa May politicamente enfraquecida e sob constantes ataques do seu próprio partido e, por vezes, até, de membros do seu governo, as negociações do “brexit” tornaram-se muito complicadas. Por isso há quem fale na possibilidade de um novo referendo no Reino Unido, para inverter a posição que saiu do referendo de 2016. Não parece crível, porém, que tal aconteça – seria politicamente muito difícil de aceitar.