Distorções no mercado de trabalho
25-08-2017 - 06:44

Cada vez mais temos uma economia de baixos salários.

A descida do desemprego para 8,8% da população activa em Portugal é, sem dúvida, uma evolução positiva. Convém, no entanto, reparar em algumas distorções no nosso mercado de trabalho.

Uma delas foi ontem destacada no diário “Negócios”: o salário líquido dos licenciados caiu, em média, 9% desde 2011. Em 2015 e 2016, e já no ano corrente, a queda parece ter estagnado no valor nominal, médio, de 1.223 euros mensais.

Esta desvalorização dos vencimentos dos licenciados ocorre numa altura em que se apela, e bem, a mais e melhor formação académica dos portugueses, como condição de progresso económico e social.

Como se explica? Não há, que eu conheça, um estudo sério sobre este fenómeno perverso de maior oferta de trabalhadores com ensino superior coincidir com menor procura. Mas podem avançar-se alguns palpites.

O Prof. João Cerejeira, da Universidade do Minho, escreve na revista “Cadernos de Economia”, ligada à Ordem dos Economistas, que aumentou o número de licenciados a ocuparem cargos antes ocupados por pessoas com o ensino secundário apenas (no turismo, na restauração, nos “call centers”, etc). E aponta que um dos factores deste desajustamento estará no que classifica de “sobre-educação”. Confesso que esta palavra me deixa perplexo.

Outras explicações referem que o Estado deixou de contratar licenciados para conter despesa pública – o que enfraquece dramaticamente as capacidades da Administração pública.

Uma outra hipótese é que a reforma chamada de Bolonha desvalorizou as licenciaturas em favor dos mestrados e doutoramentos, mas faltam aqui dados empíricos para formar uma opinião.

Parece é que muitos empresários e gestores não apreciam por aí além elevados graus académicos no pessoal que empregam. Por isso emigram jovens com mestrados e doutoramentos.

Outra distorção, em parte ligada ao desajustamento referido, está em que a qualidade do emprego recentemente criado é, em numerosos casos, muito baixa, como alertou Carvalho da Silva, antigo líder da CGTP. De facto, no segundo trimestre deste ano foram criados 102 mil novos empregos – mas quase metade (45 mil) aconteceram no sector “alojamento e restauração”, graças à expansão do turismo.

Estamos, assim, a agravar cada vez mais, e não a superar, a nossa economia de baixos salários, ao contrário do que o Governo prometia.