Donald Trump não conhece “pessoas reais”, afirma o Pulitzer Adam Johnson
20-03-2017 - 09:50
 • Maria João Costa

O Prémio Pulitzer de 2014 estava no Oriente quando soube quem era o novo Presidente dos EUA. Hoje a viver na Europa, Johnson admite que já consegue ganhar a vida com a escrita.

Adam Johnson, escritor norte-americano que venceu em 2014 o Prémio Pulitzer, esteve no Funchal a participar no Festival Literário da Madeira, onde conversou com a Renascença sobre o seu livro “Vida Roubada”.

A obra com que ganhou o Pulitzer, a única editada em português, retrata a vida na Coreia do Norte. O autor visitou o país e diz que se sente ofendido por sítios “onde as pessoas não têm voz”.

A escrita foi a arma do escritor norte-americano Adam Johnson para pôr a nu uma realidade que só à distância poderia ver. “O único sítio onde não se consegue falar com um norte-coreano é na Coreia do Norte, porque é ilegal. Podemos entrevistar pessoas na Coreia do Sul, na China, na Califórnia ou até em Portugal”, diz.

Mas, porque queria ter “um cenário fidedigno”, viajou até à Coreia do Norte. Queria saber “a que cheiram as ruas, o que é que as pessoas vestem, como se comportam”. Por isso, confessa: não se sentiria bem “se não tivesse ido. Seria como escrever sobre Marte”.

O autor diz que “há algo na Coreia do Norte que é como a Lua: estudamo-la através de um telescópio”, por isso “ir lá foi muito importante para sentir a opressão em todo o lado”.

No centro da acção de “Vida Roubada”, editado pela Saída de Emergência em Portugal, está a vida de Pak Jun Do. A personagem reflecte a vida que Adam Johnson encontrou na Coreia do Norte.

“Acho que há uma narrativa no Ocidente que todos contamos e na qual todos acreditamos que cada ser humano é especial, valioso e único. Na Coreia do Norte é o oposto. Há apenas uma personagem principal, ninguém tem a sua própria personalidade e essa personagem é o querido líder”, indica à Renascença, concluindo que, ali, “os sonhos não importam”.

Quatro anos depois de ter ganho o Pulitzer, o autor de 46 anos já escreveu outros livros – um deles, “Fortune Smiles”, valeu-lhe o National Book Award.

A “mentira” que se tornou verdade

Adam Johnson vive agora fora do seu país. Está na Europa, mas a eleição do Presidente norte-americano, Donald Trump apanhou-o no Oriente.

“A 8 de Novembro de 2016, eu e a minha família estávamos em Hong Kong e não queríamos acreditar. Alguém nos disse que o Trump era Presidente e eu achei que era uma mentira”.

Mas a “mentira” era verdade. Na opinião de Johnson, Trump representa “o oposto daquilo em que a América acredita” e dá como exemplo “a autodeterminação, o individualismo, o serviço público, a integridade, a possibilidade, acreditar na diferença, na tolerância, na diversidade”.

Sem mostrar vontade de voltar ao seu país de origem, o escritor lança um olhar crítico sobre a nova administração norte-americana e remata: “ter alguém que não sabe assim tanto sobre História levanta questões”.

Diz que sente “a incerteza” e questiona: “Não é perigoso para o mundo não ler?! Não saber História?!”.

“Acho que Donald Trump não conhece pessoas reais!”, conclui.