​Venezuela
11-08-2017 - 13:10

As intenções de Chavez e de Maduro foram seguramente boas: ajudar os mais pobres. O problema é quando a racionalidade económica é substituída pela ideologia, a liderança política pelo populismo.

Há uma anedota antiga do ministro que visita uma zona rural. Um agricultor aproxima-se do governante e queixa-se do preço dos produtos agrícolas. "É a lei da oferta e da procura", diz o ministro. "Pois então veja lá se muda essa lei", responde o agricultor.

A Venezuela é diferente desta anedota por dois motivos. Primeiro, a ideia de "revogar" a lei da oferta e da procura não veio do agricultor mas sim do próprio governo. Segundo, não se trata de uma anedota mas sim da realidade nua a crua. Não tem muita piada.

As intenções de Chavez e de Maduro foram seguramente boas: ajudar os mais pobres. O problema é quando a racionalidade económica é substituída pela ideologia, a liderança política pelo populismo.

O único benefício que vejo na história da Venezuela é que fornece aos professores de economia uma série de exemplos do que não se deve fazer:

Lição número 1. Fixar um preço máximo é óptimo para os consumidores no curto prazo: quem é que não gosta de pagar menos do que o preço de mercado? O problema é que os incentivos para os produtores oferecerem o produto diminuem, se é que não desaparecem completamente. O resultado é um supermercado com preços baixos mas as prateleiras vazias.

Lição número 2. A gasolina é uma excepção, dirão: afinal, a Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Como tal, fixar um preço baixo para a gasolina não faz mal, poderíamos pensar.

No entanto, o resultado é criar um enorme incentivo para exportar gasolina para a Colômbia, onde o preço é mais próximo do preço de mercado. Resultado: o governo Venezuelano subsidia a gasolina que os colombianos consomem. Estes últimos agradecem, os venezuelanos não tanto.

Lição número 3. A redistribuição da riqueza através da expropriação "a granel", sem respeito pelos direitos de propriedade, tem um efeito material imediato positivo: o povo fica com maior riqueza.

O problema é que muitos dos detentores do capital físico, que em grande parte são também detentores de capital humano, preferem sair do país a ser tratados de forma tão abrupta. O resultado é que o país perde uma grande fracção da população educada.

Lição número 4. O que se diz sobre a expropriação dos ricos aplica-se também ao investimento estrangeiro. A nacionalização tem um efeito imediato positivo: maior riqueza para os nacionais. O problema é que depois os estrangeiros se recusam a investir, e inclusivamente a colaborar na gestão dos investimentos já existentes. A Venezuela importa gasolina porque não tem quem possa operar as refinarias.

Lição número 5. Não é só o capital humano que foge da Venezuela.

As pessoas tentam também transferir a sua riqueza para os Estados Unidos ou Espanha. Como tal, a procura de dólares é enorme. Para "abafar" esta procura, o governo estabelece controles de capital: apenas podem comprar dólares os que demonstrarem uma necessidade clara de importação ou de incorrer em despesas de viagem. Resultado: voos de Caracas para Nova Iorque com todos os bilhetes vendidos mas nenhum passageiro a bordo (durante algum tempo, comprar um bilhete era prova suficiente da necessidade de obter dólares para viajar).

A regulação dos mercados e a distribuição da riqueza são condições necessárias para a eficiência e para a equidade. Há muitas formas de o fazer, umas melhores do que outras. "Revogar" a lei da oferta e da procura é uma das mais certas receitas para o desastre.