​O primeiro teste
06-08-2018 - 06:21

O combate aos fogos nesta brutal onda de calor não correu mal. O mesmo não se pode dizer do SIRESP.

A excepcional onda de calor, que desde há dias bate “records” de subida de temperaturas em praticamente todo o território continental do país, é o primeiro teste às medidas de combate aos incêndios florestais depois das tragédias do ano passado.

Não parece que o teste seja negativo, apesar do enorme fogo na serra de Monchique, que os operacionais não conseguiram extinguir quando ainda era de dimensão limitada. Mas se na Califórnia há incêndios florestais que duram há duas semanas ou mais, fazendo várias vítimas mortais, não será justo criticar os nossos bombeiros ou forças militares e de segurança por causa de Monchique – quando o fogo atinge uma certa dimensão, já não há forma de o parar.

A mobilização de meios humanos e materiais para combater o fogo em Monchique e em (com dimensão muito inferior) em dezenas de outros locais foi expressiva. O desafio, daqui para diante, será manter essa mobilização em grau elevado, desde logo na prontidão do ataque aos incêndios no seu início, mesmo sem ondas de calor ao nível da atual.

O teste teve, porém um ponto negativo: o recuo governamental quanto ao SIRESP, uma rede de comunicações de emergência e segurança que, no ano passado, falhou inúmeras vezes. Tanto o primeiro-ministro como o ministro da Administração Interna tinham assegurado que o Estado tomaria o controlo do SIRESP. A. Costa chegou a criticar publicamente a empresa que detém a maioria do capital do SIRESP, embora sem referir o seu nome (é a Altice).

Pois, sem nos explicarem o que quer que seja, os governantes fizeram saber que, afinal, o Estado fica proprietário de apenas um terço da empresa e não dos 54% prometidos em Outubro. E anunciam como grande feito que o próximo presidente do SIRESP será nomeado pelo governo.

É difícil não ver nesta forma de comunicar o propósito de iludir as pessoas. Não apenas se ignoram as promessas de que o Estado teria a maioria, com o inerente poder máximo, no SIRESP, como se omite que o presidente nomeado pelo Estado ficará no cargo só oito meses (é uma presidência rotativa) e que, além dele, o Estado apenas terá um outro administrador. Ou seja, dois em sete.

O que escandaliza não é tanto o Estado português não controlar uma unidade de importância vital para a segurança do país, como o SIRESP; é, sobretudo, a tentativa canhestra de tentar disfarçar uma derrota.