Acreditas em quê?
09-01-2015 - 20:21
 • José Luís Ramos Pinheiro

O vazio de valores abre uma enorme brecha cultural nas sociedades europeias.

Nestes dias de bruma encontrei um velho amigo meu. Triste com os trágicos acontecimentos de França discorreu abundantemente sobre a necessidade de conciliar tolerância e firmeza, sonhando com sociedades em que possam conviver diferentes olhares sobre o mundo. Mas confessava-se desiludido pelo estado a que a Europa chegou, com uma geração de europeus anestesiada pelo consumo e pelo bem-estar.

Fiz-lhe então duas perguntas: E tu confias em quem? Em que é que acreditas?

Como resposta obtive o silêncio. Mas o olhar, atónito, dizia tudo. Continuei a perguntar: nalguma ideologia, talvez numa filosofia? Acreditas em Deus? Numa confissão religiosa? Nas instituições políticas ou sociais? Nos dirigentes? Confias na economia, nos mercados? Na ética, nalguns valores?

O problema é esse. As nossas sociedades agarraram-se ao imediato e àquilo que lhes permite fazer aquilo que dizem ser a "sua vida" ou apenas a "sua vidinha". Mas muitas pessoas – demasiadas pessoas – tornaram-se cépticas, relativizam tudo ou quase tudo, não acreditam em quase nada e por isso não confiam.

Este vazio de valores abre uma enorme brecha cultural nas sociedades europeias, onde os radicalismos, das mais variadas naturezas, acabam, infelizmente, por germinar.