Ligação dos portugueses à seleção e aos símbolos nacionais “é muito interessante”
15-06-2018 - 12:49
 • Ricardo Conceição

No dia em que Portugal e Espanha jogam no Mundial da Rússia, o futebol é tema central do "Visto de Fora". Esta edição termina com uma mensagem de um filho luso-francês para o pai gaulês.

“Pai, quero dizer que te amo. És meu pai, mas a partir de hoje vamos entrar em guerra. Quando o hino de Portugal começar irei pôr a mão no coração e irei orgulhar-me deste país que me viu nascer.”

É apenas um excerto de uma sms enviada por Luca (13 anos) ao pai, Olivier Bonamici, em dia de Portugal – Espanha.

O mundial da Rússia promete 64 jogos de futebol ao longo de 31 dias e as seleções de França, Espanha e Portugal vão tentar chegar ao último dia da competição.

Neste "Visto de Fora", o Futebol é rei. Os dois correspondentes olham para a forma como os portuguese sentem e vibram com a seleção nacional de Futebol.

Olivier Bonamici diz que apesar da derrota em Paris (2016), os verdadeiros “inimigos” dos gauleses são os alemães e os italianos. O jornalista francês admira a forma como os portugueses “vestem” a seleção até nos empregos, algo que em França não acontece. A utilização das cores e dos símbolos nacionais gauleses (fora do ambiente de jogo) estão “muito ligados à extrema-direita”.

Espanha e Portugal estão muito mais próximos na forma como festejam e choram as prestações das respetivas seleções. Begoña Iñiguez salienta que a La Roja é um importante fator “de união em Espanha”, um país com várias “nações”. A correspondente em Lisboa da Cadena Cope compara Vicente del Bosque a Scolari na forma como conseguiram atrair o apoio das populações. Begoña Iñiguez está pessimista em relação ao resultado do Portugal – Espanha depois da confusão em torno de Julen Lopetegui, que acabou substituído por Fernando Hierro. A “noticia caiu como uma bomba” em Espanha.

A esta hora e neste dia só podemos desejar que o Luca festeje e muito durante um mês inteiro. Seria muito bom sinal.


Refugiados dividem Europa

O caso Aquarius veio revelar que há duas Europas: uma que acolhe e outra que se encerra à entrada de migrantes. Espanha abriu os portos que Itália e Malta fecharam e este é o tema central do Visto de Fora.

O caso Aquarius veio revelar que há duas Europas: uma que acolhe e outra que se encerra à entrada de migrantes. Perante as recusas dos governos italiano e maltês, Madrid abriu o porto de Valência ao Aquarius. A bordo do navio do SOS Méditerranée seguem 629 pessoas, incluindo crianças, grávidas e doentes, que rumam a Valência.

Nesta crise, Espanha funcionou como porto seguro numa situação reveladora de uma Europa dividida. Um bloco de países defende uma resposta mais dura, mas controladora da entrada de migrantes, outra quer manter as portas abertas por razões humanitárias. Os comentadores do Visto de Fora identificam aqui a necessidade urgente de uma política europeia comum para os migrantes.

“Não foi surpresa. A resposta de Espanha foi muito rápida e demos um exemplo ao mundo. Algum país tinha de fazer alguma coisa, mas é preciso uma política comum para os refugiados”, assinala Begoña Iñiguez. A jornalista espanhola refere ainda que o gesto de Pedro Sanchez permite ao presidente do governo espanhol ganhar pontos no xadrez europeu e internacional.

É o “grande problema da Europa. É preciso resolver com urgência”, afirma Olivier Bonamici. O jornalista francês deixa críticas a Roma e a Paris pela actuação em toda esta crise ao afirmar que “Itala revela insensibilidade e agora, os franceses metem-se na política italiana a dar lições de moral. É cúmulo da hipocrisia! Todos temos em mente a forma como França trata os migrantes”, denuncia Bonamici. O correspondente da France Inter em Lisboa elogia a resposta espanhola, no entanto, refere que “algo tem de ser feito. Os bons sentimentos não representam uma solução a médio prazo”.

Olhando para atuação dos governos nesta crise Aquarius torna-se notória a perceptível divisão entre esquerda, as coligações de partidos moderados e a extrema-direita personificada em actores políticos como Matteo Salvini ou Viktor Orban.

Olivier Bonamici lembra que o ministro do Interior italiano escreveu no Twitter”Vitória”, quando Madrid decidiu abrir o Porto de Valência. “Isto vai tornar Salvini ainda mais popular na itália. Passa a ideia de que “Nós estamos a conseguir” e isto é uma situação gravíssima”, afirma o jornalista francês.

Nesta edição do VIsto de Fora é ainda aflorada a primeira baixa no governo espanhol. O ministro da Cultura e Desporto espanhol, Màxim Huerta demitiu-se depois de ter sido tornado público que foi obrigado a pagar à Autoridade Tributária espanhola um total de 364.939 euros por ter utilizado uma empresa para pagar menos impostos entre 2006 e 2008. Begoña Iñiguez recorda que Pedro Sanchez chegou ao poder a brandir a bandeira da luta contra a corrupção e não havia outra hipótese neste caso.


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