Os inimigos da UE
26-07-2018 - 06:59

Mais grave do que a hostilidade de Trump em relação à UE, que considerou “inimiga”, será o inimigo interno dos valores da Europa comunitária.

Muito se tem falado do encontro de Trump com Putin, em Helsínquia. Curiosamente, a quase ninguém ocorreu lembrar que, em 29 de junho de 2014, foi abatido por um míssil russo um avião da Malaysia Airlines, que partira da Holanda com 283 passageiros, dos quais quase 200 eram holandeses. O míssil foi provavelmente lançado, porventura por engano, pelos rebeldes do Leste da Ucrânia, apoiados clandestinamente pela Rússia de Putin. Uma das raras pessoas que recordou essa tragédia foi o vice-presidente da Comissão Europeia, o holandês Frans Timmermans, que manifestou ao “Financial Times” que a omissão do caso o escandalizava e entristecia.

Trata-se, aliás, de mais um indício da subordinação de Trump a Putin. O semanário “The Economist” classificou a cimeira de Helsínquia de “humilhação”. E um “cartoon” americano mostrava Putin a dizer a Trump, antes de começar a reunião: “não te esqueças que tens de fingir que eu não mando em ti”; Trump acenava que sim, não se esqueceria.

Tudo isto é preocupante. Mas Timmermans tem talvez razão ao considerar que, mais grave do que a hostilidade de Trump em relação à UE, que considerou “inimiga”, será o inimigo interno dos valores da Europa comunitária. Isto é, aqueles Estados membros que se tornaram adversários da imigração e dos refugiados e adeptos de regimes “musculados”, diferentes das democracias liberais – por exemplo, ao não respeitarem a independência do poder judicial, que submetem ao poder político. É o caso, nomeadamente, da Polónia e da Hungria. Neste último país, quem ajudar um imigrante ilegal, um refugiado por hipótese, arrisca uma pena de prisão. Uma norma moralmente inaceitável. E pode acrescentar-se a Itália, cujo governo é comandado pelo fascista Salvini, bem como a Áustria, a República Checa, etc.

A Comissão Europeia já desencadeou procedimentos contra a Polónia e a Hungria. Mas duvida-se que levem a sanções eficazes. Timmermans reconhece já se ter interrogado sobre se teria sido um erro o grande alargamento da UE aos antigos países satélites da União Soviética, em 2004. Porém, o vice-presidente da Comissão conclui que não. Diz ele que as populações desses países, ao contrário dos seus políticos, sentem uma forte ligação à integração europeia.

Oxalá Timmermans não seja demasiado otimista, porque, se a integração europeia perder a sua alma, deixa de fazer sentido.