Desde domingo passado, a Áustria detém a presidência semestral da UE. Hoje, esta posição já não tem a importância que teve antes de haver um Presidente permanente da União.
Ocupa agora esse cargo Donald Tusk, um polaco que foi primeiro-ministro e é detestado pelo presente governo da Polónia. Mesmo assim, o Estado-membro que presida meio ano à UE pode influenciar a agenda da Europa comunitária. Para a Áustria, o tema prioritário é a imigração.
Será que existe um problema premente nesta área? Tirando a tragédia dos que naufragam no Mediterrâneo, não. O número de refugiados e imigrantes que tentam entrar em território europeu baixou muito. E países que fazem do combate à imigração a sua bandeira, como a Polónia ou a República Checa, quase não têm imigrantes.
Porquê, então, esta prioridade à imigração? Porque é um tema caro aos populistas de direita – rende votos. O que, à primeira vista, se percebe em países como a França ou a Itália, onde os estrangeiros e particularmente os muçulmanos já têm um certo peso demográfico. Mas nos outros países a preocupação identitária parece descabida.
Talvez uma parte, pelo menos, da explicação para a preocupação identitária esteja na história de vários desses países. Tomemos o caso da Áustria, até à primeira guerra mundial sede um vasto império (o chamado império austro-húngaro). Durante décadas Viena foi uma espécie de capital cultural da Europa.
Depois da I Guerra Mundial, a Áustria tornou-se um pequeno país, com uma população menor do que a portuguesa. E a Alemanha atraía muito os austríacos, designadamente a Alemanha nazi, de Hitler – natural de Linz, uma cidade austríaca. Em 1938 Hitler anexou a Áustria à Alemanha. Os judeus austríacos que não fugiram a tempo foram dizimados, reduzindo o brilho cultural do país.
As simpatias nazis de parte dos austríacos foram ocultadas depois da derrota nazi. Mas descobriram-se vários casos, o mais chocante dos quais terá sido o de Kurt Waldheim, secretário-geral da ONU entre 1972 e 1981; depois disso tornaram-se conhecidas as suas ligações nazis na juventude. Por causa do escândalo, os EUA proibiram a entrada de K. Waldheim no seu território.
Todas estas vicissitudes abalam a identidade austríaca, bem como a de outros países do Leste europeu. É algo que nós, portugueses, estranhamos: temos as mais antigas fronteiras da Europa e uma fortíssima identidade nacional.
O presente Governo da Áustria é de direita, nele participando uma força de extrema-direita. Dele não será de esperar grande oposição à “internacional fascista” que o italiano Salvini, o patrão do governo de Roma, quer implantar, certamente com a bênção de Trump.
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