Ao longo da fatídica estrada nacional 236, onde o devastador incêndio de Pedrógão Grande encurralou dezenas de pessoas, o cenário é cor de chumbo e mais parece uma zona de guerra.
Na aldeia de Souto Fundeiro, entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, distrito de Leiria, os efeitos do fogo são bem visíveis.
Há casas destruídas, carros carbonizados e a entrada da aldeia estava esta segunda-feira cortada por uma árvore e um telhado de zinco que caíram sobre o caminho.
Os moradores descrevem um cenário terrível e contam que ainda ninguém apareceu a oferecer ajuda para recuperar o que se perdeu.
“Foi tão repentino que só tive tempo de agarrar no meu carro, na esposa e fugir. Só via lume de volta da minha casa. Era um inferno que estava ali montado”, conta Luís Graça, que andou três quilómetros debaixo de fogo pela estrada até Castanheira de Pêra.
Prosseguindo a viagem pela estrada nacional 236, o verde deu lugar a uma paisagem marcada por grandes áreas ardidas e destruição.
O incêndio que começou no sábado não dá tréguas. O combate continua por terra e ar.
Noutra localidade, em Sarzeda de São Pedro, o fogo também deixou marcas profundas. Luís Abreu tentou fugir, com a mulher e a filha, mas acabou por ficar três horas encurralado no IC8 à espera de alguém que os fosse buscar. Acabaram por entrar num carro de um popular e conseguiram escapar. A casa do sogro de Luís, na mesma aldeia, foi assaltada depois de ter ficado danificada pelas chamas. Os assaltantes levaram ouro.
Outra família de Sarzeda de São Pedro não teve tanta sorte. Quatro pessoas morreram quando tentavam fugir da aldeia. O carro ainda está à beira da estrada.
O incêndio de Pedrógão Grande matou 64 pessoas e fez mais de 130 feridos, de acordo com o balanço realizado esta segunda-feira ao início da noite. As chamas deflagraram no sábado e, alimentadas por condições meteorológicas extremas, consumiram quase 26 mil hectares de floresta. A hora é de chorar os mortos e ajudar os que sobreviveram a continuar. Em Figueiró dos Vinhos, os bombeiros recolhem alimentos para distribur pela população afectada.
A Renascença também se cruzou com Francisca Correia, que está a ajudar como pode as outras vítimas do fogo. Esta residente em Castanheira de Pêra anda a resgatar cães pelas aldeias. Muitas pessoas não conseguiram levar os animais consigo e vários cães desorientados andam pelas estadas nacionais, aldeias e vilas. Francisca quer levá-los para um canil provisório.
Mais a sul, em Nodeirinho, a Renascença encontrou outra "aldeia negra" de Pedrógão Grande. 11 pessoas desta localidade perderam a vida no violento incêndio que lavra desde sábado.