Grécia: vacina ou epidemia?
25-06-2015 - 11:29

Os alemães têm novamente a chave na mão. Se deixarem cair a Grécia, em vez de uma vacina pode sair-lhes – a eles e a todos nós - uma verdadeira epidemia.

Em 1975, Henry Kissinger defendia que pouco havia a fazer por Portugal. A democracia estava condenada e era quase certo que Portugal se transformaria numa espécie de Cuba da Europa.

Em plena guerra fria, o célebre secretário de Estado norte-americano via, apesar de tudo, um efeito positivo num regime autoritário comunista em Lisboa: o efeito vacina. Com os olhos postos no que então se passaria em Portugal, os europeus acabariam por se convencer que a ideologia marxista-leninista era inimiga da democracia e adversária do progresso. Um Portugal vermelho desempenharia, afinal, o inestimável papel de tampão ao avanço comunista na europa ocidental.

Os portugueses não estiveram pelos ajustes e não se renderam à inevitabilidade de verem o seu país transformado numa Cuba europeia, mas sozinhos teriam tido ainda mais dificuldade em consolidar a democracia. Entre outros, valeu a Portugal o firme apoio dos democratas-cristãos e dos social-democratas alemães. Foi difícil, mas valeu a pena.

Quarenta anos depois, sou tentado a pensar que na Europa – e no FMI – haverá quem esteja convencido que a queda da Grécia deve funcionar como a vacina europeia para defender, não a democracia, mas o euro. Ironia da História: neste caso, são os americanos a recear uma queda aparatosa da Grécia, pelo desequilíbrio geoestratégico que daí possa resultar.

Claro que é impossível não reconhecer a irresponsabilidade dos gregos, quer no modo como (se) governaram no passado, quer agora, no modo negligente como continuam a brincar com o fogo. De facto, só nas últimas horas surgiram propostas gregas razoavelmente credíveis.

Os alemães – decisivos em 1975 ao combaterem o determinismo de Kissinger que via Lisboa como a vacina vermelha da Europa - têm novamente a chave na mão. Se deixarem cair a Grécia, em vez de uma vacina pode sair-lhes – a eles e a todos nós - uma verdadeira epidemia.