​Nova era na Gulbenkian
09-02-2018 - 06:21

Nascida com dinheiro do petróleo, a Fundação afasta-se do “ouro negro”. Faz bem.

Antes do 25 de Abril, a Fundação Gulbenkian desempenhou em Portugal um papel fundamental, sobretudo no campo cultural. Quando a Fundação foi criada, em 1956, a promoção cultural que o Estado português então fazia era mínima. Valeu a Gulbenkian para trazer a Portugal grandes figuras das artes, da ciência, do pensamento. E para criar instituições como os seus museus, uma orquestra, um coro e as famosas bibliotecas itinerantes, que percorriam o país para o tornar menos iletrado, um serviço extinto em 2002. Também foi da Gulbenkian a melhor companhia de dança do país no séc. XX, extinta em 2005.

Tudo isto e muito mais fica dever-se a um homem de origem arménia, Calouste Gulbenkian, que enriqueceu com o petróleo do Iraque (ou do que seria depois o Iraque). Este homem, grande colecionador e amador das artes, veio viver para Lisboa, num hotel de luxo que já não existe – o hotel Avis. E em grande parte devido ao poder de persuasão do seu advogado, José Azeredo Perdigão, Calouste deixou a sua fortuna a Portugal em testamento, para criar uma fundação. Azeredo Perdigão seria o primeiro presidente da Fundação Gulbenkian, lugar que ocupou até à sua morte, em 1993.

Nascida com o dinheiro do petróleo, a Gulbenkian vai desligar-se do petróleo. A empresa da Gulbenkian que trata dos assuntos ligados ao petróleo, a Partex, criada em 1938 por Calouste Gulbenkian, contribui com perto de um quinto dos rendimentos da Fundação e tem sido dirigida por um grande conhecedor do mundo do petróleo, António Costa e Silva. Se tudo correr como previsto, a Partex será vendida.

Julgo que a Fundação Gulbenkian faz bem em se afastar do petróleo. Sobretudo por razões ecológicas, importa depender cada vez menos de combustíveis fósseis. E como a Fundação é bem gerida, não há que recear qualquer quebra na atividade desta “sorte grande” que saiu a Portugal há 62 anos.