Viagem ao interior da mente de um jihadista
26-08-2017 - 16:05

Especialistas fazem um retrato robot da personalidade e motivações de um terrorista, partindo do caso de Barcelona, onde morreram 15 pessoas.

"É o objectivo da vida deles e estão prestes a cumpri-lo. Para eles é como uma festa. Às vezes passam um ano a preparar algo que consideram muito importante. Eles não estão relaxados, estão activos." Ángel Gómez, professor de Psicologia Social na ONU, explica ao “El País” o comportamento dos cinco terroristas, que, antes de atacarem Cambrils, perto de Barcelona, pararam quatro vezes em postos de gasolina para comprar as últimas coisas de que precisavam.

As câmaras de segurança capturaram as imagens. Eles falam. Um ri-se. Outro pergunta algo. Sem levantar suspeitas. Compram alimentos e bebidas não alcoólicas. A gravação provoca um sentimento perturbador e várias perguntas: Como eles podem se comportar assim? Quem é que come um sandes antes de tentar matar quem quer que lhe apareça pela frente?

"Quando vemos uma imagem destas, ela choca-nos. Parece incongruente ". De acordo com Luis de la Corte, doutorado em Psicologia e Director de Estudos Estratégicos e de Inteligência no Instituto de Ciências Forenses e Segurança em Madrid, em declarações ao periódico espanhol, a surpresa que a cena nos causa tem a ver com o estereótipo que formamos á volta dos terroristas.

"Os terroristas são diferentes da maioria das pessoas devido à sua propensão para cometer ataques particularmente cruéis, mas em muitas outras facetas da sua psicologia são pessoas ditas normais".

A atmosfera de camaradagem na cena do posto de gasolina salta à vista. "Se o imã de Ripoll foi de facto o líder, foi muito eficaz ".

O professor Ángel Gómez desenvolveu uma teoria para tentar explicar o porquê de os jihadistas estarem dispostos a matar pelas suas crenças.

Uma ligação visceral ao grupo

"Têm uma ligação visceral com seu grupo", diz Gómez ao jornal espanhol. "Mas eles também consideram que o grupo a que pertencem não é apenas composto pelos que participam directamente no ataque, mas também pelas pessoas do Estado Islâmico que estão na Síria e que eles nunca viram. Eles consideram que essa é a sua família, o que os faz sentir invulneráveis e protegidos."

São também movidos por um desprezo pela morte, que terá uma recompensa final. "Quando se juntam a um projecto terrorista, por mais monstruoso que pareça", acrescenta Luis de la Corte, "é um projecto emocionante. Uma ilusão que eles pensam que é justificada e que terá uma recompensa ".

Já Miguel Perlado, membro Colégio Oficial de Psicólogos da Catalunha, reforça que a protecção do grupo os faz sentir reforçados.

"Eles acreditam ser diferentes, escolhidos, como alguém que está num nível mais alto. Até pensam que são um epsécie de 'super-muçulmano'".

A deriva radical

A deriva radical de um jihadista é muitas vezes indetectável. Eles são capazes de aparentar normalidade para o resto da sociedade enquanto eles estão a preparar um massacre.

"Nos últimos dias antes de um ataque ainda se comportam de forma mais normal para não suscitar suspeitas. Isso não é o que faria alguém que tem um problema mental. Eles são pessoas completamente normais ", conclui o professor Ángel Gómez.

"Eles não são psicopatas. Pode-se é dizer que o processo de conversão seja psicopático, os hipnotize e os endureça", diz Miguel Perlado, ao mesmo jornal.

Perlado diz que as técnicas de recrutamento são idênticas às de uma seita. Os recrutadores reprogramam os seguidores.

Luis de la Corte é claro: "A radicalização é uma mudança psicológica que afecta todas as dimensões do comportamento e da vida. Eles mudam atitudes, valores, visão, projectos. Mas eles não estão mentalmente doentes ", remata.

Este sábado em Barcelona decorre uma manifestação de solidariedade para com as vítimas dos atentados, que há uma semana matou 15 pessoas.