José Pedro Martins Barata
03-08-2018 - 06:58

Infelizmente, o "sistema" - nomeadamente o sistema académico - favorece grandemente o especialista. Os "renascentistas" não só têm uma tarefa difícil (a extensão do saber) como se deparam perante uma sociedade que não os aprecia suficientemente.

Hoje, escrevo sobre o Arq. José Pedro Martins Barata, começando com uma declaração de interesse: trata-se de um tio, irmão da minha mãe.

Apesar desta circunstância, espero ser objectivo no que se segue.

Na segunda-feira passada, José Pedro Martins Barata (JPMB) foi condecorado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa como Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública.

Quem é JPMB? Trata-se de um português arquitecto; ilustrador; desenhador de selos, notas e moedas; especialista em planeamento, nomeadamente planeamento urbano; vereador da CM de Lisboa; investigador social; e, mais recentemente, professor catedrático convidado do IST.

Quem conheça JPMB reconhecerá que esta é uma lista muito, muito parcial. Resta-me a desculpa da falta de espaço e falta de conhecimento sistemático de um currículo tão variado quanto longo.

Quando pensamos em generalistas, pensamos no Renascimento, a época em que a extensão da arte e do saber ainda permitia o aparecimento de pessoas como Leonardo ou Galileu. Não vou aqui debruçar-me sobre a questão interessante (e muito batida) de quem foi o "último generalista". Aceitemos, simplesmente, que o mundo actual não é um mundo de generalistas: Assim como a Revolução Industrial trouxe a divisão do trabalho para um patamar superior (ou inferior, consoante a perspectiva), a universidade de investigação (primeiro na Alemanha, depois nos Estados Unidos, depois um pouco por todo o mundo) trouxe a divisão do trabalho para o mundo do saber.

Hoje em dia, o saber é em grande parte produzido e distribuído em departamentos especializados por académicos que "sabem cada vez mais sobre cada vez menos". A especialização tem coisas óptimas, mas também tem os seus custos: muitas vezes, é preferível ver a realidade a 3 dimensões, mesmo que com "lentes" pouco nítidas, do que ver a realidade com uma precisão enorme, mas a 2 dimensões.

Infelizmente, o "sistema" - nomeadamente o sistema académico - favorece grandemente o especialista. Os "renascentistas" não só têm uma tarefa difícil (a extensão do saber) como se deparam perante uma sociedade que não os aprecia suficientemente.

Também por este motivo, é particularmente feliz a escolha do Presidente da República ao condecorar JPMB, possivelmente o último generalista.