Equipa da Gulbenkian descobre mecanismo para combater bactérias multirresistentes
18-04-2017 - 20:30

Investigadores identificaram um “mecanismo de evolução das bactérias”, que poderá ajudar na descoberta de novos antibióticos ou estratégias alternativas contra as bactérias multirresistentes.

Uma equipa do Instituto Gulbenkian de Ciência descobriu uma nova forma terapêutica contra as bactérias multirresistentes. A Renascença falou com a responsável pelo estudo publicado, esta terça-feira, na revista PLOS Biology.

As bactérias evoluem, tornam-se resistentes a fármacos e vão apresentando mutações. Este é considerado, actualmente, um dos principais desafios no campo da saúde.

Agora, a equipa liderada por Isabel Gordo identificou um “mecanismo de evolução das bactérias”, que poderá ajudar na descoberta de novos antibióticos ou estratégias alternativas contra as bactérias multirresistentes.

“Estávamos a estudar uma bactéria que tem duas resistências e descobrimos um mecanismo em que as bactérias evoluem, adquirem mudanças num determinado gene que faz o acoplamento entre os dois genes que contêm as resistências”, explica a bióloga.

“Se pensássemos na bactéria como se fosse um carro e se esse carro tiver uma pequena alteração no seu motor, que é conferir à bactéria resistência a um determinado antibiótico, e se tiver uma outra alteração por exemplo no acelerador, que confere resistência a um outro antibiótico, o que nós descobrimos foi um terceiro gene que liga o motor ao acelerador. Neste caso a metáfora seria a embraiagem, e esse gene é o que elas vão mudar para compensar os defeitos que têm no motor e no acelerador. A consequência disto é que nós conseguimos antecipar o que a bactéria vai fazer e agora podemos atacar esse outro processo.”

Descobriu-se que o ritmo de adaptação compensatória das bactérias E.coli (responsáveis por exemplo pelas intoxicações alimentares) multirresistentes é mais rápido do que nas estirpes que têm apenas uma mutação, e foram identificadas as proteínas chave envolvidas no mecanismo compensatório das bactérias multirresistentes.

A equipa de investigação prevê que o mecanismo agora descoberto possa ser usado de forma geral em muitos outros casos de multirresistências a fármacos, uma vez que os antibióticos afectam os mesmos mecanismos celulares.

A descoberta abre um mundo de possibilidades. O “conceito novo” passa por, conhecendo a maneira como as bactérias se comportam, “atacar o processo” de evolução e impedir que se tornem resistentes aos fármacos, sublinha Isabel Gordo.

O processo até à criação de um antibiótico “ainda pode ser longo”. “Descobrimos uma coisa e agora temos que arranjar uma droga que entre para dentro das células da bactéria”, refere a investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência.