​A vingança de Putin
26-02-2018 - 06:14

Multiplicam-se os casos de desinformação de origem russa na internet, para dividir e enfraquecer as democracias liberais.

Em 2015 a União Europeia criou um grupo de trabalho, composto por especialistas, para detectar e combater ataques de desinformação provenientes da Rússia e através da internet, sobretudo nas redes sociais. Segundo declarou Federica Mogherini, Alta Representante da UE para a Política Externa e a Segurança, foram encontrados mais de 3500 exemplos de desinformação pró-russa, ingerindo nomeadamente nas eleições em França, no Brexit e no problema da Catalunha. Estas ingerências recorrem a notícias falsas e a opiniões mais ou menos inventadas, de maneira a criar divisões nas democracias liberais, assim as enfraquecendo.

Entretanto, nos EUA as interferências russas visaram nos últimos dias o debate sobre o controle de armas, na sequência de mais um tiroteio que matou 17 pessoas numa escola da Florida. Como se sabe, este é um assunto que divide profundamente os americanos.

Politicamente ainda mais relevante é a interferência russa nas eleições que levaram Trump à Casa Branca. Robert Mueller, o procurador que investiga eventuais conluios da campanha eleitoral de Trump com entidades russas, acusou há dias 13 russos de ingerência.

Paralelamente, multiplicam-se os contactos e os acordos entre partidos e políticos radicais e o partido de Putin. É o caso, por exemplo, do acordo de cooperação entre a Rússia Unida, partido que apoia Putin, e a Liga do Norte, liderada pelo neofascista Matteo Salvini. O mesmo acontece com o partido austríaco de extrema-direita, que faz parte da coligação de governo de Viena, detendo as pastas dos negócios estrangeiros, defesa e interior. Curiosos, ainda, são os laços cada vez mais estreitos entre o Kremlin e o partido alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, bem como com o partido de extrema-esquerda Die Linke, descendente do partido comunista da antiga Alemanha de Leste.

As democracias liberais estão, assim, a ser seriamente ameaçadas pela Rússia – ao ponto de o semanário britânico “The Economist” dedicar a sua última história de capa ao problema. Trump preocupa-se apenas em não vir a ser inculpado de conluio com russos na sua eleição. E os países europeus ainda não tomaram medidas eficazes para se defenderem.

Decerto que agora não se trata de a Rússia exportar ideologia para todo o mundo como acontecia no tempo do comunismo. O objetivo da Rússia é enfraquecer essas democracias, uma espécie de vingança de Putin por o seu país ter perdido a guerra fria e já não ter o estatuto de superpotência.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus