“Brexit” a passo de caracol
01-09-2017 - 06:30

As negociações do “brexit” avançam lentamente. Já se esperava.

A terceira ronda de negociações entre a UE e o Reino Unido, por causa do “brexit”, não adiantou grande coisa. Os negociadores britânicos queixam-se de que Michel Barnier, o negociador da UE, é demasiado rígido e pedem-lhe flexibilidade e imaginação; por sua vez Barnier lamenta a “ambiguidade britânica” e a falta de propostas concretas de Londres.

“Primeiro, precisamos de conhecer a posição deles e depois poderemos ser flexíveis”, afirma Barnier.

A rigidez da UE decorre de pelo menos dois factores. Barnier tem um mandato para negociar, aprovado pelos 28 países que se mantêm na União; não será fácil que esses 28 Estados se ponham de acordo quanto a eventuais mudanças.

Por outro lado, a UE não pode oferecer ao Reino Unido facilidades que tornem atractiva para outros Estados-membros uma futura saída da UE.

Do lado dos britânicos, a falta de propostas concretas tem a ver com dois factos. O imprevisto (até pelos defensores da saída) ‘SIM’ ao “brexit” revelou que nada estava preparado para tal situação. E a convocação de eleições gerais pela primeira-ministra, Theresa May, na esperança de reforçar a maioria conservadora na Câmara dos Comuns, resultou em… minoria.

T. May saiu enfraquecida, claro, e dentro do partido conservador e no seu próprio governo multiplicam-se as divisões sobre o que deve ser a negociação em curso. Até no partido trabalhista houve mudança de posições – agora defende que o Reino Unido, fora da UE, deve manter-se no mercado único. Por isso, são escassas as propostas concretas do lado britânico.

E já houve alguns recuos do Reino Unido, depois de os partidários da saída da UE terem feito afirmações mirabolantes.

Por exemplo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, disse há tempos que o Reino Unido nada iria pagar (há compromissos britânicos pelo menos até 2021); esta semana já afirmou que o seu país iria cumprir os compromissos financeiros assumidos.

Outra ilusão entretanto desfeita era que o Reino Unido se livraria, a curto prazo, da jurisdição do Tribunal Europeu de Justiça. Ou que seria possível começar já a discutir as futuras relações comerciais dos britânicos com a UE, mesmo antes de se adiantar mais quanto aos termos da saída do Reino Unido da Europa comunitária.

Nada disto surpreende. Muita gente avisou que dois anos não seriam suficientes para concluir estas dificílimas negociações.