​A grande contradição
19-04-2018 - 06:26

Então não é verdade que desde o início se sabia que o euro iria criar países ganhadores e países perdedores e que foi isso, aliás, que fez “indemnizar” os países perdedores com mais uns patacos de fundos estruturais?

Quando se olha para as vicissitudes da integração europeia a partir da criação da União Europeia em 1992, não deixa de nos surpreender a inconsistência do caminho seguido. Isto é particularmente verdade nos últimos tempos, em que parece que os náufragos do projecto falhado do federalismo europeu se agarram às mais irrealistas esperanças e aos mais perigosos e contraditórios sonhos.

Toda a inconsistência do processo se pode resumir na imensa contradição que é de fazer apoiar o projecto de integração, supostamente, um projecto de união entre estados, naquilo que, afinal, mais divide a Europa!

Estou evidentemente a falar do euro, que neste tempo de descalabro das ilusões dos europeístas extremados é apontado por estes como o grande e talvez único factor de união, que pode “salvar” a Europa.

Como é possível tanta cegueira? Então, esquece-se que foi justamente o euro que, em particular a partir da crise, criou clivagens na União como até aí não se conheciam? Então não é verdade que desde o início se sabia que o euro iria criar países ganhadores e países perdedores e que foi isso, aliás, que fez “indemnizar” os países perdedores com mais uns patacos de fundos estruturais? Então, alguém nega que o euro e as suas instituições fizeram que a Alemanha ganhasse um desproporcionado poder na União agravando as clivagens que por outra via se iam criando?

Pensar que será o euro o factor de união desta Europa criada, massacrada e dividida por ele, é uma enorme contradição.

E a História demonstra que os projectos grandiosos que se se autocontradizem, normalmente têm vida curta e são extremamente penosos quando se afundam.