​Determinismo geográfico grosseiro
15-06-2018 - 06:16


De vez em quando, da boca de políticos (em geral medíocres) ou de comentadores pouco dados a grandes leituras surgem formas grosseiras de determinismo geográfico como justificação para a criação de estados.

O determinismo geográfico, em ciência social é a concepção que considera que o homem é fruto do meio e que portanto todos os aspectos importantes da vida em sociedade são determinados pelas condições geográficas.

O determinismo geográfico nas suas versões mais elaboradas não convence, mas tem, pelo menos, a espessura necessária para valer a pena fazer a sua crítica.

Não assim o que eu chamo o determinismo geográfico grosseiro que verdadeiramente não mereceria referência se não fossem os políticos e comentadores que mencionei.

Pode sintetizar-se o determinismo geográfico grosseiro desta forma: se um dado espaço, do ponto de vista geográfico, se distingue razoavelmente de espaços limítrofes, então deve formar um estado cujo território coincida com esse espaço.

A Europa, como grande península da Euro-Ásia, distingue-se do resto deste super-continente? Então deve formar-se um estado europeu. Deve mesmo, segundo alguns, constituir uma pátria, provavelmente instituída por decreto. Um desses “alguns” é o actual primeiro-ministro espanhol que recentemente proferiu aquela que poderá vir ser considerada a afirmação mais estapafúrdia do ano (ganhando inclusivamente às de Donald Trump) : “ a Europa é a nossa nova pátria” (dele, dos seus amigos ou dos Espanhóis, não é claro).

Outro exemplo. Como a Península Ibérica se destaca geograficamente do resto da Europa, então deve existir um estado ibérico.

Lamento. Mas a Europa não é minha pátria, nem a Península Ibérica é mais que uma designação geográfica e não é, nem tem que ser, uma unidade política. Por isso andaram muito bem os deputados portugueses em não aceitar que o parlamento alemão, por razões orçamentais (pobres alemães, tão poupadinhos!) transformasse dois grupos parlamentares de amizade (um com Portugal e com Espanha) num só grupo de amizade ibérica.

Espero que este caso alerte todos os que se deixam embalar pelo federalismo europeu.