Fazer o máximo possível
27-02-2018 - 06:15

É verdade que na limpeza das matas se pretende fazer em meses o que não se fez durante décadas. Mas não se deve aliviar a pressão.

O presidente da Associação Nacional de Municípios, Manuel Machado, disse à Renascença que há muito trabalho a fazer na limpeza das matas, mas faltam meios – desde mão-de-obra a maquinaria capaz de ser utilizada nesta intervenção acelerada.

Marta Soares, presidente da Liga de Bombeiros, foi rápido a responder negativamente. Os bombeiros, afirmou ele, não têm vocação, meios ou tempo para ajudar as câmaras a limpar as matas – é que neste mês de fevereiro, revelou Marta Soares, há cerca de 280 incêndios por dia!

Perante a dupla tragédia dos incêndios florestais do ano passado a limpeza das matas tornou-se uma prioridade. As leis sobre essa limpeza existem há mais de dez anos, só que eram calmamente ignoradas por toda a gente, proprietários, autarquias, governo central, etc. Agora quer fazer-se em escassos meses o que não se fez durante décadas. Nada de estranhar, em Portugal.

As dificuldades de cumprir os prazos fixados são óbvias. Além da falta de pessoal especializado e de máquinas, basta pensar nos proprietários que não habitam habitualmente nos terrenos em causa e nos terrenos cujo proprietário é desconhecido.

Os autarcas receiam, com alguma razão, que venham a ser os “bodes expiatórios” de uma inevitável incapacidade para limpar tudo o que deveria ser limpo.

Mas julgo que o ministro da Administração Interna não deve dar mostras de qualquer recuo. É que, se Eduardo Cabrita transmitisse agora qualquer sinal de menor urgência na limpeza das matas, logo muita coisa iria parar, invocando os mais variados motivos.

Creio que o ministro está consciente de que a tarefa não ficará completada este ano – mas é imperativo que se faça o máximo possível, porque estão em causa vidas humanas e graves desastres materiais. Por isso seria um erro avançar com uma possibilidade de desculpa para fazer muito menos do que o possível.