A purga levada a cabo na Arábia Saudita é a mais extensa desde que, em 1932, a presente dinastia começou a reinar naquele país. Foram presos onze príncipes, quatro ministros em funções, dezenas de altas figuras do Estado, milionários, etc. Todos acusados de corrupção.
E foram demitidos o chefe da Guarda Nacional, o comandante da Armada e o ministro da Economia. Ora, já em Setembro tinha ocorrido uma onda de prisões, embora mais limitada.
Foram ordens do presente homem forte da Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman (MBS), de apenas 33 anos. O rei Salman, de 81 anos, tinha em Junho passado substituído o príncipe herdeiro, um sobrinho, colocando um filho, MBS, nesse lugar.
A grande dúvida, agora, está em saber quais as verdadeiras motivações de MBS, um homem ambicioso. As purgas terão sido executadas sobretudo para afastar possíveis rivais de MBS, que ainda não é rei? É uma explicação que tem sido dada para o combate à corrupção do Presidente chinês, Xi Ping.
Mas MBS afirma querer modernizar a Arábia Saudita. Declarou mesmo desejar para o seu país um Islão moderado, condenando os últimos 30 anos da Arábia Saudita, que considerou “anormais” pelo seu ultraconservadorismo islâmico. E já algumas medidas liberalizantes foram tomadas, como permitir que as mulheres sauditas conduzam automóvel e que possam ser espectadoras em três estádios.
Atenuar a dependência do petróleo é outro objectivo maior de MBS. Mas será difícil atrair investidores estrangeiros enquanto a situação política saudita não estabilizar. E a política externa de MBS, aplaudida por Trump, suscita alguma preocupação: trata-se de confrontar o Irão, isolar o Qatar e prosseguir a guerra no Iémen, que não está a correr bem para os sauditas.
Reformar uma monarquia absoluta a partir de cima não é tarefa fácil. Claro que essa reforma será preferível a um banho de sangue de uma revolução. Mas é possível reformar pela via pacífica um país com um regime tão arcaico como o que vigora na Arábia Saudita?