Defesa europeia, mera aspiração
17-04-2018 - 06:19

A UE não tem forças militares credíveis. Por isso não existe uma política externa europeia

O ataque com mísseis a instalações sírias de produção e armazenamento de armas químicas foi curto e contido. Não terá feito vítimas civis e evitou cuidadosamente atingir militares russos e iranianos. Mas sem qualquer estratégia coerente para a Médio Oriente da parte de Trump, o ataque de sexta à noite pouco ou nada resolverá.

Nesse ataque os EUA foram acompanhados por britânicos e franceses. À primeira-ministra Theresa May convém aproveitar tudo o que distraia das difíceis negociações do Brexit. E ao Presidente Macron também interessa desviar as atenções da forte contestação sindical que as suas medidas estão a provocar.

Além disso, a França tem vindo a intervir militarmente em zonas conturbadas de África, como o Mali (onde soldados franceses sofreram ataques este fim-de-semana). A afirmação externa da França é um uma das prioridades de Macron.

Mas a participação britânica e francesa no ataque à Síria é curiosa do ponto de vista americano. O isolacionista Trump nunca se mostrou preocupado em cultivar aliados, exceto para lhes vender armas (casos da Arábia Saudita e de Israel, por exemplo). Talvez a influência do Secretário da Defesa, general James Mattis, esteja a introduzir alguma racionalidade nas decisões do presidente.

Do lado da UE, o envolvimento neste ataque foi escasso. O Reino Unido está de saída da Europa comunitária e apenas outro Estado-membro, a França, participou na iniciativa militar.

Foi notada a posição tomada por Angela Merkel: ficar de fora de qualquer operação militar. É natural que entre os alemães ainda pese a memória de terem provocado duas guerras mundiais, o que os tem levado a um certo retraimento em iniciativas militares. Mas há um outro fator importante: como muitos outros países europeus, os alemães acomodaram-se em matéria de segurança a viver sob proteção americana, investindo pouco dinheiro na área da defesa.

A Alemanha gasta com as suas forças armadas apenas 1,2% do PIB, quando a meta da NATO são 2%. A Alemanha não dispõe de um único submarino operacional, dos 89 jatos da sua força aérea só 39 conseguem voar e dos 119 tanques Leopard apenas metade funciona. Esta debilidade militar não permite a afirmação militar alemã, algo que a falta de empenhamento de Trump na NATO torna perigosa.

Ora, sem uma defesa militar credível não existe política externa digna desse nome.