“Comparar lei dinamarquesa com medidas nazis é um insulto às vítimas do Holocausto”
27-01-2016 - 16:35
 • Filipe d'Avillez , em Bruxelas

Num discurso emocionado para assinalar o Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto, o presidente do Parlamento Europeu lamentou que haja na instituição quem negue os crimes dos nazis e quem fale de refugiados como “escumalha humana”.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, rejeita que se compare leis contra os refugiados, incluindo a que foi aprovada esta semana na Dinamarca, que visa confiscar bens acima de um certo valor para ajudar a financiar os custos da integração dos refugiados, com medidas levadas a cabo pelos nazis contra os judeus.

A comparação nazi tem sido usada por muitos críticos da lei dinamarquesa, recordando a forma como os soldados alemães confiscavam os bens dos judeus a caminho dos campos de concentração, mas o alemão Martin Schulz diz que, embora não goste da lei, a comparação é ofensiva para as vítimas do Holocausto.

“Sou completamente contra esse tipo de discurso político. Em primeiro lugar, uma lei controversa como a que foi aprovada por um parlamento democraticamente eleito como é o dinamarquês não é o que eu quero ver, mas é uma realidade democrática e foi alterada, melhorada e influenciada desde o início até ser aprovada. Isto é um processo democrático. Pode-se ser a favor ou contra a lei, mas reduzir o crime singular que hoje recordamos a eventos como este é um insulto às vítimas que sofreram e é por isso absolutamente inapropriado”, disse Schultz, em resposta a uma pergunta da Renascença, à margem de uma cerimónia pelo Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto, no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Durante a cerimónia, o presidente daquela instituição recordou que, sendo alemão, nascido em 1955, a memória do Holocausto foi uma das coisas que o levou a querer abraçar a política. Schulz lamentou que o anti-semitismo esteja de novo a marcar presença na Europa.

“Vejo como um dom precioso que haja agora mais de 100 mil judeus a viver na Alemanha, para mim é um milagre. Mas custa-me ver que hoje, na Europa, os judeus voltem a temer pelas suas vidas, que se questionem sobre a segurança de ir à sinagoga ou a uma loja judaica. Fico profundamente triste pelo facto de alguns questionarem se podem educar os seus filhos na Europa”, diz. "A vida judaica faz parte da nossa cultura e da nossa identidade. Sem os judeus a Europa não será a Europa."

"Há quem não tenha aprendido as lições do passado"

Depois, num momento em que ficou visivelmente emocionado, Schulz lamentou a presença desse mesmo anti-semitismo na instituição a que preside.

“Para nossa vergonha, há quem não tenha aprendido as lições do passado. Alguns negam que o Holocausto tenha acontecido, tentam convencer-nos que a dor e a perda infligida às vítimas são ilusões e mentiras. O que me enfurece é que essas pessoas têm lugar neste parlamento. Os negacionistas são eleitos para o Parlamento Europeu e estão aqui – e digo isto no dia da memória do Holocausto – a falar sobre as crianças nas praias da Europa como sendo escumalha humana”, afirmou.

Depois, voltando-se para os muitos judeus presentes na sala, incluindo alguns sobreviventes do Holocausto, garantiu: “Não permitiremos que vos tornem estrangeiros nos vossos próprios países!”.

A oradora principal desta cerimónia foi a filósofa judia de origem húngara Agnes Heller, que sobreviveu ao Holocausto mas cujo pai morreu nos campos de concentração. No final foram homenageados alguns sobreviventes do Holocausto e um cantor judeu recitou o Kadish, uma oração pelos mortos, ao qual se seguiu um minuto de silêncio.